18/03/2018 - 10:35
“Uma mulher avessa a rótulos.” É como se define a culinarista e apresentadora Bela Gil, conhecida pela defesa da alimentação natural, que agora se projeta também como referência no universo da maternidade. Autora de Bela Cozinha nas versões Receitas e Ingredientes do Brasil, ela lança em abril o livro Bela Maternidade.
Na obra, a chef detalha em primeira pessoa as experiências pessoais de gravidez dos filhos Flora, de 9 anos, e Nino, de 1 ano e 9 meses, e dá dicas para as atuais e futuras mães. Em entrevista ao jornal o Estado de São Paulo, Bela falou sobre gestação e parto normal, entre outros temas, e criticou a sociedade que exige “mães perfeitas” e julga mulheres superiores às outras pelo tipo de parto realizado. “Isso está errado e precisa mudar”, afirma.
O livro é dividido em seis capítulos. Ao final do quinto, Bela entrevista obstetras, psicólogos e nutricionistas para esclarece dúvidas sobre preparação para a gestação, gravidez, parto, amamentação, cuidados com a mãe e o bebê e introdução alimentar da criança. E, como não poderia faltar, os textos são intercalados por receitas recomendadas pela chef.
Você é conhecida pela alimentação saudável, pela cozinha natural. Como surgiu a ideia de fazer um livro sobre maternidade?
Ao longo do tempo, fui me tornando uma pessoa que desperta interesse não só pela culinária, mas também pelo estilo de vida saudável como um todo. Apresentei o Bela Cozinha e o Vida Mais Bela (em canal fechado) e, entre essas duas iniciativas, fiquei grávida do Nino. Nesse período, veio a vontade de escrever o livro. Foram dois anos e meio de imersão na maternidade, e o livro reflete esse momento da minha vida. Ele surgiu da demanda das pessoas querendo saber como era minha relação com a maternidade.
No livro, você trata bastante dos aspectos positivos da maternidade. Quais foram as suas principais dificuldades?
Não tive tantos problemas com a gravidez porque é algo que amo. Se pudesse, viveria grávida, é uma das melhores fases da vida. Conheço mães maravilhosas que amam ser mães, mas não gostam da gravidez. Não tive muitos lados negativos na maternidade. Sempre gostei do meu corpo quando estava grávida, sempre me senti bem. Não vejo o parto como um trauma, e sim como uma força da natureza com a qual a mulher nasceu para lidar. Mas não são todas as mulheres que lidam da mesma maneira. Não são todas que querem e podem ter o filho sem anestesia de forma natural em uma banheira. Isso é muito individual da mulher. Sofri muito na primeira semana do Nino com a amamentação, sentia muita dor. O peito não chegava a rachar, mas sangrava e ficava muito entupido. Mas, como tinha sofrido com a Flor, sabia que era passageiro.
Na introdução do livro, você defende uma “maternidade livre de rótulos”. O que é isso na prática?
Quando dizemos “sou uma mãe muito chata”, “sou uma mãe muito liberal”, “sou uma mãe muito boazinha” ou “sou uma mãe muito rígida”, nos rotulamos e ficamos fadadas ao próprio rótulo. Por exemplo, a pessoa tem um filho que não gosta de brócolis ou que não come muito bem. A mãe já rotula: “Meu filho é chato para comer”. Isso é ruim porque a criança vai absorvendo e usando isso a favor dela. A criança pensa: “Mamãe sempre fala que não gosto de brócolis. Então, não gosto de brócolis”. Se a mulher diz que é uma mãe muito rígida, quando quiser ser flexível vai pensar: “Não posso ser flexível porque sou uma mãe rígida e tenho de manter meu rótulo, meu comportamento”. A maternidade sem rótulos significa a liberdade de você poder fazer escolhas.
Algumas mães passaram a usar a expressão “maternidade real” nos últimos anos, compartilhando críticas à ideia da maternidade ser um momento perfeito. Como você vê esse movimento?
Tem mães que amam os filhos, mas não gostam tanto da maternidade. Cada uma enxerga de um jeito. Acho ótimo que quem tem uma experiência não tão perfeita da maternidade fale. Acredito, na verdade, que a maternidade é sempre perfeita dentro de cada cenário. Mas quando a mulher sente que a maternidade não é perfeita, porque o filho chora mais do que ela esperava, porque a rotina é mais cansativa do que gostaria, vale a pena falar sobre isso porque não são todas as mulheres que têm suas expectativas alinhadas com a realidade. E outras mulheres podem se identificar com isso. É muito bom que estejamos falando sobre isso porque retira o peso da culpa das mães. Vivemos numa sociedade em que a mãe tem de ser perfeita. Coloca-se um peso na mãe. Acho que estamos conseguindo dividir com o companheiro, com o pai, e isso é muito melhor.
Muitas mulheres que tiveram filho por meio de uma cesárea reagem às que tiveram o parto normal e humanizado, como se dissessem que a cesariana é desumana…
O parto normal, natural, é aquele em que a mulher pare sem que precisem fazer cirurgia para arrancar o bebê de sua barriga. Isso é um fato. Então, realmente há uma diferença entre cirurgia cesariana e parto natural. O que é importante, o que está em jogo, é a questão da igualdade. As mães querem ter o mesmo valor independentemente do parto. Ninguém vai ser melhor ou pior mãe por causa do tipo de parto que teve. A mulher que se sente culpada por isso talvez se sinta assim porque a sociedade pode julgar uma mulher superior à outra por causa do parto. Isso está errado e precisa mudar. A mulher precisa fazer a escolha – e ela tem esse direito. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.