01/10/2008 - 7:00
DESDE O INÍCIO DE SETEMBRO, A americana Gap, localizada na Quinta Avenida, o endereço mais nobre de Manhattan, abriu suas portas para abrigar um espaço da pequena loja francesa Colette. A princípio, parece que a Gap, gigante do varejo de moda que faturou US$ 15,8 bilhões em 2007, está dando uma força para a minúscula Colette, marca com apenas uma loja de 700 metros quadrados, na rua Saint-Honoré, em Paris. Mas é exatamente o contrário. Neste caso, Davi ajuda Golias. A Colette, apesar de pequena, é conhecida por antecipar tendência e tem a imagem de marca descolada no universo fashion. A grife americana, por sua vez, é uma seguidora de moda e, constantemente, precisa rejuvenescer a sua imagem. Por mais simples que pareça, essa associação que termina em 5 de outubro revela um movimento cada vez mais freqüente no setor de varejo: pequenas lojas estão deixando as grandes redes para trás quando o assunto é identificar as necessidades dos clientes. Nesse cenário, além da própria Colette, destacam-se a italiana 10 Corso Como, localizada em Milão; a inglesa Browns, cravada no coração de Londres; e a brasileira NK Store, pousada em São Paulo. ?Elas se diferenciam porque possuem um trabalho mais focado, melhor editado e têm um atendimento pessoal?, diz Carlos Ferreirinha, diretor da MCF Consultoria & Conhecimento.
O gerenciamento dessas lojas é, em alguns casos, comparado ao de um curador de museu. Como são pequenas e podem ter um pouco de cada coisa, acabam vendendo mais do que roupas, mas sim conceitos, estilos de vida. É dessa forma que a italiana 10 Corso Como trabalha. Fundada em 1991, por Carla Sozzani, uma jornalista que escrevia na revista Vogue italiana, ela reúne um espaço dedicado a roupas, outro para livros, uma galeria de arte, vende velas aromáticas, tem um café para os clientes que preferem o dolce sfar niente e possui até um pequeno, mas charmoso, hotel. É ponto de encontro dos aficionados por moda, principalmente durante os desfiles que agitam Milão. ?O segredo dessas lojas é que elas têm a velocidade que uma grande rede não tem e conseguem fazer seus produtos chegar nas mãos dos formadores de opinião com mais precisão?, diz Eugênio Foganholo, diretor da Mixxer Desenvolvimento Empresarial, consultoria especializada em varejo.
A Browns, criada pela inglesa Joan Burstein na década de 70, faz parte desse time. Deve-se a Joan a descoberta de estrelas da moda, como os estilistas John Galliano e Alexander McQueen. Como consegue prever o que fará sucesso nas passarelas e nas ruas? ?Apenas acontece?, diz a modesta Joan. ?Nossas escolhas são instintivas?, explica. Há também, é verdade, um árduo trabalho de edição. A brasileira NK Store, por exemplo, faz isso muito bem. Inaugurada há 11 anos por Natalie Klein, neta do lendário Samuel Klein, o fundador das Casas Bahia, a NK Store tornou-se referência no segmento de luxo e também do varejo, ?Várias lojas já nos procuraram para entender como trabalhamos?, diz Natalie. ?O nosso segredo é o toque pessoal e comprar apenas o que usaria, independentemente de ser caro ou barato?, explica a jovem empresária.