ALEXANDRE FUNARI NEGRÃO, 55 anos, é um velho conhecido dos meios automobilísticos. Veterano das corridas da Fórmula Stock Car, onde atende pelo codinome de Xandy Negrão, ele demonstra sanguefrio e disposição para realizar manobras ousadas nas pistas. O mesmo estilo arrojado o dublê de piloto e empresário implantou na empresa da família, o laboratório Medley. Em pouco tempo, a companhia assumiu a ponta no segmento de produtos genéricos. O balanço anual, previsto para ser divulgado na próxima semana, deve exibir um faturamento na casa dos R$ 700 milhões. Número 20% maior em relação a 2006 e suficiente para manter a corporação no alto do pódium. Apesar do sucesso, Negrão pensa em vender o controle da companhia. Ou pelo menos achar um sócio capitalista. As conversas nesse sentido estariam bem adiantadas e são conduzidas pelo banco UBS-Pactual. A lista de possíveis interessados inclui o Sanofi-Aventis e o israelenseTeva Farmacêutica, uma potência global em matéria de remédios genéricos, que hoje opera no Brasil em parceria com o Aché. Oficialmente, ninguém confirma as negociações. ?Trata-se de boatos infundados?, disse à DINHEIRO Jairo Yamamoto, presidente da Medley Indústria Farmacêutica. Segundo ele, a empresa vive um período de plena expansão. Acaba de concluir investimento de R$ 80 milhões que aumentou em 50% a capacidade produtiva da planta situada em Campinas (SP).

Negativas à parte, o certo é que a Medley vive um dilema estrutural. Para manter a posição de liderança no competitivo mercado de genéricos, Negrão adotou uma postura agressiva. As vendas são feitas para pagamento em até 150 dias, prazo bem acima da média do setor, que trabalha com intervalo máximo de 90 dias. Resultado: um passivo de R$ 370 milhões (equivalente à metade das receitas), dos quais R$ 170 milhões vencem no curto prazo. O débito é resultado de empréstimos junto a bancos para compor o capital de giro. Yamamoto diz que essa estratégia está em linha com o porte da empresa e a natureza do negócio. ?Temos crédito na praça e nossa dívida está lastreada em duplicatas?, justifica. O modelo, que no passado foi importante para colocar o laboratório na dianteira, é visto como um complicador para o futuro da Medley. ?Negrão acelerou para assumir a ponta e agora teme ficar sem combustível para cruzar a reta de chegada?, compara um dono de laboratório que pediu para não ser identificado.