11/04/2025 - 12:14
Apenas 9,5% do plástico mundial é produzido a partir de material reciclado, estimou um novo estudo divulgado na quinta-feira, 10. O restante é quase totalmente produzido a partir da extração de combustíveis fósseis, predominantemente petróleo e gás.
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Os pesquisadores, da Universidade de Tsinghua, na China, alertam que a reciclagem insuficiente impõe desafios ambientais e climáticos cada vez maiores, uma vez que a produção de plástico continua a crescer.
O estudo se baseia em dados de 2022, quando foram produzidos 400 milhões de toneladas de plástico, em comparação a dois milhões em 1950. A previsão é que o volume chegue a 800 milhões de toneladas em 2050.
“A taxa de reciclagem global permaneceu estagnada, refletindo pouca melhora em relação aos anos anteriores”, escreveram os autores na revista Communications Earth & Environment, do grupo Nature.
“A alta dependência de matérias-primas de combustíveis fósseis para a produção de plásticos comprometerá ainda mais os esforços globais para mitigar as mudanças climáticas.”
Para alcançar estas conclusões, os estudiosos usaram estatísticas nacionais, relatórios da indústria e bases de dados internacionais, a fim de criar a primeira análise global detalhada do setor de plásticos, incluindo as fases de produção, uso e descarte.
Problemas da produção ao consumo
Os obstáculos técnicos que ainda dificultam a reciclagem incluem a contaminação do plástico por comida e embalagens e a presença de aditivos complexos e diversos ao material.
Entretanto, outro impeditivo é puramente econômico: é muitas vezes mais barato produzir plástico novo ou “virgem” do que reciclar.
“Essa barreira econômica desestimula o investimento em infraestrutura e tecnologia de reciclagem, perpetuando o ciclo de baixas taxas de reciclagem”, escreveram os autores.
Os Estados Unidos, o maior consumidor de plástico per capita, tem uma das menores taxas de reciclagem, com apenas 5% de reutilização. Um americano consome, em média, 216 quilos de plástico ao ano. Já a China foi o país com o maior consumo absoluto, de 80 milhões de toneladas ao ano.
Cada vez mais incineração
Os pesquisadores do estudo chinês também observaram uma “mudança significativa” no descarte global de resíduos, com declínio do uso de aterros sanitários e o aumento da incineração.
Cerca de um terço dos resíduos plásticos foram incinerados em 2022, com a China, o Japão e a União Europeia tendo a maior taxa de incineração. Enquanto isso, 40% do plástico vai parar em aterros, que ainda são o maior destino do material, apesar de o índice ter caído em comparação aos 79% registrados entre 1950 e 2015.
Em setembro, um estudo separado publicado na Nature por pesquisadores da Universidade de Leeds concluiu que a queima de plástico em lixões e fogueiras era um problema tão grande para o planeta quanto o acúmulo de lixo.
A queima informal de plástico, principalmente em países mais pobres onde não existem alternativas, espalha o plástico no meio ambiente, piora a qualidade do ar e expõe os trabalhadores a produtos químicos tóxicos, argumentou a pesquisa.
Negociações internacionais
Para a Ethel Eljarrat, diretora do Instituto de Diagnóstico Ambiental e Estudos da Água (IDAEA-CSIC) na Espanha, é urgente chegar a acordos internacionais para conter a poluição plástica com medidas variadas. Dentre elas, estão incluídas a imposição de um teto para a produção global de plástico virgem, a promoção de ajuda para a implementação de bioplásticos, a regulamentação ou a proibição do uso de aditivos tóxicos e melhorias nos sistemas de reciclagem mecânica e química.
“Materiais alternativos mais biodegradáveis não estão encontrando seu lugar no mercado, talvez devido às barreiras econômicas e tecnológicas para seu uso em larga escala. Também não conseguimos eliminar a presença de aditivos tóxicos nos plásticos, e a capacidade de reciclagem de material plástico ainda é insuficiente”, disse a especialista.
As descobertas dos pesquisadores da China vêm num momento em que os países se preparam para mais uma vez negociar um tratado sobre a poluição por plástico. A última rodada falhou em chegar a um acordo, e as conversas deverão ser retomadas em Genebra em agosto.