04/07/2012 - 21:00
O Brasil pode estar prestes a começar a pagar uma conta de quase dois séculos de atraso, caso se atreva a manter a proposta de dobrar o investimento em educação, conforme o aprovado na terça-feira 26, pela Comissão Especial de Análise do Plano Nacional de Educação, da Câmara dos Deputados. O projeto, que segue para o Senado, prevê que o País passe a investir 10% do PIB em Educação, em vez dos atuais 5%, num prazo de dez anos. Em cinco anos, a cifra chegaria a 7% e seria elevada gradativamente até dobrar, lá por 2022. A proposta foi celebrada pelas entidades ligadas à educação no País, que vinham cobrando essa melhoria para enterrar de vez vergonhosas estatísticas, como a que mostra os salários dos professores de ensino básico como os piores do País, dentre as profissões de ensino superior.
A Coreia do Sul, por exemplo, abandonou sua situação de país emergente com um plano de crescimento de longo prazo, que tinha a educação como princípio básico. Hoje, o cargo de professor é um dos mais disputados pelos coreanos e oferece os melhores salários. Para uma nação que sentiu o gostinho de ser considerada emergente há uma década, junto com os demais Brics, estamos deveras atrasados em assumir a dianteira em educação. Hoje, no Brasil, há 84,4 milhões de pessoas em idade “educacional”, que precisam ser qualificadas nas escolas, e só investimos US$ 959 per capita, contra US$ 1,4 mil na África do Sul, US$ 3,3 mil em Cuba, US$ 5,4 mil na Coreia do Sul e US$ 8,6 mil nos Estados e Unidos, segundo estudo de Nelson Cardoso Amaral, doutor em educação e um dos defensores do PIB de 10% para a área.
No entanto, é triste constatar que, diante do avanço da proposta aprovada na comissão da Câmara, muitos críticos se detiveram na semana passada a analisar o fato de que outros países investem um percentual menor em educação – nos EUA, por exemplo, é 5,3% do PIB, e na Coreia, 4,6%. Uma falácia completa, uma vez que o que importa mesmo é quantas pessoas precisam ser educadas num país e o tamanho da economia de cada nação. E, no caso do Brasil, corresponde a 45% da população, pois os jovens em idade de estudo ainda são maioria na nossa sociedade. Foi mais triste ainda ver o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, afirmar que atingir a meta dos 10% seria “uma tarefa política difícil de ser executada”.
“Em termos de governo federal equivale a colocar um MEC dentro do MEC, ou seja, tirar R$ 85 bilhões de outros ministérios para a Educação”, disse Mercadante. Ora, ministro, o que faltou sempre ao Brasil em termos de educação sobrou em criatividade, e está aí uma boa desculpa para encontrar soluções para os labirintos de desvios do erário público. Curioso também ele não ter lembrado que, dentro de dez anos, a extração de petróleo do pré-sal estará mais avançada. E uma das promessas do novo modelo de partilha de royalties é garantir mais verbas para a sua pasta.
Diante do desafio de tornar o número mágico dos 10% do PIB uma realidade, o setor privado tem uma belíssima oportunidade de agarrar a bandeira da educação. Mais profissionais qualificados garantem mais inteligência e inovação para as empresas e podem diluir os custos salariais que hoje pressionam o dia a dia das companhias. A educação é um ponto de virada fundamental para que o Brasil mantenha o respeito da comunidade internacional. Isto, porém, ainda é sonho, e não dá para estourar um champanhe completo até ver a matéria aprovada depois dos trâmites necessários.