DINHEIRO ? O sr. vive seu inferno astral?

BATISTA ? Está maluco? Só tenho marcha para a frente. Acordo com óculos rosa, meus olhos são cor de rosa. A humanidade é meio assim mesmo. Com as inaugurações maciças, a partir de agora, de outubro até março de 2013 e mais os resultados do primeiro trimestre do ano que vem, que serão muito bons, esse quadro vai mudar. Imagina o que vem pela frente. Serão acionadas três térmicas no Norte e Nordeste, até o fim do ano. O nosso terceiro poço na Bacia de Campos entrará em produção e, em janeiro, começaremos a produzir gás no Maranhão para gerar energia na Bacia do Parnaíba. Nós estamos começando a entregar nossos projetos. 

 

DINHEIRO ? O sr. esteve recentemente com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para pedir algum tipo de auxílio para os seus negócios? 

BATISTA ? O ex-presidente Lula esteve me visitando em meu escritório, assim como o primeiro-ministro britânico, David Cameron, em sua visita ao Brasil. As minhas conversas com Lula são sempre sobre o Brasil. Não giram sobre os meus interesses comerciais. 

 

DINHEIRO ? As críticas abalaram sua confiança? 

BATISTA ? O importante é que nunca perdi a disciplina financeira. Temos recursos suficientes para fazer nossos investimentos. São mais de US$ 9 bilhões em caixa para os próximos dois anos. Na hora que ligar a máquina, ela vai começa a cuspir pão. São projetos que foram desenhados com margens bacanas, e é isso que importa. Não é fácil tocar projetos que demandam quatro anos de investimentos. São projetos de muito longo prazo e que demoram a apresentar resultados. Nunca vi reportagem falando dos recebíveis já garantidos nos nossos projetos da MPX. É como se o projeto todo estivesse em risco. Quando venci o leilão para a construção das três termoelétricas, quatro anos atrás, ganhei recebíveis de R$ 24 bilhões que começam a entrar no caixa da empresa a partir de janeiro. São cheques de R$ 100 milhões que todo mês vão entrar na empresa, e isso durante os próximos 15, 20 anos. 

 

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Dilma e seu antecessor Lula são duas admirações de Batista

 

DINHEIRO ? Qual a razão para o otimismo quanto ao primeiro trimestre de 2013?

BATISTA ? Ninguém fala que nós estaremos entregando, a partir de outubro, no Norte e Nordeste, três térmicas, uma em Pecém (CE) e as outras duas no Maranhão, em Itaqui e na Bacia do Parnaíba. Serão quase três mil megawatts de geração térmica, o equivalente a quase 5% de geração de energia firme do Brasil. Nós começamos esses investimentos há quatro anos, gastamos mais de R$ 7 bilhões, e agora estão se concretizando. São projetos que nunca foram realizados por empresas privadas com capital de risco. Muito poucos explicam que se trata de um grande projeto de investimento e que, nessa fase, o balanço vai mesmo ter que registrar prejuízo. O que tem que ser dito é que, só quando o projeto for acionado, quando a máquina for ligada, começará a dar lucro. É por isso que eu digo que o primeiro trimestre de 2013 será um espetáculo. 

 

DINHEIRO ? Mas as greves acabaram provocando atrasos no projeto.

BATISTA ? Greves? Quantas greves tivemos nos últimos quatro anos? No nosso projeto, no Norte e Nordeste, foram seis, sete, oito, mas que foram resolvidas em dez dias. É lógico que tínhamos que ter greve. O problema é o jeito que se anuncia a greve. É como se o projeto todo tivesse ido para o ?beleléu?. Vivemos numa democracia. O trabalhador tem direito a fazer greve, tem direito a pleitear aumento de salário. 

 

DINHEIRO ? Além das greves, o Ministério Público também fez exigências que retardaram o investimento.

BATISTA ? Me diga um projeto de grande porte que não sofra um atraso porque o Ministério Público quer averiguar alguma coisa. Acho ótimo que isso aconteça. O Ministério Público cumpre sua função. Nunca achei que o Ministério Público seja um dragão indomável. Não é. É um auditor a mais. 

 

DINHEIRO ? E o maior problema foi exatamente na OGX, quando a produção de petróleo não correspondeu à previsão feita pelo grupo.

