27/09/2019 - 7:31
Com causa indefinida até o momento, uma mancha de petróleo cru de um tipo que não é produzido no Brasil já atingiu mais de 2 mil quilômetros do litoral do Nordeste. As manchas do óleo despejado no mar já atingiram 105 praias de 48 municípios em oito Estados e se aproximavam do Pará, na Região Norte do País, na tarde desta quinta-feira, 26. O poluente afeta a fauna e causa um desastre ambiental de consequências ainda não totalmente avaliadas.
A coordenadora de Emergências Ambientais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Fernanda Pirillo, afirmou tratar-se de um acidente sem precedente no Brasil, por causa da grande extensão. O Ibama diz que o composto não é fabricado no Brasil, com base em análise da Petrobras.
Constatou-se até agora a morte de seis tartarugas-marinhas – outras três sobreviveram – e uma ave, mas a fauna atingida pode ser maior. Conforme a bióloga Liana Queiroz, do Instituto Verde Luz, um boto foi achado morto na Praia de Iracema, em Fortaleza, e muitas tartarugas com vestígios de óleo acabaram devolvidas ao mar. Liana citou a hipótese de que o óleo seja proveniente de depósitos de petróleo cru atingidos pelo furacão Dorian nas Bahamas.
Já o professor Marcus Silva, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), acredita que o óleo seja proveniente de lavagem de tanques de navios no oceano, em ponto distante da costa. “Nesta época, o vento flui do sudeste para noroeste e pode estar empurrando as manchas do mar para a terra. Acho muito improvável que o óleo tenha vindo das Bahamas ou de outro local daquela região, pois o padrão de circulação dos ventos não favorece esse deslocamento.”
Além disso, dois barris de óleo foram encontrados na costa sergipana, o primeiro em uma praia no município da Barra dos Coqueiros, litoral norte, e o outro na Praia Formosa, na zona sul da capital. Uma força-tarefa com equipes de meio ambiente locais, Ibama e Marinha monitoram a costa. O barril encontrado na barra estava aberto e a suspeita inicial é de que não tenha sido trazido pelo mar, mas sim colocado ali.
Se o responsável por qualquer despejo for identificado, mesmo que seja estrangeiro, poderá ser multado em até R$ 50 milhões, com base na Lei 9.605/1988, que pune condutas lesivas ao meio ambiente. Terá, ainda, de responder pelo crime ambiental.
As primeiras manchas foram identificadas no dia 2 e continuam sob investigação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão do governo federal, e da Marinha. Conforme o Ibama, a substância se trata de hidrocarboneto. O órgão está recolhendo amostras, assim como a Marinha. Após sobrevoo pelo litoral por cinco horas nesta quinta, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Ceará informou que não identificou mais manchas de óleo em uma faixa de até 12 quilômetros da costa. Mas os registros na área do Maranhão aumentaram.
Já o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema) informou que a coleta do produto deve ser feita com ferramentas específicas para evitar contato com banhistas. A medida é “preventiva contra irritações e processos alérgicos”, especialmente na superfície da mão, nos olhos e na boca. Conforme o Ibama, até esta quinta não havia evidências de contaminação de peixes e crustáceos, mas a orientação é para que a qualidade do pescado capturado nas áreas afetadas para fins de consumo humano seja avaliada pelo órgão de vigilância sanitária.
Para a professora Mônica Costa, do Departamento de Oceanografia da UFPE, a melhor solução é manter distância do produto, isolando as praias até que se consigam informações mais completas sobre a substância. “A fim de preservar a vida e a saúde das pessoas, é importante não tomar banho, pescar ou comer nas praias afetadas”, diz. A Petrobras descartou a hipótese de a substância ter sido produzida ou comercializada pela companhia, mas afirmou que está cooperando para a limpeza das praias. Em nota, o Ibama ressaltou que mais de cem pessoas trabalham na limpeza dos pontos.
Turismo
O óleo mancha cartões-postais do Nordeste, como a Praia do Futuro, no Ceará, e Maragogi, em Alagoas, e deixa o setor turístico em alerta. “Como atrair visitantes para uma região que está sendo afetada por uma substância química?”, indagou o presidente da Associação Brasileira de Turismólogos e Profissionais do Turismo, Elzário Pereira. Já a CVC, uma das principais operadoras do País, informou que seu Centro de Controle Operacional não registrou queixas e destacou que consequências como cancelamentos só devem ocorrer a médio prazo. Na mesma linha foram órgãos públicos de turismo consultados pela reportagem em Pernambuco, Maranhão e Sergipe.
No entanto, Marcos Barbosa, proprietário de um restaurante de Pirambu, em Sergipe, onde o óleo chegou nesta semana, já vê problemas. “Desde quando começou a aparecer a mancha, reduziu em 70% o fluxo de turistas.” Funcionária de um hotel na Barra de São Miguel, na Grande Maceió, outra área afetada, Deyse Marinho indica que a insatisfação de clientes cresceu após ida às praias. “Mas a expectativa é de que esse tipo de acidente não ocorra mais e sejam sanados os problemas.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.