Mathias Mangels tinha tudo para se tornar um capitão-de-indústria. Integrante da terceira geração da família que controla a Mangels Industrial, seu destino era ocupar a cadeira de presidente do conglomerado fundado pelo avô Max, em 1928, e cuja receita anual soma R$ 672 milhões. Comandar a fabricante de autopeças, porém, nunca fez parte de seus planos. Seu sonho era construir uma carreira internacional, bem longe do ninho. Aos 51 anos, Mangels pode dizer que chegou lá. É que o brasileiro acaba de assumir a vice-presidência mundial da Palladium ? holding de firmas de consultoria controlada por David Norton e Robert Kaplan, famosos gurus da prestigiosa Harvard Business School. Eles são os criadores do Balanced Scorecard, a ferramenta de gestão usada por nove entre dez grandes empresas do planeta (leia quadro ao lado). Especializado na implantação de técnicas de planejamento estratégico e treinamento de executivos dos segmentos público e privado, o grupo tem seus tentáculos espalhados por 21 países. Sua fornida carteira de clientes inclui potências do porte de BMW, PepsiCo, Siemens, Pemex e Telefonica. ?É o maior desafio da minha carreira?, diz Mangels.

De seu escritório em Londres (Inglaterra), o executivo vai coordenar as operações da Palladium em todos os cantos do planeta, à exceção dos Estados Unidos. Sua missão é viabilizar a meta de elevar para US$ 200 milhões, até 2009, o faturamento da holding que hoje está em US$ 70 milhões. Sem dúvida, uma tarefa hercúlea e que exigirá que Mangels adote uma rotina digna de um globetrotter. ?Vou passar cinco dias por mês na capital inglesa, outros cinco dias no Brasil e o restante viajando pelos demais países em busca de oportunidades de negócio?, conta. O convite veio após o bem-sucedido trabalho de expansão das fronteiras do grupo na América Latina e na Europa Oriental, feito a pedido da dupla Kaplan e Norton. Mangels e seus sócios na consultoria Symnetics conheceram os gurus por acaso durante um evento em Hannover (Alemanha), em 1994.

Esse encontro mudou a vida de Mangels, que havia abandonado o emprego de engenheiro mecânico na gigante suíço-sueca ABB para se tornar consultor. No mesmo dia eles assinaram acordo de exclusividade para o uso do sistema Balanced Scorecard na América Latina. Foi o bastante para que a pequena Symnetics, nascida em 1989, conseguisse cavar espaço entre as companhias de grande porte no Brasil (Petrobras, Grupo Suzano, Amanco e Grupo Ultra, por exemplo), na Colômbia (a cooperativa Café de Colombia) e no México (Volkswagen), por exemplo. A lista inclui ainda os governos do México (na gestão de Vicente Fox) e da Colômbia (sob o comando de Alvaro Uribe).

O sucesso é fruto de uma espécie de ?tropicalização? do modelo inventado pelos americanos. Em vez de vender apenas pacotes completos de treinamento (que podem custar até R$ 1 milhão), Mangels dividiu o programa em módulos e passou a fornecer cursos à distância. Com isso, ele pode atrair as empresas de médio porte para sua consultoria. Para ajudar na popularização do Balanced Scorecard, ele apostou também na publicação de livros ? escritos pela dupla Kaplan-Norton e pelos consultores da Symnetics. Até agora foram comercializados 62 mil exemplares, marca expressiva para esse tipo de obra. Hoje, o modelo Mangels é adotado pelas demais consultorias do grupo. Pelo visto, ele fez a escolha certa.

O QUE É O BALANCED SCORECARD

É uma ferramenta de gestão que permite às organizações definir as metas de crescimento, baseadas em estratégias sustentáveis. Para cada objetivo existe um indicador. Dessa forma, pode-se checar se cada departamento, ou funcionário, está no caminho correto para atingir os objetivos propostos.