BATISTA ? O que aconteceu na OGX foi, simplesmente, um problema técnico. Os dados técnicos mostravam que o poço ia vazar 40 mil barris de petróleo. Nós indicamos ao mercado que iríamos produzir de dez mil a 20 mil. Na hora que foi feito o teste, a prova dos nove do poço de petróleo, acusou uma produção de 5,5 mil barris, a metade da nossa expectativa, e o mercado não perdoou. Tolerância zero. E olha que até se trata de um bom poço. A média na Bacia de Campos é de 3,3 mil barris. Mas, quando você apresenta no mercado um resultado abaixo da expectativa, você é punido na hora. Tecnicamente, estávamos seguro de que ia produzir o dobro.

 

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Manifestação do Ocupe Wall Street, em Nova York

 

DINHEIRO ? Mas houve um erro ao se prever uma extração maior de petróleo?

BATISTA ? Houve erro, mas o maior prejudicado nessa história toda fui eu. O que posso fazer? E, numa hora dessas, você é massacrado. Mas está certo. Não se pode fazer nada. Empresa de petróleo é assim mesmo. O problema é que a OGX é a única monitorada e auditada com lupa gigante. E aí você leva um soco no nariz. 

 

DINHEIRO ? O sr. acha que há má vontade do mercado com o sr. ou com as suas empresas?

BATISTA ? Nós temos consciência de que incomodamos muita gente no setor empresarial porque conseguimos levantar recursos para projetos de longuíssimo prazo. 

 

DINHEIRO ? A quem o sr. incomoda?

BATISTA ? Há muita gente interessada em shortear (investidores que vendem a descoberto para ganhar com a queda dos papéis. NR) as nossas ações. As nossas ações têm muita liquidez, e muita gente que usa isso. Notícias, por exemplo, de demissões de diretores, que fazem parte do dia a dia de uma empresa, são usadas por pessoas interessadas em shortear as nossas ações, e a mídia brasileira é facilmente manipulada. Eu adoraria ver uma CVM mais rígida, indo atrás de quem ganhou dinheiro shorteado. É tão fácil. 

 

DINHEIRO ? Sua relação com o mercado financeiro mudou?

BATISTA ? O Bradesco e o Itaú me apoiam. Melhor do que isso impossível. Tem concorrência entre os bancos que querem o nosso negócio e não necessariamente todos são favoráveis ao grupo.

 

DINHEIRO ? A crise global contribuiu para esse desempenho negativo das ações do grupo este ano?

BATISTA ? Se estivéssemos vivendo uma fase de euforia nas bolsas, acho que isso meio que passava, mas como está tudo negativo, não ajuda. O mundo está de mal com o mercado, e o mundo está um pouco de mal com o Brasil. 

 

DINHEIRO ? Houve alguma mudança de rota com a troca de diretores?

BATISTA ? O que houve foi uma mudança de fase. E sobre a saída de diretores, é bom que se diga que 97,63% das pessoas continuam lá. O que houve? Houve uma mudança da fase de exploração para a fase de produção. Não preciso mais provar que vamos achar óleo. Já achamos óleo. Não sou mais explorador. Quando você se volta mais para a produção, você tem de ser mais conservador. Foi uma mudança de estrutura. Sou agora uma empresa de produção, e, se você levantar no mercado, o atual CEO da OGX, o Luís Carneiro (que sucedeu a Paulo Mendonça, afastado logo depois que as ações despencaram, no dia 26 de junho), é homem de produção, reconhecido no País. Essas trocas são normais. Temos 50 diretores. No total, saíram apenas três diretores, sendo dois da OGX. 

 

DINHEIRO ? O sr. tem alguma queixa dos executivos recrutados dos quadros da Petrobras?

BATISTA ? Agradeço a todos que trabalharam lá. Muito obrigado, e que tenham sucesso nas suas novas aventuras. A demissão de um diretor é um processo normal.

 

DINHEIRO ? A Petrobras atrapalha ou ajuda?

BATISTA ? Eu diria que, hoje, com a mudança na direção da Petrobras, com a entrada de Graça Foster na presidência, a companhia virou puramente técnica. Hoje, são dois grupos nacionais que podem se ajudar mutuamente. Eu enxergo claramente uma situação de ganha-ganha. A Petrobras pode usar a nossa estrutura ? afinal temos um corpo técnico respeitável ? e, assim, é possível fazermos parcerias fantásticas. 

 

DINHEIRO ? Com essas mudanças de gestão, o grupo está na direção correta?

BATISTA ? Claro. Só posso dizer que é um processo contínuo, diário. Me pegaram para Cristo, estamos vivendo essa fase. That?s ok. Se você ler meu livro, vai ver que meu irmão Werner era o meu sócio, até ele querer ir para os Estados Unidos. Foi embora. Não parei de crescer. 

