Quando o assunto é febre amarela, o paciente Flávio (nome fictício), de 47 anos, acumula duas condições raras: uma que quase o matou e outra que salvou a sua vida.

Por um lado, ele faz parte do grupo de pessoas que, mesmo vacinadas contra a doença, não desenvolve imunidade e segue sendo suscetíveis à infecção. Por outro, ele foi um dos únicos pacientes com febre amarela do mundo a ter passado por um transplante de fígado e sobrevivido.

Mineiro de Belo Horizonte, médico e professor universitário, Flávio viajou para o interior do Estado no início de fevereiro, alguns dias antes de manifestar os primeiros sintomas. A área é considerada de risco para a febre amarela, mas Flávio não se preocupou, pois, anos antes, havia tomado duas doses da vacina, o que o protegeria para a vida toda.

“Me vacinei em 1999, quando viajei para o norte de Minas e, depois, repeti a dose em 2014, quando fiz uma viagem que passaria pelo Panamá, onde também há recomendação da vacina”, conta ele.

O médico estava tão seguro da proteção contra a doença que quando apareceram os primeiros sintomas, no meio de fevereiro, ele achou que havia sido infectado pelo vírus da dengue. “Demorei três dias para ir ao hospital, mas, quando fui, já levantaram a hipótese de febre amarela. Eu estava com confusão mental”, relata.

Flávio, então, foi internado no Hospital Felício Rocho e se submeteu ao transplante no dia 26 de fevereiro. “O mais difícil do pós-transplante é aceitar o que aconteceu. Entrei no hospital achando que tinha dengue e acordei com um fígado novo, sendo informado que eu tinha quase morrido”, relata.

De acordo com Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), apenas 2% dos vacinados contra febre amarela não desenvolvem imunidade. “Essa é uma das vacinas com maior eficácia, é realmente uma condição muito rara não ficar imunizado”, explica a especialista.

Recuperação

Flávio teve alta em 13 de março, menos de 20 dias após a cirurgia e não ficou com sequelas neurológicas, provavelmente porque seu transplante foi feito precocemente, antes que o vírus provocasse mais danos em seu cérebro. “A única parte chata agora é o cuidado com a imunidade. Como tenho de tomar medicamentos imunossupressores para evitar a rejeição do órgão, os cuidados precisam ser redobrados.”

Para o paciente, mais forte que a lembrança do que passou no hospital é a sua gratidão com quem lhe deu um órgão novo. “Não sei quem foi meu doador, mas estou muito solidário com a família. É uma atitude muito bacana ajudar outra pessoa em um momento tão forte de dor”, conclui. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.