05/09/2025 - 9:00
Apesar do discurso de justiça social usado pelo governo para promover mudanças no campo tributário – como a reforma tributária ou do Imposto de Renda -, a desigualdade pode ser inclusive ampliada por esse tipo de política, avalia Marcos Lisboa.
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O economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário do Ministério da Fazenda, frisa que o Brasil tem ‘mirado em um alvo e acertado outro’, ampliando a desigualdade em vez de atenuá-la ao implementar reformas que são mal desenhadas.
Ao Dinheiro Entrevista, defende que a fonte de parte dos problemas é a narrativa do ‘nós contra eles’.
“Eu acho que nessa tentativa de ter sempre uma coisa meio ‘eu sou do bem, você é do mal’, ou ‘eu estou defendendo os pobres, você defende os ricos’, acaba se fazendo tudo errado. É impressionante como essas falácias dominam e as pessoas saem dando palpite sem gastar dez minutos estudando o assunto. Na reforma do IVA foi igual. Às vezes era lobby, grupo de interesses. Às vezes a pessoa não fazia ideia que estava falando. Ela queria fazer quimioterapia para tratar uma perna quebrada.”
Ao dialogar sobre questões sobre as definições de faixa de renda – usadas para nortear políticas como a própria reforma do Imposto de Renda -, Lisboa avalia que dentro do debate ‘se esquece que o Brasil é um país pobre’.
“Estamos meio no grupo de renda média do mundo. São 200 países e a gente está lá no meio. A gente esquece que o Brasil é um país pobre. O Chile é duas vezes mais rico que o Brasil. Portugal é muito mais rico que o Brasil. Essa é a má notícia. Agora, nós estamos empobrecendo em relação ao resto do mundo exatamente porque a gente conduz as conversas desta maneira, sem entender o que de fato está sendo discutido”, avalia.
“Quer discutir progressividade do imposto de renda? Fantástico. Vamos dizer que para cada nível de renda familiar, quanto tem que ser alíquota? Tirou isso da frente, agora como é que eu ponho isso de pé? Só que as pessoas inventam soluções mágicas, acham que acertaram Maria mas acabaram de matar João”, completa.
Desigualdade e a falsa noção de classe média
O economista comenta que o conceito do brasileiro sobre classe média ainda é ‘meio coisa de filme americano’, e fortemente calcada em questões mais sociais do que econômicas.
“O conceito da sociologia do que é classe média….você está falando dos 2% mais ricos do Brasil, em geral até 1% mais rico do Brasil. O problema não é esse, não é definir a faixa de renda”, diz.
“O problema é você definir a faixa de renda e dizer que o cara de R$ 100 mil vai pagar tanto de imposto, e vai ter um cara que ganha R$ 5 milhões e vai pagar muito menos que o cara de R$ 100 mil. Se bobear, [paga] menos do que o cara de R$ 10 mil. Se você não desenhar tecnicamente bem feito, você vai deixar de fora o cara que ganha milhões e vai colocar na conta do cara que que ganha R$ 25 mil ou R$ 30 mil”, conclui.