Apelidado em Wall Street de Bald Eagle (águia careca), o megainvestidor Mark Mobius, comandante da Frankling Templeton Investments, passa 250 dias por ano a bordo de um jato particular, percorrendo os países onde tem recursos aplicados. Sua preferência declarada são os mercados emergentes e, não por acaso, cerca de 40 carimbos em seu passaporte vêm de destinos distantes do circuito Estados Unidos?Europa Ocidental?Japão. No último dia 7, quando DINHEIRO tentou um primeiro contato para uma entrevista, Mobius estava em Praga. Três dias depois, ela foi concedida ? a partir de Singapura. Nos próximos meses, a figura milimetricamente calva do investidor, com seus indefectíveis ternos claros, será vista com mais freqüência em solo brasileiro. Mobius inaugura em agosto um escritório próprio em São Paulo, encerrando a parceria que mantinha com o Bradesco desde 1997. A perspectiva de queda das taxas de juros, aliada ao aumento do apetite dos investidores locais por aplicações mais arriscadas, influenciou a Templeton ? maior gestora de recursos do planeta, com ativos de US$ 500 bilhões ? a alçar vôo solo no Brasil. O grau de maturidade alcançado pela indústria de fundos também contribuiu, segundo Mobius, para o aumento do interesse da Templeton pelo mercado local ?Queremos repetir no Brasil o sucesso que estamos obtendo em outros mercados emergentes, como Índia e Coréia do Sul?, diz.

De olho no crescente mercado brasileiro de gestão de fortunas, a Templeton centrará seu foco, por aqui, na área de private banking. Os produtos e serviços que serão oferecidos ainda estão em fase de definição. Segundo Mobius, estão sendo avaliadas oportunidades nos segmentos de renda variável, multimercados e até crédito privado. Ações, definitivamente, estão na pauta. O investidor tem sob sua administração US$ 2,5 bilhões investidos em papéis de empresas brasileiras ? entre elas novatas da bolsa, como a Localiza e a Nossa Caixa. As recentes aberturas de capital na Bovespa têm feito com que Mobius monitore de perto as oportunidades de investimento no País. ?As ações que estão chegando na bolsa paulista representam uma boa oportunidade de diversificação?, diz.

Mobius entrou na Templeton em 1987. Hoje, aos 74 anos, dirige analistas em 11 escritórios da empresa espalhados pelo mundo. Escaldado pelas muitas crises que atravessou ? na de 1997, na Ásia, um de seus fundos perdeu 50% do patrimônio ?, ele costuma dizer que compra ações da mesma forma como os porcos-espinhos acasalam: com extremo cuidado. No Brasil, seus setores preferidos são recursos naturais (como siderurgia e mineração), consumo, alimentos e empresas exportadoras. Ativos como estes certamente farão parte das carteiras dos fundos geridos pelo escritório da Templeton no País.

E a concorrência local, o que pensa da chegada do gestor alemão que o mundo todo toma por americano? ?O aumento da competição é um incentivo para sermos ainda mais eficientes?, diz Fábio Alperowitch, sócio da Fama Investimentos. Robert van Dijk, diretor superintendente da Bradesco Asset Management, concorda. ?A Templeton será um player de peso no mercado e nos motivará a investir ainda mais em pessoal e tecnologia?, diz. Apesar do fim da joint venture entre Bradesco e Templeton, Van Dijk não descarta a possibilidade de o banco distribuir os produtos criados pelo escritório brasileiro da gestora americana. ?Mobius é bastante experiente em mercados emergentes e seus fundos são muito bem geridos. Vamos avaliar os produtos e possivelmente oferecê-los aos nossos clientes.?

?FIQUEI SURPRESO COM O PT?
Investidor, que tinha medo de Lula, diz que economia melhorou

Mark Mobius inventou a expressão ?mercados emergentes? e encorajou muita gente a investir nos países em desenvolvimento. Diante da atual turbulência, ele afirma que tais mercados hoje têm melhores condições de enfrentar um terremoto financeiro global do que em 1997, quando estourou a crise da Ásia. ?E o Brasil é exemplo disso?, diz o megainvestidor nesta entrevista exclusiva à DINHEIRO.

DINHEIRO ? Como o senhor avalia a atual turbulência nos mercados?
MOBIUS
? Os mercados emergentes estão em posição muito mais confortável hoje do que estavam durante a crise da Ásia, com contas externas mais sólidas. Uma possível desaceleração da economia mundial, causada pela inflação nos EUA, é algo para se observar com cuidado. Mas ainda vemos as economias emergentes, China e as demais, exportando deflação por meio de mão-de-obra mais barata e maior produtividade.

DINHEIRO ? O Brasil tem fundamentos para suportar a crise?
MOBIUS
? O Brasil é um exemplo de como os emergentes estão mais bem preparados para a crise hoje. O País apresenta um superávit consistente em conta corrente, a balança comercial permanece forte e a dívida externa é muito pequena quando consideramos o volume de reservas.

DINHEIRO ? O senhor temia, nas últimas eleições, a vitória do presidente Lula. Como avalia o governo do PT?
MOBIUS
? Fiquei positivamente surpreso com as atitudes do PT na condução da economia do Brasil. Era essencial que a equipe de Lula consolidasse as políticas de controle da inflação, mantendo taxa de câmbio flutuante e disciplina fiscal.

DINHEIRO ? A economia está imune a escândalos políticos?
MOBIUS
? A economia brasileira está mais bem preparada para enfrentar desafios tanto no âmbito doméstico quanto no cenário internacional. Mas escândalos políticos e corrupção sempre criarão descrédito e representarão obstáculos para que o País atinja seu potencial.

DINHEIRO ? Lula lidera as pesquisas para as próximas eleições. Os investidores ainda têm medo dele?
MOBIUS
? Não. Mas esperamos que ele acelere as reformas necessárias para o aumento da competitividade e dos investimentos.

DINHEIRO ? Situações como o ataque do crime organizado a São Paulo afastam investidores?
MOBIUS
? Sim. A questão da segurança é uma grande preocupação não apenas em São Paulo. Os turistas na praia de Copacabana não estão a salvo dos ladrões, e é uma pena que ninguém, nem mesmo os cariocas, ouse usar relógios na rua. A aplicação das leis deveria estar entre as prioridades de qualquer governo.

 
  

US$ 500 bilhões é o total de recursos de terceiros administrados pela Templeton, que tem seu quartel-general em San Mateo, Califórnia

 

Templeton no mundo
Cotistas:
11 milhões

Produtos de investimentos:
250

Presença global:
52 escritórios em 39 países

Funcionários:
6.600