A presença de mulheres em cargos de liderança no Brasil ainda é bastante escassa. No mercado financeiro e de fundos de investimentos, a estatística não é diferente. De acordo com a Quantum Finance, entre 1.052 gestores de fundos, apenas 50 são mulheres, representando 4,75% do total.

Ao olharmos para o número de fundos geridos por mulheres, a disparidade persiste: dos 25.321 existentes, apenas 1.491 são liderados por elas. Ou seja, somente 5,89%. Esses números mostram uma desigualdade que reflete a necessidade urgente de promover mais diversidade na gestão de investimentos.

A Potencia Ventures e o Sororitê Fund 1 são dois exemplos de iniciativas que buscam mudar essa realidade. Gerida por Itali Collini, a Potencia Ventures investe em negócios de impacto social, especialmente voltados para educação e empregabilidade. O fundo, que já conta com 27 startups no portfólio, tem como foco melhorar as condições de vida da população de baixa renda, oferecendo soluções inovadoras para o mercado de trabalho e educação.

Itali Collini destaca que “investir em educação é investir no futuro da América Latina”. Ela reforça que, para o Brasil ser competitivo e garantir condições dignas para a maioria da população, é necessário focar em educação e na qualificação para o futuro do trabalho. “Buscamos soluções que integrem a base da pirâmide social, visando reduzir a desigualdade de emprego e renda no futuro”, completa.

Itali Collini diz que fundos liderados por mulheres tendem a se importar mais com impactos gerados (Crédito: Divulgação)

O Sororitê Fund 1, por sua vez, é liderado por Erica Fridman e Jaana Goeggel, e se concentra em startups early stage com pelo menos uma mulher na equipe fundadora. O fundo direciona recursos para fintechs, healthtech, agritech e retailtech, buscando projetos com alto potencial de escalabilidade.

Segundo Erica Fridman, “fundos liderados por mulheres buscam além da rentabilidade, eles causam um impacto concreto no ecossistema”. Ela diz que, ao apoiar startups com mulheres em posições de liderança, o Sororitê Fund 1 contribui para o avanço dos ODS da ONU, especialmente em equidade de gênero.

Jaana Goeggel ressaltou que, em muitos comitês de investimento, dominados por homens, projetos liderados por mulheres são frequentemente subestimados devido a vieses inconscientes. “A falta de diversidade resulta em avaliações desiguais, afetando o acesso ao capital para as fundadoras. Por isso, é importante que o movimento por mais mulheres em cargos seniores seja incentivado com o apoio de capital”, explica.

Ela acredita que investidores e cotistas devem reconhecer que a diversidade não é apenas uma questão de equidade, mas também uma oportunidade de retorno financeiro. Collini complementa, lembrando que um estudo da Kaufman Fellows mostra que fundos com pelo menos uma mulher na liderança têm o dobro de chance de investir em empresas fundadas por mulheres. O Sororitê já aportou R$ 25 milhões em startups early stage fundadas ou cofundadas por mulheres.

“Quando há diversidade na tomada de decisão, há mais oportunidades para negócios liderados por pessoas diversas. A concentração de perfis semelhantes, composta majoritariamente por homens brancos, gera distorções nos critérios de investimento”, afirmou.

Desde 2002

O Potencia Ventures foi responsável por catalisar a primeira aceleradora de negócios de impacto social no Brasil, a Artemisia, e o primeiro fundo de venture capital de impacto brasileiro, o Vox Capital. Hoje, a Potencia investe diretamente em startups voltadas para educação e empregabilidade, buscando resultados sociais tangíveis e concretos. “Nosso objetivo é criar um ambiente de oportunidades, com mais inclusão e acesso a soluções que melhorem a qualidade da educação e o acesso ao mercado de trabalho”, diz Collini.

A necessidade de ampliar a qualificação no mercado de trabalho é uma preocupação. Em 2022, 75% dos empregadores globalmente relataram dificuldades em encontrar profissionais qualificados. No Brasil, essa taxa sobe para 81%, de acordo com a Randstad. Para Collini, a Potencia Ventures busca responder a esse desafio com projetos que preparam trabalhadores para novas oportunidades, adaptando-se às mudanças tecnológicas e de mercado.