02/08/2006 - 7:00
A obesidade impulsiona uma porção de negócios mundo afora: o das academias, dos alimentos “diet”, das plásticas, dos cosméticos. Mas poucos são tão grandes e lucrativos quanto o dos medicamentos para perder peso. Mundialmente, estima-se que o segmento movimente US$ 50 bilhões ao ano. Cifras tão atraentes chamaram a atenção do laboratório Medley, o sexto maior no País ? ou terceiro entre os de capital nacional. O fabricante acaba de lançar o primeiro genérico da sibutramina, considerada pelos médicos a substância mais eficaz no combate ao peso extra. A aposta é alta: com a novidade, a empresa quer dobrar o mercado do medicamento no Brasil, estimado em 6 milhões de unidades anuais.
Levando-se em conta as cifras envolvidas nesse segmento, o lançamento do genérico contra a obesidade já seria, por si só, um grande feito. Mas o que chama mais a atenção é a estratégia por trás de cada novidade do laboratório. O principal medicamento de marca, referência no combate aos quilinhos a mais, é o Plenty, desenvolvido pelo laboratório americano Abbott. No final dos anos 90, o Medley fez um acordo com o Abbott e iniciou a fabricação do medicamento original, com marca e tudo, sob licença da companhia americana. Quando a patente venceu, há alguns meses, o Medley já estava pronto para colocar o genérico no comércio. É aí que está o pulo-do-gato: o laboratório brasileiro fica de olho nos blockbusters do mercado farmacêutico, estuda o segmento e propõe uma união com o detentor da patente. Associando-se aos grandes, vence duas questões técnicas que pesam no desenvolvimento de um genérico: a disponibilidade de fornecedores e matéria-prima e a tecnologia para desenvolvê-lo. ?Para competir nesse setor, é importante lançar o genérico antes dos outros?, diz Jairo Yamamoto, presidente do Medley. ?Por isso, a opção por fechar parcerias com laboratórios internacionais.? A contrapartida para o parceiro, segundo Yamamoto, é o ganho de escala. ?Eles passam a utilizar a estrutura de distribuição do Medley?, diz. Hoje, os produtos da companhia brasileira chegam a 56 mil farmácias do País.
O Abbott não foi o único a dar as mãos ao Medley. Os brasileiros também fecharam contrato com a Bayer, para produção do Vivanza, indicado contra a disfunção erétil, e com a Novo Nordisk, em uma linha de reposição hormonal. Foi assim, de olho nos mais vendidos, que o grupo chegou à liderança em genéricos, com 31% do mercado. E será assim com outros 15 lançamentos que pretende fazer até dezembro. ?Além de sair à frente, ter uma ampla oferta de produtos também faz diferença?, explica Yamamoto.
Que remédios são esses? Ele não revela. Mas explica que o critério mais relevante na escolha do genérico é o tamanho do mercado do remédio original. ?Verificamos quanto vende o produto de referência, se há muitos concorrentes e se é possível fabricar o genérico a preços competitivos?, diz. Foi por isso que Yamamoto elegeu o genérico do Plenty como um dos lançamentos-chave para este ano, quando as vendas do laboratório devem pular de R$ 450 milhões para R$ 550 milhões. A julgar pelo desempenho do Plenty de marca, não será difícil atingir a meta. O remédio é carro-chefe do laboratório, em faturamento, com 25 mil caixas por mês, ao preço final de R$ 140. Mas qual é grande tacada, se o genérico custará 35% a menos? ?O tratamento com a sibutramina deve durar pelo menos seis meses. O preço faz o consumidor desistir nos primeiros meses. Com o genérico, fica mais barato tomar o medicamento por mais tempo?, diz Yamamoto. Boa escolha.