21/02/2020 - 14:01
As datas comemorativas sempre oferecem oportunidades para as empresas realizarem ativação da marca. Algumas aproveitam ainda o apelo da sustentabilidade para ter mais aceitação da população, como é o caso dos organizadores do Carnaval no Parque, em Brasília (DF). “Esse movimento é sobre ativismo, mas também é sobre empresas privadas, que visam lucro, mas que incorporam essa mentalidade e criam um bom relacionamento com o público”, afirma o diretor de sustentabilidade do projeto brasiliense, Francisco Nilson Moreira.
Para o professor e coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS), Marcus Nakagawa, é extremamente importante que grandes empresas promovam ações de sustentabilidade principalmente durante eventos como o Carnaval. “Em festas com essa proporção, o lixo é um dos principais vilões. Criar um movimento que possa reduzir o impacto desses resíduos é muito benéfico para o meio ambiente”, analisa.
De acordo com uma pesquisa de tendências para eventos em 2020 da Eventbrite, 68% dos organizadores se preocupam com a sustentabilidade. Esse grupo entende que é necessário adotar medidas para que o impacto de suas ações seja menor no meio ambiente. Disponibilizar materiais reutilizáveis ou biodegradáveis, nas seções de alimentação e bar dos eventos, é a preocupação mais citada, por 62% dos entrevistados.
Esse tipo de ação também entra na lista de empresas ‘do bem’ para as pessoas, conforme análise em relatório sobre o novo consumidor da KPMG. Mas a situação é delicada, pois o julgamento pode ser positivo ou negativo, já que se o indivíduo se sentir enganado, ele tomará atitudes contra a marca. “O usuário é capaz de premiar ou punir as empresas conforme sua adequação ou não às novas exigências de demanda, como, por exemplo, um modelo de consumo mais humano, ecológico e inclusivo”, aponta o documento.
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A expectativa é receber 100 mil pessoas nos 8 dias do Carnaval no Parque. Neste ano, o objetivo é ter uma taxa acima de 95% de reaproveitamento de resíduos. Em 2019, a organização registrou 93,3% de reciclagem dos objetos descartados pelo público, com apenas 6,7% destinado para o aterro sanitário.
Entre as iniciativas do evento para reduzir o impacto está a utilização do Copo Eco, que deve evitar o consumo de 500 mil copos descartáveis. A festa tem o selo de Carnaval Lixo Zero, certificado pelo Instituto Lixo Zero Brasil, representante da Zero Waste International Alliance no País.
“Nosso objetivo era levar o Carnaval para a cidade, que historicamente exportava foliões para outros lugares, com um evento que pensasse no meio ambiente”, explica Moreira. Agora, a projeção é atrair 10 mil turistas, que movimentarão, aproximadamente, R$ 3,5 milhões.
Patrocinadora oficial do Carnaval em São Paulo, a Ambev fará uma ativação por meio de sua marca Skol. Vai usar um avião com uma tecnologia natural, a base de água, para bombardear nuvens e antecipar as chuvas sobre as represas do Sistema Cantareira. Segundo a Sabesp, ontem, o manancial operava com apenas 54,2% do seu volume operacional.
A ação acontece entre os dias 21 e 26 de fevereiro. A técnica já foi praticada no Sistema Cantareira e em mais de 20 projetos para agricultura no Brasil.
O diretor da marca, Pedro Adamy, cita que o objetivo é “apresentar uma solução para quem quer aproveitar o Carnaval com muito sol e ao mesmo tempo ajudar o meio ambiente”. Mas o resultado, se sair como planejado, obviamente, contribuirá para que os vendedores oficiais da marca, em meio aos foliões, comercializem bem mais nos bloquinhos com dias ensolarados.
A Ambev criou um vídeo para promover a ação e explicar a operação aérea:
https://www.youtube.com/watch?v=tKBRrmfc01g&feature=youtu.be
Além da campanha da Skol, a Ambev se uniu à Associação Nacional de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (ANCAT), com a agência MAP, com a Boomerang e com as prefeituras para recolher o lixo dos principais blocos de rua de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte (MG), Salvador (BA) e Recife (PE). O objetivo é reciclar todos os resíduos coletados e com parte deles produzir lixeiras para serem instaladas nessas cidades.
Recentemente, a PepsiCo anunciou um compromisso de tornar todas as suas embalagens recicláveis ou biodegradáveis até 2025. A empresa vai aproveitar o Carnaval para conscientizar os usuários, por meio das redes sociais, a descartar corretamente o plástico de suas embalagens.
Com uma sequência de publicações, divulgadas a partir do dia 22 de fevereiro, a companhia irá abordar ainda o impacto do lixo na contaminação do solo e da água e o prejuízo do descarte incorreto à fauna e à flora.
A Ingresse, por sua vez, desenvolveu a ação “Ingresse carnavou em Caraíva”, comunidade litorânea de Porto Seguro (BA). Ela consiste em uma parceria entre a marca e a comissão de organização da festa e tem o objetivo de alavancar as experiências na vila promovendo atitudes sócio ambientais.
No circuito dos blocos, mensagens com dicas para a preservação do meio ambiente serão pintadas à mão, além de lixeiras decoradas. Nas pousadas, a Ingresse distribuirá kits com protetores, snacks, cachaça e eco glitter.
A Mondelez também desenvolveu uma ação voltada para a sustentabilidade com sua marca Trident, patrocinadora do Bloco A Favorita, que ocorreu no último domingo (15) na cidade de São Paulo. Foram recolhidos 6,1 mil litros de lixo das vias públicas em que o cortejo passou. Os resíduos foram encaminhados para uma cooperativa de catadores.
Impacto positivo
Outro ponto destacado por Nakagawa, da ESPM, é que essas ações, para serem efetivas, precisam de parceiros certificados para a coleta e tratamento dos resíduos. Além do cuidado com o lixo, o especialista diz que o impacto dos trios elétricos e caminhões que fazem parte da festa também precisam ser contidos.
O movimento de eco copos e eco gliter também é um caminho, na visão do professor. No entanto, para ele, há questões com mais impacto que pedem uma atenção mais urgente.
“Precisamos pensar no diesel que esses caminhões consomem, na energia elétrica, em diversos aspectos da festa. Mas, esse foco na reciclagem, por exemplo, já é muito importante. A edução ambiental promovida por campanhas em redes sociais também gera impacto. Acredito que quanto mais grandes empresas se preocuparem com esse movimento, mais força ele terá”, finaliza Nakagawa.