05/05/2022 - 20:09
A Netflix atualmente é uma das maiores produtoras de conteúdo visual do mundo. Com 221,8 milhões de assinantes – teve uma perda recente de 200 mil e agora vai mudar estratégias de mercado -, produz não só filmes e séries, mas um novo filão da qual é líder: os documentários. Até 2025, especialistas estimam que o streaming vai gastar US$ 1,1 bilhão em produções desse tipo. E o mais novo sucesso é “O Mistério de Marilyn Monroe: Gravações Inéditas”, da diretora Emma Cooper, autora de outro sucesso maratonável na Netflix, “O Desaparecimento de Madeleine McCann”, sobre a menina inglesa desaparecida na costa de Portugal.
O que ainda existe para se saber do ícone sexual e figura única em Hollywood depois de 60 anos de sua morte? Bem, o que alguém minuciosamente investigou durante três anos na década de 80 e praticamente passou amarelando em páginas de um livro. “Goddess: The Secret Lives of Marilyn Monroe”, bestseller do respeitado jornalista investigativo inglês indicado ao Pulitzer Anthony Summers, é um daqueles livros cujo material de pesquisa em caixas, revisto por uma Netflix, dá jogo, muito jogo. E não sai barato para o canal – estima-se que deva ter pago algo em torno de US$ 1 milhão, já que tem como tema uma estrela imortal.
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Summers não é um autor qualquer, tem elogiados livros sobre o 11 de Setembro, Pearl Harbor, Nixon, os Kennedys, Frank Sinatra e tem um elogio de Norman Mailer que vale ouro: “Summers é um dos mais eficientes repórteres investigativos que existem atualmente”. Daí suas ditas 600 entrevistas para rever Marilyn Monroe ter aberto os olhos de Cooper: “Ele colocou suas fitas originais perfeitamente conservadas e catalogadas e de repente pensei: ‘Nossa, estamos dentro da investigação!” Com as fitas, a ideia de re-encenar com atores simulando os anos 80, belas imagens de arquivo e da cena final de Marilyn morta em sua cama, a Netflix percebeu a chance de revisar o que o público comum tem de memória da estrela.
O doc se vale de pessoas confiáveis e que conviveram com ela, como os diretores John Huston e Billy Wilder. Seu primeiro agente, Al Rosen, amigos íntimos. A mulher e filhos do último psiquiatra, Ralph Greenson, merecem um capítulo a parte, pois acolheram a estrela em sua casa até que se sentiram seguros em dizer para ela comprar uma para si. A família compartilhou com Summers até mesmo notas do profissional – Marilyn havia se separado do escritor Arthur Miller e ficou com eles até estar melhor psicologicamente. Também nas fitas está a empregada da atriz, Eunice Murray, que, oficialmente, a encontrou sem vida na cama. Outros entrevistados na década de 80 morreram ao longo dos anos, mas suas vozes foram preservadas.
O que o documentário traz para a luz da história é que alguns boatos sobre a vida de Marilyn simplesmente não eram boatos. Diversos entrevistados, além de arquivos do FBI, confirmaram a relação dela com J.F. Kennedy e seu irmão, Bob – e vinha de antes da eleição do primeiro à presidência. Os encontros aconteciam na casa do ator Peter Lawford, em Malibu, com diversas testemunhas – confiáveis, que disseram que muito provavelmente os irmãos Kennedy compartilharam ao mesmo tempo a cama com Marilyn, que estaria apaixonada por Bob. Detetives contratados na época foram gravados descrevendo como grampearam a casa da estrela e as conversas que aconteceram lá.
Além de descrever o estado emocional fragilizado da atriz, prestes a entrar em colapso, o documentário levanta uma discrepância suspeita e fora do autos do processo que investigou sua morte. Ao contrário de ter sido encontrada às 3 da madrugada pela empregada, o agente de Marilyn foi contatado e foi para a casa de Marilyn perto das 22h. Ela ainda estaria viva e foi colocada em uma ambulância, morrendo depois. O corpo foi levado de volta para casa e deixado na cama – e a partir daí a história seria a oficial. Summers falou com a empresa da ambulância e pessoas que a atenderam.
Summers não acredita na tese de assassinato, mas seus depoimentos gravados mostram que o corpo foi encontrado por outra pessoa – ou pessoas. A especulação seria q Lawford e Bob teriam encontrado o corpo. Para não complicar a vida política dos Kennedys, um novo cenário foi armado.
O documentário é o típico para se ver com uma janela de abertura para possibilidades extraoficiais, ajudado por vários depoimentos impressionantes.