A sede da McCain Foods, em New Brunswick (Canadá), é um dos poucos lugares onde expressões do tipo ?Vá plantar batatas? não têm qualquer conotação pejorativa. Afinal, são elas que garantem boa parte (70%) das receitas mundiais de US$ 6,1 bilhões que a corporação arrecada nos 140 países onde atua. Em suas 55 fábricas espalhadas pelos cinco continentes são processadas cerca de 600 mil toneladas de batatas por hora, o equivalente a 31% do consumo mundial. A mais nova delas vai ser construída na China ao custo de US$ 31,8 milhões. Em comum essas unidades têm o fato de terem sido erguidas entre os paralelos 35º e 45º, local que reúne as condições climáticas ideais (grande período de insolação e noites frias) para o cultivo das variedades usadas pela companhia: Russet Burbank, Ranger Russet e Shepoby. Essa verdadeira mina de ouro nasceu em 1957, quando os irmãos Harisson e Wallace McCain descobriram a ?fórmula? da batata pré-frita perfeita: crocante por fora, macia por dentro e capaz de permanecer sequinha depois que sai do fogo. Herdeiros de uma linhagem de comerciantes de batata in natura e batata-semente, a família é conhecida pela postura agressiva no mundo dos negócios. Que o diga a suíça Nestlé, que acaba de vender para a McCain Foods suas seis unidades de batata congelada no Canadá. É um feito e tanto. Não se tem outra notícia de que a empresa suíça, famosa predadora no mercado, tenha se livrado de alguma divisão por motivo de força maior. ?Eles não agüentaram a concorrência?, ironiza Bruno Stierli, diretor-geral da McCain do Brasil. Somente nos últimos cinco anos os canadenses desembolsaram US$ 880 milhões para adquirir empresas e ampliar suas plantas industriais. Foi essa fórmula que garantiu o domínio absoluto no mercado mundial de batatas.

No Brasil, apesar de não possuir nenhuma fábrica, a McCain lidera com uma fatia de 50% do mercado paulista de batata congelada, o maior do País. Atrás dela, engalfinham-se a Cooperativa Agrícola de Cotia, Perdigão e Sadia. No geral, esse segmento rende US$ 60 milhões no País. Mas o grande filão do momento é o chamado ?food service? (restaurantes, lanchonetes e hotéis), que movimenta R$ 30 bilhões por ano. Para reforçar a atuação nessa área, o diretor da McCain diversificou o cardápio, incluindo bolinhos recheados, feitos de batata e mandioca. ?Ficamos com mais opções para oferecer aos clientes?, explica Stierli. A produção está a cargo de um parceiro de risco, cujo nome o executivo não revela, que investiu R$ 600 mil para instalar uma fábrica em Campos do Jordão (SP). Nem bem começou a operar e Stierli, da McCain, já fala em expansão: ?Temos encomendas das filiais do Chile e da Argentina. Atualmente, eles importam do Canadá a linha de aperitivos?, conta. Como as iguarias ?made in Brazil? estão mais próximas do paladar sul-americano, Stierli recebeu carta-branca da matriz para agir.

Apesar disso, o diretor-geral da McCain do Brasil garante que o forte da empresa continuará sendo a tradicional batata frita. No Brasil desde 1992, aos poucos os canadenses vêm reduzindo a dependência em relação ao McDonald?s, que já chegou a absorver tudo que saía da unidade de Balcarce (Argentina), construída em 1995 e com capacidade de processar 27 toneladas por hora. Hoje, a rede de fast-food responde por metade da produção. O restante segue para restaurantes, bares e supermercados do Mercosul. Como o consumo per capita no Brasil ainda é pequeno (500 gramas por habitante contra 10 quilos na Grã-Bretanha e cinco quilos nos EUA), Stierli aposta que os canadenses seguirão fazendo boas colheitas por aqui. Só que, nesse caso, o vencedor ficará com algo mais que as batatas.