15/12/2023 - 17:38
Decretado o fim do silêncio obrigatório após a decisão da última quarta-feira, dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) já começam a modular o tom considerado “dovish” do discurso do presidente da instituição, Jerome Powell, que alimentou o otimismo de investidores por uma relaxamento agressivo monetário no que vem. Apesar das ponderações, o mercado mantém a aposta firme de que o banco central reduzirá a taxa básica em 150 pontos-base já a partir de março até dezembro.
Nesta sexta-feira pela manhã, o presidente da distrital de Nova York, John Williams, avisou que ainda é cedo para começar as discussões sobre quando o Fed começará a afrouxar a postura. À CNBC, o dirigente reconheceu que a inflação está em declínio, mas adotou cautela ao dizer que é preciso avaliar mais dados.
À tarde, o líder da regional de Atlanta, Raphael Bostic, disse à Reuters que espera cortes “em algum momento do terceiro trimestre” se o alívio inflacionário continuar conforme o esperado. Segundo ele, mais progressos devem ser necessários para, assim, garantir duas quedas em 2024.
Os comentários sugerem um afrouxamento monetário mais tímido do que operadores esperam. A curva futura atualmente embute ao redor de 70% de chance de que o Fed comece a cortar a taxa básica em março, conforme monitoramento do CME Group. A ferramenta também aponta o cenário mais provável de uma queda acumulada de 150 pontos-base até o fim do ano.
As apostas foram intensificadas na última quarta-feira, quando Powell admitiu que as discussões sobre um abrandamento da política estiveram na mesa de forma preliminar, durante o encontro que definiu a manutenção dos juros entre 5,25% e 5,50%.
A mediana das projeções dos integrantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) indicou expectativa de três cortes no ano que vem. “Acreditamos que a nossa taxa provavelmente está no seu pico ou perto dele neste ciclo de aperto”, disse Powell.
O cenário levou o presidente da distrital de Chicago do Fed, Austan Goolsbee, a defender nesta sexta que a instituição volte a focar no lado do emprego do mandato duplo. Em entrevista ao The Wall Street Journal, o dirigente evitou descartar que o banco central americana siga a precificação do mercado e já corte em março.
Entre analistas, já há quem acredite que o Fed se curvará às apostas de investidores. O Goldman Sachs mudou de julho para março a previsão para o começo do ciclo de cortes. “Prevemos agora três cortes consecutivos de 25 pontos-base em março, maio e junho para redefinir a taxa básica de um nível que o FOMC provavelmente verá em breve como muito acima do necessário”, avalia.