01/10/2003 - 7:00
Os salários são em reais, mas o prestígio pode ser mensurado em dólares. Um grupo de 160 engenheiros da Motorola que trabalham na unidade da empresa na cidade de Jaguariúna, interior de São Paulo, integram a elite mundial da companhia na área de desenvolvimento de celulares. Os brasileiros têm sob seu controle projetos estratégicos da empresa, em luta com a finlandesa Nokia pela liderança do mercado mundial de celulares. De janeiro até agora, os técnicos de Jaguariúna se envolveram nos 30 lançamentos da Motorola nos mercados onde atua. Em alguns casos, os brasileiros foram os líderes de projeto. ?Temos gente qualificada capaz de participar de qualquer iniciativa da companhia?, afirma Roberto Soboll, diretor de desenvolvimento da Motorola no Brasil. ?Graças aos nossos conhecimentos podemos desenvolver um equipamento de ponta a ponta, sem a necessidade
de ajuda externa.?
Esse prestígio pode ser medido pela ação dos brasileiros dentro do projeto do celular C353. A Motorola queria um equipamento moderno, capaz de navegar com rapidez na internet e arquivar imagens. Os engenheiros brasileiros definiram qual seria o tamanho do produto, o design, a distribuição interna das peças e chips e quais os programas que seriam instalados no celular. O C353 foi lançado em julho passado e atualmente é vendido na América Latina e nos Estados Unidos. ?A turma de Jaguariúna coloca a tecnologia brasileira em evidência internacional?, afirma Eduardo Peixoto, do Centro de Estudos Avançados do Recife, organização não-governamental ligada à Universidade Federal de Pernambuco. O Centro da UFPE participou de maneira terceirizada de alguns projetos da Motorola no Brasil. ?O desempenho deles nos ajuda a fazer negócios no exterior na área de telefonia celular?, afirma Peixoto.
Nos últimos seis anos, a Motorola investiu US$ 135 milhões na equipe de brasileiros. O trabalho deles tem agradado tanto a matriz da companhia que fez a Motorola deixar sob controle dos seus especialistas o comando do centro de competência em mensagens da empresa em todo o mundo. Isso significa que todas as vezes em que a Motorola precisa de um novo programa que permita o envio de textos, mensagens de e-mail ou fotos pelo celular são os brasileiros que cuidam de tudo. Curioso é que até mesmo os programas de computador que são usados pelos técnicos de outros países para fazer programas para celular são feitos no Brasil. ?Os engenheiros da Motorola são bons em uma enorme variedade de áreas?, diz Jaylton Ferreira, gerente de tecnologia do Instituto Eldorado, que tem um time de 60 a 70 técnicos exclusivamente voltados para projetos em parceria com a Motorola.
Apesar dos resultados vistosos, a decisão de montar um time de engenheiros no Brasil foi tomada em 1996 apenas para cumprir as exigências da Lei de Informática, que dá benefícios fiscais às companhias que aplicam uma porcentagem do faturamento em pesquisa no País. Seis anos depois, a lei é um mero detalhe. A Motorola não revela o faturamento na região, mas Soboll gosta de frisar que o porcentual reinvestido no País supera as normas legais com folga. O sucesso despertou o interesse dos concorrentes, que estão vindo logo atrás. A Nokia, maior fabricante mundial de celulares e principal desafeto da Motorola, criou um instituto de tecnologia no ano passado e anunciou uma parceria com os pernambucanos do Cesar há duas semanas. A Siemens, por sua vez, anunciou que vai investir US$ 110 milhões até 2008 num pólo de pesquisa em Manaus, fundado há um mês. Para não perder espaço para a concorrência, a Motorola quer continuar em ritmo acelerado. A empresa está mudando as salas de sua planta em Jaguariúna para comportar mais 20 engenheiros. Embora não revele quantos projetos de celulares
estão em andamento, somente o instituto Cesar está tocando três projetos com eles.