29/05/2002 - 7:00
Mesmo que o empresário Francisco Barreto não fosse fã das baforadas, seria o caso de acender um Dona Flor para comemorar. Afinal, desde que ele comprou metade da Menendez Amerino, maior fabricante brasileira de charutos, os números da empresa não param de surpreender. Em apenas dois anos, o faturamento aumentou 650% e deve bater nos R$ 12,5 milhões em 2002. A produção quase dobrou, e, hoje, da fábrica da Menendez, instalada em São Gonçalo dos Campos, no Recôncavo Baiano, saem 250 mil charutos por mês. Se não bastasse, a companhia desbancou as míticas marcas cubanas e já responde por 80% do mercado nacional, que é de aproximadamente R$ 20 milhões anuais. ?O que fizemos foi profissionalizar as estruturas de vendas, marketing e distribuição. A Menendez era uma empresa familiar competentíssima, mas sem condições de explorar todo o seu potencial?, conta Barreto, dono também do Grupo Multi, da Bahia, que engloba uma distribuidora, uma transportadora e a fabricante de cigarros Cibahia.
A Menendez Amerino produz hoje os charutos premium (com folhas de fumo inteiras e sem aditivos químicos) Dona Flora e Alonso Menendez e as cigarrilhas St. James. Um quarto de sua produção de charutos, ou 750 mil unidades por ano, é exportado ? sobretudo para os Estados Unidos, que ficam com a metade desse volume, e para a Alemanha. Há clientes pitando o produto também no Canadá, na França e nos Emirados Árabes. A companhia gostou da aventura externa e agora quer que as exportações representem 50% de suas vendas. Para isso, ela terá que empreender uma batalha feroz com concorrentes cubanos e dominicanos, os maiores fabricantes mundiais. A produção de cada um deles beira os 140 milhões de charutos por ano. ?Mas querer é poder?, filosofa Barreto. O empresário pretende atacar em três frentes para consolidar a sua expansão internacional: usar Portugal como porta de entrada para a Europa, conquistar novos distribuidores nos Estados Unidos e lançar um charuto que não deixa nada a desejar aos melhores cubanos, inclusive no que diz respeito ao preço alto.
Planos. Parte da estratégia já está em curso. Há três meses, a Menendez embarcou o seu primeiro carregamento para Portugal. Foram apenas 50 mil unidades, mas elas serviram para incomodar as marcas cubanas, que são 40% mais caras e até então reinavam sozinhas entre os 5 milhões de fumantes portugueses. ?Agora vamos entrar na Espanha, que compra 60% de todos os charutos feitos em Cuba?, diz Barreto. Nos Estados Unidos, em função do boicote aos produtos da ilha de Fidel Castro, a briga é com os dominicanos. A Menendez tem dois distribuidores na América e está fechando acordo com mais dois. ?Os americanos fumam 380 milhões de charutos por ano. É um mercado de US$ 1 bilhão. Qualquer casquinha a mais que a gente tire será ótimo?, afirma o empresário. A última tacada da empresa acontecerá em setembro, com o lançamento da marca Aquarius. Barreto não revela quanto está investindo no desenvolvimento da novidade, mas não deve ser pouco. A caixa de madeira que acondiciona o produto foi desenhada nos Estados Unidos e será fabricada na Holanda. ?O Aquarius vai custar muito caro?, avisa ele, sem, no entanto, revelar o preço.
A Menendez Amerino foi fundada há 25 anos pelo produtor brasileiro de fumo Mário Amerino da Silva Portugal e por uma família de muita tradição no ramo ? a cubana Menendez, que teve a sua fábrica de Havana expropriada depois da revolução castrista de 1959. A empresa, desde então sob controle do governo de Fidel Castro, produz os lendários charutos Monte Cristo, que representam 40% de tudo o que é exportado pelo país.