03/11/2019 - 8:29
A explosão da plataforma petrolífera Deepwater Horizon no Golfo do México, em abril de 2010, criou o que ficou conhecido como o maior acidente ambiental da história americana. Quase 10 anos depois, os efeitos do derramamento de mais de 3 milhões de barris de petróleo, em um vazamento que levou cerca de 90 dias para ser estancado, ainda são discutidos pela comunidade científica. E o Brasil vive hoje sua maior tragédia no mar com óleo, com suspeitas sobre um petroleiro.
Segundo a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos, o acidente na plataforma, que levou à responsabilização da British Petroleum (BP), causou efeitos na costa dos Estados de Louisiana, Mississippi, Texas, Alabama e Flórida. Christopher Reddy, químico e cientista marinho no Woods Hole Oceanographic Institution, nos EUA, tem parte da carreira dedicada às pesquisas sobre o vazamento no Golfo do México, com trabalho inclusive in loco, em 2010. Ele alerta que é preciso tomar cuidado com comparações. “Parece ilustrativo, às vezes, mas pode levar a uma confusão. Normalmente há diferenças no tipo de óleo, quanto vazou e como são as áreas afetadas”, afirma.
Segundo ele, a estratégia inicial, contudo, é a mesma e tem como primeiro passo identificar e ter certeza de que o vazamento foi interrompido, para não piorar a situação. Reddy tem acompanhado as notícias sobre o Brasil e lamenta a falta de proteção adequada ao ver as fotos da população no Nordeste do País tentando limpar áreas com as próprias mãos. “Outra questão é que, por mais bem intencionadas que as pessoas estejam, podem estar criando problemas. Ao passar por uma área com os pés, é possível espalhar por um rastro o óleo”, afirmou.
Diferenças
O tipo de óleo encontrado no Brasil é diferente do identificado depois do vazamento de 2010 no Golfo do México. “No Brasil, o óleo é pegajoso, o que pode ser bom, porque facilita o manuseio. O comportamento do óleo no Golfo do México, por sua vez, era muito diferente, e hoje a região está em uma situação bastante saudável”, afirma Reddy. “É preciso ter um senso de estratégia. Identificar as áreas que precisam ser limpas de forma mais rápida e agir de forma sistemática. É como a triagem de um pronto-socorro, que identifica quem precisa de tratamento urgente”, afirmou.
No caso do vazamento de 2010, conta o cientista, houve também um trabalho de conscientizar a população sobre a recuperação da área – e mostrar, por exemplo, que as pesquisas indicavam que os peixes não estariam contaminados. Ao Estado, Reddy destacou o quanto é necessário deixar a ciência de forma acessível à sociedade e evitar os alarmismos.
Nem toda avaliação sobre a situação dos ecossistemas atingidos pelo vazamento é como a de Reddy. Os efeitos agudos, segundo especialistas, se dissiparam, mas ainda há nível de contaminação em sedimentos mais profundos do mar, que afetam os microbiomas. Um estudo de 2018 feito por pesquisadora da Universidade do Sul do Mississippi e publicado pelo The Guardian apurou que restos de petróleo reduziram a biodiversidade nos arredores do vazamento.
No Golfo do México, foram usados dispersantes químicos para ajudar no processo de limpeza. É uma opção considerada controversa pelos efeitos na vida marinha e também na saúde de trabalhadores expostos aos químicos.
Deputados democratas do Comitê de Energia da Câmara pediram, neste ano, um posicionamento do governo americano sobre as políticas de prevenção a acidentes como o que atingiu o Golfo do México. Um dos pontos questionados pelos congressistas é o efeito do uso dos dispersantes químicos na saúde humana e no ecossistema. Desde a explosão, o tema é pauta de pesquisas científicas nos Estados Unidos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.