 

DINHEIRO ? Como o sr. analisa o governo Dilma?

BATISTA ? Puxa, que coragem. Quem imaginava que ela teria coragem de atacar os juros altos, de anunciar esse megapacote de redução de energia elétrica. Num País que é a sexta economia do mundo, fazer um pacote para a redução de até 28% do custo da energia da indústria é sensacional. Não existe isso no mundo. Ela está quebrando paradigmas inacreditáveis. O pacote de concessões é genial. O Estado acaba sendo dono do ativo, mesmo depois de pronto, e o setor privado executa. Não quer dizer que o Estado não execute bem. Há boas estatais. Elas podem ser bem geridas. Só que, na média, a norma é que o setor privado faz um pouco melhor.

 

DINHEIRO ? Como o sr. explica essa má vontade do investidor estrangeiro com o Brasil, nos últimos tempos?

BATISTA ? Essa má vontade vem de uma percepção de que essas medidas são intervencionistas. E isso ajudou para que muitas empresas perdessem muito valor no mercado. Veja o Itaú. Nos últimos dois anos, o valor de mercado do banco caiu 32%. Até entende-se. O pacote da Dilma força os juros para baixo e a rentabilidade diminui. O que o banco tem de fazer é ampliar o leque de serviços. Todo mundo dizia que seria impossível baixar os juros, que o spread não podia ser mais baixo do que 5%, e hoje está em 2,5%. Mudou alguma coisa? Não mudou nada. Interessante, né? Para o bem do País, é preciso quebrar alguns ovos. E ela está quebrando.

 

DINHEIRO ? O sr. está procurando investidores estratégicos, como para a empresa de ouro, a AUX?

BATISTA ? Nós desenhamos essa estratégia há um ano. Essas negociações demoram para se concluir (a AUX, empresa de ouro, está em negociações para ter como sócio o fundo do Catar). 

 

DINHEIRO ? O sr. já tem um sócio para a OGX?

BATISTA ? Da mesma maneira que, na IMX (de eventos)z, fizemos parcerias com o Cirque Du Soleil e com o Rock In Rio, o que queremos é agregar valores de imenso conteúdo para a nossa companhia. Nossos parceiros estrangeiros são, por exemplo, o fundo soberano Mubadala, o alemão E-ON, as coreanas Hyundai, SK e Wuhan, a Anglo American e a GE Energy, entre outras.

 

DINHEIRO ? Há alguma negociação do estaleiro OSX com a Sete Participações?

BATISTA ? Conversa a gente tem com todo mundo. Claro que eles têm interesse em conversar com a gente. Nós estamos fazendo um estaleiro enorme, mas não temos interesse nenhum em fusão. 

 

DINHEIRO ? A legislação do meio ambiente do Brasil é muito rigorosa?

BATISTA ? Hoje em dia, eu diria que o Brasil tem as regras de meio ambiente mais rígidas do mundo. Nos últimos anos, nós colocamos em pé 150 licenças ambientais bastante complexas. Portanto, isso não é uma coisa que me preocupe. Tem de cumprir. Se você me perguntar se o processo pode ser mais rápido, pode. 

 

DINHEIRO ? Qual será a função do seu filho Thor no grupo?

BATISTA ? Ele é muito jovem ainda, mas já se interessa por tudo na companhia, e eu o estou preparando para o futuro… eu confio nele.

 

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Carlos Slim, bilionário mexicano, é o homem mais rico do mundo

 

DINHEIRO ? Seu sonho é ser a maior fortuna do mundo?

BATISTA ? Eu sou um bicho competitivo. Quando você compete em esporte, e eu competia com lanchas de corrida, não consigo me impor uma meta baixa para mim. Quando competia, queria ganhar, passar, ser melhor, até para me autoincentivar. 

 

DINHEIRO ? O sr. disse, há algum tempo atrás, que não sabe se, pela direita ou pela esquerda, mas vai passar o Carlos Slim, o homem mais rico do mundo pela revista Forbes. É essa sua meta?

BATISTA ? O nosso Carlos Slim levou a mal, ficou chateado com a minha declaração de que iria passá-lo pela direita ou pela esquerda, mas ele não entendeu. Se ele fosse um desportista, ele ia levar a declaração na esportiva. Tinha que levar na esportiva, mas não levou. 

 

DINHEIRO ? Mas a sua meta é ser o homem mais rico do mundo?

BATISTA ? Prefiro ser o mais generoso do mundo.