Membros da classe política alemã cobraram punições contra ativistas radicais islâmicos que saíram às ruas de Hamburgo para pedir instauração de “califado” no país.Membros da classe política da Alemanha pediram punições para radicais islâmicos que participaram de uma manifestação em Hamburgo no último fim de semana. Na ocasião, alguns participantes exibiram cartazes pedindo a instauração de um “califado” e a imposição da sharia (lei islâmica) na Alemanha.

A marcha foi convocada por um grupo chamado Muslim Interactiv, que é classificado como extremista pelo Departamento de Proteção da Constituição de Hamburgo, o serviço de inteligência local.

Nesta quarta-feira (01/05), o deputado Alexander Dobrindt, que lidera a bancada da conservadora União Social Cristã (CSU) no Parlamento da Alemanha, disse que ativistas como os que participaram da manifestação em Hamburgo deveriam enfrentar consequências legais e até perder a cidadania alemã.

“Qualquer um que queira introduzir a Sharia [lei islâmica rigorosa] na Alemanha e declarar um califado é um inimigo da nossa democracia”, disse Dobrindt, cujo partido faz oposição à coalizão governista do chanceler federal Olaf Scholz.

“O Estado deve enfrentá-los com consistência e rigor”, disse ele.

Dobrindt ainda exigiu penas de prisão para os “extremistas do califado”, bem como o cancelamento de benefícios sociais, a perda de autorizações de residência ou de dupla cidadania e a proibição de todas as organizações que queiram estabelecer um califado na Alemanha. “Na Alemanha, aplica-se o seguinte: o Estado de Direito, não a teocracia.”

O que os outros políticos disseram?

Já a ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, pediu à polícia que investigasse vigorosamente qualquer crime cometido durante a manifestação. “Nada de propaganda terrorista para o Hamas, nada de discurso de ódio dirigido aos judeus”, disse Faeser, que é filiada ao Partido Social-Democrata (SPD), a mesma legenda de Scholz. “Se crimes como esse ocorrerem, deve haver uma intervenção imediata e vigorosa nas manifestações.”

O chanceler federal Scholz, que já foi prefeito de Hamburgo, já havia defendido investigações em declaração divulgadas na segunda-feira (29/04).

“Todas as atividades islamistas que estão ocorrendo devem ser tratadas usando as possibilidades e opções disponíveis para nós sob o Estado de Direito”, disse Scholz.

O Ministro da Economia da Alemanha, o verde Robert Habeck, acusou a manifestação de questionar os princípios do Estado alemão. “Essa é uma manifestação que não se baseia na Constituição”, disse Habeck, que também é vice-chanceler da Alemanha.

O Ministro Federal da Justiça, o liberal Marco Buschmann, também comentou sobre a manifestação e escreveu na rede X na segunda-feira: “Qualquer pessoa que prefira um califado ao Estado da Lei Básica (Constituição alemã) é livre para emigrar”.

O secretário do Interior de Hamburgo, Andy Grote (SPD), por sua vez, disse: “Tal desfaçatez por parte de islamitas é insuportável e me causa repúdio”.

Como foi a manifestação?

A polícia disse que cerca de 1.100 pessoas participaram da manifestação em Hamburgo no último sábado (27/04). A marcha foi convocada por indivíduos com vínculos com a cena islâmica fundamentalista da região.

O pretexto inicial da manifestação – que recebeu inicialmente autorização das autoridades locais – foi reunir participantes para protestar contra supostas políticas islamofóbicas contra os muçulmanos na Alemanha. Mas durante a marcha vários participantes exibiram atitudes extremistas.

Oradores acusaram políticos alemães e a imprensa do país de propagarem “mentiras deslavadas” e “reportagens covardes” que supostamente rotularam todos os muçulmanos na Alemanha como radicais, tendo como pano de fundo a guerra de Israel contra o grupo Hamas em Gaza.

Mas, em meio à manifestação, era possível ver participantes exibindo cartazes com mensagens como “Alemanha: uma ditadura de valores” e “O califado é a solução”. Alguns oradores também defenderam a instauração de um “califado”.

Apesar disso, a manifestação, acompanhada por uma forte presença policial, transcorreu sem incidentes violentos.

Pelas leis alemãs, um banimento prévio desse tipo de manifestação apresenta complicações jurídicas, já que o Tribunal Constitucional Federal da Alemanha já deixou claro no passado que a Lei Básica alemã também concede liberdade de reunião aos “inimigos da liberdade”, desde que as manifestações não envolvam uma “atitude agressiva e combativa”.

De acordo com informações do Departamento de Proteção da Constituição (BfV) de Hamburgo, os responsáveis por solicitarem a autorização de registro da manifestação são próximas ao grupo Muslim Interactive, que é classificado como extremista.

O chefe de polícia de Hamburgo, Falk Schnabel, disse que os cartazes individuais serão examinados para apurar possíveis infrações criminais e afirmou que inicialmente não era possível banir a manifestação antecipadamente. ”É necessário que haja provas concretas de que ocorrerão crimes durante a manifestação.”

jps (DW, dpa, ots)