22/09/2000 - 7:00
Em meio ao maracatu, ao frevo e ao xaxado, começa a despontar mais um candidato a Vale do Silício brasileiro. Governo estadual, institutos de pesquisa e iniciativa privada se uniram para criar em Recife (PE), até 2002, um dos maiores pólos de tecnologia da informação do País. Batizado de Porto Digital, o projeto prevê a instalação de mais de cem empresas, incubadoras, centros de estudos, além da própria sede da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado, na região do antigo porto pernambucano. Com o começo das operações do Porto de Suape, na cidade do Cabo, a 55 quilômetros da Capital, o tradicional porto reduziu seu movimento em mais da metade. Portanto, vários armazéns e algumas edificações históricas, como a da Capitania dos Portos, ficaram às moscas, abrindo espaço para os representantes do novo pólo. Para não deixar de ter um quê de modernidade, um prédio inteligente está sendo erguido no local. Essa construção e as demais serão conectadas por um anel de fibra óptica que agilizará a comunicação entre as companhias. ?Queremos dar visibilidade às empresas locais, promover parcerias e transformar Pernambuco num centro exportador de tecnologia?, diz o secretário Cláudio Marinho.
Para tocar o empreendimento, o governo já reservou R$ 33 milhões. Também está criando fundos de investimento para empresas e injetando recursos nas instituições de pesquisa envolvidas no projeto. Além das representantes locais, está sendo negociada a participação de companhias do calibre da Microsoft, SAP, IBM e People Soft. ?O projeto é arretado?, diz Sivio Meira, presidente do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar).
Há mais de cinco anos, a terra que formou Castro Alves e Joaquim Nabuco vem ganhando posição de destaque como centro produtor de tecnologia da informação. José Cláudio de Oliveira, diretor da empresa Procenge, que já reservou seu lugar no Porto Digital, tem uma boa explicação para o fenômeno: a vocação pernambucana para prestação de serviços. ?Procuramos nos destacar com a boa qualidade de nossos trabalhos técnicos e científicos.? A preocupação com o desenvolvimento do capital humano é outra razão para o impulso tecnológico vivido pela terra do frevo, na opinião de Meira, do Cesar. Essa instituição, criada no início dos anos 90, permitiu aliar à formação acadêmica um projeto para desenvolvimento de empresas. ?Passamos a gerar negócios e, assim, pudemos manter aqui os melhores profissionais e desenvolver tecnologias para competir no País.? Hoje, o Estado conta com 350 empresas especializadas em software, hardware, Internet, telecomunicações.
Caldeirão. No ano passado, as vendas das empresas de informática totalizaram R$ 130 milhões. ?O crescimento médio de faturamento vem sendo de 8% ao ano?, festeja Fábio Silva, presidente do Instituto Tecnológico do Estado do Pernambuco (Itep). O sucesso está estampado ainda no desempenho de companhias como o Radix, que já está garantindo espaço no Porto Digital. Incubado dentro do Cesar em 1999, o projeto de criação de um site de busca com tecnologia nacional ganhou a adesão do fundo de investimentos Opportunity, que desembolsou R$ 25 milhões por 80% de participação. O restante ficou nas mãos do próprio Cesar e de ex-alunos da Universidade Federal. Em oito meses, o Radix comemora um faturamento mensal de R$ 600 mil. ?Com o novo pólo, poderemos multiplicar por dez a receita?, diz o diretor Fernando Sodré. Quem também prepara as malas para o Porto Digital é a Informa Soft, especializada em softwares. ?O projeto é um caldeirão de empresas que querem ganhar o mundo?, afirma Silva, do Itep.