19/04/2017 - 21:31
Única maternidade de toda a região do Alto Solimões, no Amazonas, a unidade Enfermeira Celina Villacrez Ruiz tem, desde agosto de 2016, uma sala destinada ao atendimento exclusivo de mulheres indígenas que precisam de auxílio durante o trabalho de parto.
Segundo a enfermeira e técnica de Saúde da Mulher, Cristiane Ferreira da Silva, o espaço atende a uma antiga reivindicação de várias etnias e busca respeitar a cultura indígena, oferecendo um ambiente bem equipado onde as grávidas são acompanhadas por parteiras indígenas que, voluntariamente, auxiliam os profissionais de saúde convencionais.
Hoje (19), antes da cerimônia de entrega de equipamentos para a área de saúde da região do Alto Solimões, o ministro interino da Saúde, Francisco de Assis Figueiredo, visitou a maternidade.
Cento e quarenta partos indígenas foram realizados desde que o espaço foi inaugurado, há oito meses. Enfermeira há mais de 20 anos, Gabriela Rios diz que o auxílio das parteiras indígenas tem não só beneficiado as parturientes, mas também permitido a troca de conhecimentos entre os profissionais de saúde e as parteiras tradicionais.
“Está sendo muito bom. Elas acompanham os pacientes, ajudando inclusive na comunicação, pois muitas parturientes não falam português. E nós as orientamos sobre como nos ajudar quando o parto precisa ser feito em um hospital”, contou Gabriela. Segundo ela, tradicionalmente, as mulheres indígenas só procuram uma maternidade na hora de dar à luz se houver algum risco para a saúde da mãe ou da criança. Caso contrário, os partos são feitos nas aldeias, na maioria das vezes pelas parteiras indígenas, que costumam acompanhar as mulheres de uma mesma família do início da gestação a, em média, duas semanas após o nascimento da criança.
Cento e trinta e três parteiras indígenas atuam voluntariamente no Alto Solimões, agindo conforme uma tradição transmitida por sucessivas gerações. Cristiane calcula que em torno de 84% dos partos realizados nas aldeias indígenas do Alto Solimões são feitos pelas parteiras tradicionais.
“É um conhecimento passado por alguém da família, como a mãe ou a avó. Cada parteira costuma fazer os partos de uma mesma família, fazendo massagens, chás e acompanhando todo o trabalho de parto. Esta sala permite a essas mulheres manterem suas tradições”, disse a enfermeira.
Reconhecimento
Uma das parteiras indígenas que estava hoje na maternidade era Lourdes Kokama, que deixou o quarto onde repousava a mãe indígena que ela acabara de ajudar a dar à luz uma menina para pedir o apoio do Ministério da Saúde para que a atividade seja reconhecida como uma profissão. Com isso, as hoje voluntárias poderiam ser contratadas para prestar esse tipo de serviço em equipamentos públicos de saúde.
Lourdes, que aprendeu com a avó a técnica necessária para ajudar outras mulheres, disse ter perdido as contas de quantos partos ajudou a realizar. “Minha vovó e uma tia me ensinaram quando eu tinha 13 anos. Minha vovó me levava junto para ver como a criança nascia. Eu peço a Deus que me ajude e quando a mulher ganha o bebê com a minha ajuda, eu sinto como se estivesse entregando ouro à mãe”, contou Lourdes, mãe de seis filhos nascidos com a ajuda de outras parteiras indígenas.
O Ministério da Saúde se comprometeu a analisar o pedido das parteiras e encaminhá-lo aos órgãos responsáveis pela regulamentação de atividades laborais.
*O repórter viajou a convite do Ministério da Saúde