Aos 63 anos, Maria está mais jovem do que nunca. A lusitana de meia-idade com jeito de matrona deu lugar a uma bela gaja. A silhueta esbelta indica que ela passou recentemente por uma lipoescultura radical. Do passado só restaram o vestido e o lenço vermelhos. A Maria em questão não é de carne e osso, mas a figura que estampa o rótulo do mais famoso óleo composto (feito de soja e oliva) do País. A força da personagem junto às donas de casa é tamanha que a fabricante Vida Alimentos decidiu ?tirá-la da lata? e transformá-la numa poderosa ?marca guarda-chuva?, que abrigará diversos produtos sob seu nome. O curioso é que, apesar de sua força e prestígio, Maria quase morreu em 1997. Na época, sua dona, a JB Duarte, faliu. Mas, antes da quebra total, Maria foi salva por um dos credores, o esmagador de soja Adolfo Timm. Em troca da dívida, ele topou ficar com 20 marcas e as máquinas da empresa e também arrendou a única fábrica, em São Paulo. Então associou-se ao fundo de investimentos Sterling Lake, das Ilhas Virgens, investiu US$ 10 milhões e começou a tirar do papel seu sonho de ser um gigante do setor de alimentos.

E parece que ele está conseguindo. A companhia cresce mais de 10% por ano e fechou 2004 com receita de R$ 130 milhões, 15% sobre 2003 e duas vezes mais do que há cinco anos. É para continuar nessa trilha que Timm decidiu aumentar a visibilidade da marca, sacando a portuguesinha da lata. ?Maria tem credibilidade culinária para ser usada em outros produtos?, garante o empresário. A diversificação começou com uma linha de maionese. Lançada aos leões numa arena dominada pela Helmann?s, da Unilever, ela surpreendeu: ?Conseguimos 3,5% desse segmento em dois anos?, celebra Timm. Até o final do semestre chegarão às gôndolas os temperos em pasta com a assinatura Maria. O plano inclui ainda uma linha de alimentos funcionais ? aqueles com substâncias que melhoram o metabolismo corporal, como o Ômega 3.

Maria é, sem dúvida, um fenômeno. Dona de uma fatia de 65% do setor de óleos compostos, ela colabora com 30% das vendas da Vida Alimentos. O restante está dividido entre margarinas (40%) e azeites importados (20%). A ?cirurgia plástica? de US$ 1 milhão não se resumiu ao logotipo. A tradicional embalagem retangular do óleo Maria virou uma lata oval, sofisticada e mais anatômica, desenvolvida em parceria com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Ganhou também uma versão tetra pak em miniatura, com 120 mililitros e que custa R$ 1 ? é destinada aos solteiros e consumidores de menor poder aquisitivo. Por outro lado, de olho nos endinheirados, Timm incluiu no portfólio azeites com selo de origem, importados da Espanha e da Itália, como o Reserva D?Oro, vendido por R$ 22. ?Daqui para a frente vamos concentrar nossas apostas em produtos de maior rentabilidade?, resume o empresário. Maria está mais viva do que nunca ? e atirando para todos os lados.

US$ 10 milhões foi o investimento feito pelo empresário
para levantar a empresa. Ela agora cresce 10% ao ano