29/09/2000 - 7:00
O empresário mineiro Sebastião Bomfim Filho não gosta de ?mineirice? na hora de fazer negócios. Em menos de 20 anos, a partir do zero, ele se transformou no maior vendedor de artigos esportivos do Brasil. Hoje, a cada ano, saem de suas gôndolas cerca de 200 mil pares de tênis Nike e outros tantos da Adidas, por exemplo. Por suas caixas registradoras, passam 1,3 milhão de clientes. Aos 47 anos, Bomfim, natural de Caratinga, interior de Minas Gerais, é o fundador da MG Master, grupo de 43 lojas abrigadas em três diferentes assinaturas: Centauro, By Tenis e Almax. Juntas, elas faturam R$ 80 milhões por ano e geram de 4% a 5% de lucro líquido.
A mais recente tacada de Bomfim é a inauguração da primeira mega-store de artigos esportivos do País. Localizada no Shopping West Plaza, em São Paulo, são cerca de 2,3 mil metros quadrados, onde os consumidores podem utilizar pequenas quadras de basquete, futebol e ringue de boxe ? além de comprar produtos esportivos, é claro. Nos próximos 12 meses, Bomfim pretende abrir as portas de outras cinco mega-stores, todas em São Paulo. ?Nossa ambição é continuar como a maior rede de varejo no setor, mas em âmbito nacional?, diz Bomfim.
O que pode parecer, à primeira vista, um excesso de arrojo, esconde na realidade um minucioso planejamento de expansão de negócios. Bomfim consumiu um ano no desenvolvimento do projeto das megastores. Durante 25 dias, ele e uma pequena equipe percorreram os Estados Unidos e diversos países europeus analisando as grandes redes do mercado. Só depois de definidos todos os detalhes, ele parte para a execução. ?Aí fazemos tudo de uma vez?, diz ele. Trata-se de uma estratégia batizada de ?stop and go?. Bomfim concentra grandes investimentos em um espaço relativamente curto de tempo. A seguir, espera 2 a 3 anos para recuperar o dinheiro, antes de partir para a próxima ofensiva. Foi assim no Rio de Janeiro, onde a rede fincou bandeira em 12 diferentes endereços no período de apenas um ano. Em Brasília, foram 10 lojas em 14 meses. ?Quando desembarco em um novo mercado, tenho de ter escala suficiente para enfrentar a concorrência, negociar com fornecedores e viabilizar o negócio?, diz ele. ?Por isso, quando inauguro um ponto de venda, já estou pensando no próximo.?
Trata-se de um mandamento seguido desde a primeira loja, em 1981. Na ocasião, Bomfim era um empresário quebrado. Sua fábrica de balanças, fundada seis anos antes, foi vendida para saldar as dívidas. Sobraram US$ 10,5 mil. ?Resolvi voltar às origens da família e investir no comércio?, diz ele. ?Meu pai havia sido dono de uma loja de tecidos em Caratinga, onde eu trabalhava quando não estava na escola.? A escolha pelo setor de artigos esportivos foi motivada pelo surgimento do culto ao corpo e à saúde no início da década de 80. A partir dali, Bomfim foi acumulando experiência no setor.
No aprendizado sobre estoques quase quebrou novamente. Foi no segundo ano de vida da primeira loja Centauro, localizada em um bairro em Belo Horizonte. Como o inverno do ano anterior havia sido rigoroso, Bonfim entupiu seu depósito de agasalhos esportivos da Adidas. Só que o frio não veio. Com as duplicatas vencendo, Bomfim chamou uma costureira e lhe pediu que cortasse as mangas de seis agasalhos. No dia seguinte, vendeu todas. Repetiu a dose com todas as peças. Em poucas semanas, liquidou o estoque de mil agasalhos. Ao saber do fato, um diretor da Adidas visitou a loja. ?Gastamos milhares de dólares para desenvolver essa peça e o senhor manda cortar as mangas?, queixou-se ele, antes de deixar o local. Mas, no ano seguinte, a Adidas lançou uma linha de agasalhos de mangas curtas.
Hoje, Bomfim mantém uma equipe que, com ajuda de um software, acompanha passo a passo o perfil de vendas de cada uma das lojas. ?Logo identificamos um produto com tendência ao encalhe?, diz ele. ?Quando isso acontece, rapidamente definimos uma ação para desovar a mercadoria.? Bomfim também tem cuidados especiais com a inovação. A cada cinco anos, novos layouts e padrões visuais são definidos e todas as lojas, inteiramente modificadas. Todo o investimento é feito com dinheiro do próprio caixa da Centauro. É verdade que, como maior vendedor de produtos esportivos do País, Bomfim tem prestígio junto aos fornecedores ? e sabe usar isso nos negócios. Na megastore inaugurada recentemente, R$ 1 milhão dos R$ 4 milhões investidos vieram de empresas como Nike, Adidas, Reebok, entre outras, em troca, apenas, de um espaço destacado nas prateleiras. Bomfim não gosta de falar, mas os prazos de pagamento e os preços dos produtos são diferenciados para ele. ?Hoje a Centauro não tem apenas poder de compra?, diz Bomfim. ?Ela é uma vitrine para qualquer produto esportivo.?