02/02/2005 - 8:00
Dia desses uma cartinha singela emocionou a equipe da confecção catarinense Marisol, uma das grandes do setor têxtil no Brasil. Nela, uma garotinha de dez anos fala de sua felicidade por ter ganhado uma festa de aniversário com decoração baseada na Lilica Ripilica. A ratinha que estampa uma das linhas de roupa infantil da empresa estava nas paredes, no bolo, em tudo. Ao atentar para o remetente da carta, surpresa: Coimbra, Portugal. A emoção deu lugar à pergunta que levaria a empresa a descobrir novas oportunidades. ?Como conseguimos tanto reconhecimento sem nunca termos investido em marketing fora do País??, indagaram os executivos. Antes de encontrar a resposta, eles rascunharam um plano de internacionalização que começa a sair do papel. Nos próximos dois meses, a companhia abrirá um escritório comercial na Itália e as primeiras cinco lojas Lilica Ripilica: três na Itália e duas na Espanha.
Trata-se do passo mais audacioso dos 40 anos da Marisol para conquistar o mercado externo. Por trás da decisão de investir no varejo europeu (US$ 5 milhões no total) está a estratégia de fortalecer o nome da empresa para competir com os produtores locais e virar referência em moda infantil. ?Não queremos somente exportar nossos produtos. Isso nós já fazemos. E até fornecemos para grifes como Guess e Zara?, explica Giuliano Donini, diretor de marketing e filho do controlador da Marisol, Vicente Donini. As exportações respondem por 6,5% do faturamento, que foi de R$ 395 milhões em 2004. A meta é atingir 25% em 2010. ?O plano é alavancar a grife Lilica Ripilica e, assim, a imagem da Marisol. Vamos readequar a coleção, estruturar uma área de desenvolvimento fora do Brasil e investir em comunicação.?
Mas por que começar por Lilica Ripilica se a Marisol tem outras seis marcas (Tigor T. Tigre, Criativa, Mineral, Marisol, Worghon e Pakalolo)? A carta da menina portuguesa ajuda a responder. A ratinha é um fenômeno. Lançada em 1991, ela originou uma revista de 90 mil exemplares mensais, um site com 180 mil associadas e encorajou a empresa a explorar novos terrenos: o ramo de calçados e o varejo. Na fase A.L., ou ?antes de Lilica?, a fabricante catarinense era só isso: fabricante. Hoje, ela tem 88 lojas franqueadas da marca ? 78 no Brasil e dez no Oriente Médio ? e está se transformando numa gestora de grifes aberta a aquisições. No mês passado, a Pakalolo, sucesso dos anos 80, foi incorporada ao portfólio. Mas o carro-chefe é mesmo a Lilica, que, sozinha, representa 30% das vendas do grupo. Donini não esconde aonde quer chegar: transformar Lilica Ripilica na Hello Kitty tupiniquim. A venda dos produtos da gatinha japonesa movimenta US$ 500 milhões anuais no mundo todo.
Outro desdobramento do sucesso da roedora foi o rejuvenescimento da própria Marisol. A idade média de seus funcionários é de 23,5 anos. E o resultado desse ?sangue novo? pode ser visto na repercussão que a Marisol cria. Lilica Ripilica foi a única marca de roupas infantis que desfilou na edição 2005 do Fashion Rio. ?Temos um produto divertido sem ser infantilóide ou para adulto miniaturizado?, diz Donini, de 29 anos. ?Não é à toa que dominamos 15% da moda infantil no Brasil?, afirma o executivo, citando dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil, a Abit. ?Seremos maiores do que a Hello Kitty, atuando apenas no segmento de moda?, acredita. Assistiríamos, então, a uma caçada inédita: o rato que engoliu o gato.
R$ 395 milhões foi o faturamento da Marisol no ano passado
30% das vendas vêm da marca Lilica Ripilica