06/04/2001 - 7:00
Com a mesma voracidade com que mutilam operários elas cortam lucros e produtividade. São as máquinas obsoletas, cujo ranking das nove mais perigosas acaba de ser traçado por pesquisadores de segurança e saúde do trabalho em um estudo encomendado pelo Ministério da Previdência, ao qual DINHEIRO teve acesso. Esses equipamentos são responsáveis por cerca de 25% dos acidentes de trabalho graves ou fatais registrados no País todos os anos. O prejuízo anual para o governo e às empresas chega a R$ 20 bilhões. Por ordem de ocorrência de acidentes, as máquinas mais violentas do parque industrial brasileiro são prensas, serras circulares, desempenadeiras, injetoras de plástico, guilhotinas, calandras e cilindros, motoserras, impressoras e descortiçadeiras. ?Uma combinação de fatores torna essas máquinas potencialmente perigosas?, explica o professor René Mendes, coordenador do ranking patrocinado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). ?A maioria tem tecnologia ultrapassada, dispositivos mínimos de segurança e é usada de modo incorreto?.
Comprá-las é fácil. Em São Paulo, no bairro do Brás, há um centro comercial de equipamentos usados. Ali, vendem-se máquinas feitas até 50 anos atrás. Poucas têm dispositivos de segurança. Destinam-se, basicamente, a pequenas e médias empresas dos setores metalúrgico, químico, moveleiro e de construção civil, que absorvem encomendas de produtos cujo modo de fabricação é mais pesado, perigoso e poluente. O fenômeno da terceirização praticado por grandes indústrias multinacionais, como montadoras de veículos, acentuou esta tendência. Os elementos de segurança costumam onerar o preço da máquina em até 10%. Alguns comerciantes têm se especializado na venda de equipamentos recuperados. ?Meus produtos são todos restaurados?, garante Miguel Campi, 42 anos, que há 18 anos atua no ramo.
O problema da segurança nas máquinas não se restringe às velhas. Existem novas que continuam sendo produzidas com a mesma tecnologia das antigas e oferecem os mesmos riscos que os modelos de segunda mão. Não têm sequer a garantia de que virão com dispositivos de segurança, pois muitas fábricas as vendem como opcionais. A reportagem de DINHEIRO procurou a Coupé, uma das maiores fabricantes de equipamentos industriais do País, e descobriu que as prensas mecânicas são vendidas só com uma barra de segurança. Outros mecanismos de proteção só são instalados a pedido do freguês.
As prensas mecânicas, pelo estudo em poder do Ministério da Previdência, são as grandes vilãs dos trabalhadores. Estiveram envolvidas em 42% dos casos de esmagamento de dedos ou mãos e de 36% que resultaram em amputação desses membros. Dos quatro modelos de prensa, a mais perigosa é a ?excêntrica?. Seus riscos são acentuados pela velocidade da descida do martelo, que pode ser acionado acidentalmente. Ao lado da injetora plástica, a prensa motivou até acordos trabalhistas em que empregados, empregadores e fabricantes concordaram em elevar os dispositivos de segurança. Motosserras e cilindros também mereceram normas especiais para mecanismos de proteção. As outras máquinas do ranking obedecem apenas uma regra geral que restringe o acesso às partes perigosas aos operadores. O estudo do PNUD aprofunda os conhecimentos dos riscos e orienta governo, empresários e trabalhadores na prevenção de acidentes.