1 – Antônio Bonchristiano
Só dois brasileiros receberam a honraria concedida pelo Fórum Econômico Mundial. Essa organização, a mesma que todos os anos reúne os barões do capitalismo na cidade suíça de Davos, decidiu nomear 100 pessoas em todo o mundo que serão líderes do futuro. Um deles Antônio Bonchristiano, sócio da GP, a empresa de investimento criada por Jorge Paulo Lemann. Bonchristiano já criou empresas como o Submarino.com e também pilota os fundos da GP, que somam investimentos da ordem de R$ 3 bilhões. Para ele, 2003 será um ano especial. Não há no Brasil ninguém tão apto a abocanhar as oportunidades que surgirão no setor elétrico como a GP, que montou um fundo de R$ 240 milhões para investir nessa área e contratou um ex-presidente da Eletrobrás, Firmino Sampaio. O que está na mira de Bonchristiano são as empresas de energia que pertencem às americanas Enron e AES ? duas companhias americanas em dificuldades, que investiram pesado e adquiriram pérolas no Brasil. Uma delas é a Eletropaulo, que, pelo que se comenta no mercado, já teria recebido uma proposta que envolveria a assunção das dívidas da companhia e mais R$ 200 milhões. Portanto, não será surpresa se, neste ano, Bonchristiano aparecer comandando a maior distribuidora de energia da América Latina. Claro, bem ao estilo GP ? não se trata de low profile, mas sim de no profile. Ou seja: hiperdiscretamente.
2 – Alexandre Accioly
No mundo dos negócios, ainda há quem torça o nariz para ele. Afinal, para muita gente, o playboy assumido Alexandre Accioly é mais conhecido pela coleção de namoradas do que pelos feitos empresariais. Mas o fato é que Accioly é um empreendedor nato. Um homem que, em dez anos, partindo de uma dívida de R$ 80 mil, ergueu uma empresa de 10 mil funcionários e receita de R$ 240 milhões: a 4A. Três anos atrás, quando já era o líder do setor de telemarketing, vendeu seu negócio para a Atento, do grupo Telefônica, numa operação estimada em US$ 140 milhões. De lá para cá, Accioly curtiu a vida, investiu em internet, na rádio Joven Pan do Rio de Janeiro e em empreendimentos imobiliários. Mas em 2003 ele deixará um pouco de lado la dolce vita. Seu contrato com a Telefônica previa um período sabático de três anos fora do setor. E justamente agora, livre para atuar, ele volta às origens. ?Terei uma nova empresa de telemarketing e garanto que em dois anos serei um dos maiores, com pelo menos 6 mil funcionários?, garante Accioly, que costuma resumir seu sucesso em dois mandamentos. O primeiro é dividir o poder com os executivos, fazendo com que se tornem sócios. O segundo é nunca dizer não. Todo problema, para Accioly, sempre tem solução. Alguém duvida do seu sucesso na volta ao mercado?

 

3 – Roger Wright
Quem já o viu de perto, espanta-se com sua criatividade na construção das mais complexas engenharias financeiras. O investidor Roger Wright, por muitos anos, foi uma das peças centrais na construção do Garantia como o maior banco de investimentos nacional. Seu nome reapareceu em 2000, quando ele adquiriu parte do Latinarte.com, um portal que promove a arte latina ao redor do mundo. Mas no fim de 2002, Wright voltou com tudo ao associar-se ao fundo que agora se chama Bassini, Playfair & Wright. A especialidade? Investir em empresas em dificuldades. E a primeira grande tacada não poderia ser mais ousada. Wright concebeu uma operação de compra da Embratel, que pertence à concordatária operadora americana WorldCom. O projeto é engenhoso. Um fundo compraria parte das dívidas da WorldCom no exterior, recebendo, como contrapartida, os ativos da empresa no Brasil. E a idéia é que cotas desse fundo sejam adquiridas pelas três operadoras locais do País: Telefônica, Telemar e Brasil Telecom. Em seguida, a Embratel poderia também adquirir a rede de infra-estrutura da Globocabo. E esse é só um dos negócios que saiu da mente de Roger Wright. Ele também planeja, por exemplo, fazer uma oferta de compra da Chapecó, empresa de alimentos do grupo Macri, que enfrenta dificuldades na Argentina. Seu foco é oferecer sempre soluções de mercado, sem dinheiro público.

4 – Carla Cico
Os concorrentes dirão que foi sorte. Carla Cico, presidente da Brasil Telecom, operadora das regiões Sul, Norte e Centro-Oeste, diz que foi planejamento e estratégia. O fato é que enquanto as rivais Telefônica e Telemar gastaram mundos e fundos antecipando metas de universalização da Anatel, a Brasil Telecom foi mais prudente. Apenas seguiu os prazos normais. Resultado: entre as três, a empresa pilotada por Carla é a que hoje mais tem caixa para comprar uma série de ativos de telecomunicações que estão sendo oferecidos na bacia das almas. São empresas como Globenet, Intelig e Metrored, em que se investiram bilhões de dólares e que estão sendo vendidas por alguns milhões. E Carla é a pessoa encarregada de fazer as ofertas. Ao que tudo indica, ela será o principal agente na reestruturação do setor de telefonia brasileiro, que começa pra valer em 2003 ? cinco anos depois da privatização, de acordo com o modelo desenhado pelo ex-ministro Sérgio Motta. Para ela, que antes da Brasil Telecom, implantou os negócios da Telecom Italia em países como Índia e China, nenhuma missão parece impossível. Viciada em maratonas, ela correu a última de Nova York em pouco mais de três horas e meia. Uma de suas prioridades é reduzir esse tempo. Eleita pela Fortune como uma das 100 mulheres mais poderosas do mundo e incluída pela Time na lista dos seus dez líderes do futuro, Carla terá, em 2003, seu ano de colheita. E talvez ainda sobre algum tempo para os treinamentos pelas pistas de cooper de Brasília.

 

5 – Marcos Guerra
Bem-vindo a uma típica empresa de garagem. Tudo começou quinze anos atrás, quando o jovem químico Pedro Guerra desenvolveu uma resina especial para um cliente que produzia carpetes. Como a encomenda era pequena, seu patrão não se interessou em produzi-la. Foi o que bastou para que nascesse, num fundo de quintal de Santo André, no ABC paulista, uma das principais empresas nacionais, de capital privado, que atua de forma integrada na cadeia de petróleo. Trata-se da Agecom, comandada pelos irmãos Pedro e Marcos Guerra (foto). A Agecom hoje distribui petróleo a grandes clientes, vende resinas para diversas indústrias e é responsável por toda a produção dos lubrificantes Agip no Brasil. Com duas fábricas em São Paulo, a Agecom prepara seu grande salto para 2003. A empresa terá uma nova unidade de produção em Camaçari, na Bahia e irá também investir em uma refinaria de derivados de petróleo em um dos países do Mercosul, de onde pretende atender o mercado brasileiro. ?Só com a refinaria, teremos uma receita 30% maior?, garante Pedro Guerra. Já seriam, portanto, R$ 150 milhões. Mas a Agecom tem ambições colossais. O outro irmão, Marcos, preside a Câmara de Comércio Brasil-Irã e é também um dos diretores da câmara russa. Um de seus projetos é trazer, com capitais iranianos, uma refinaria para o Brasil, que competiria diretamente com a Petrobras. “Acreditamos que o novo governo incentivará projetos de empresas de capital nacional como a nossa”, diz Marcos.

6 – Luiz Eduardo Falco
Luiz Eduardo Falco passou o réveillon fazendo contas. Pelos seus cálculos, a Oi, a jovem empresa que ele pilota, deverá ter vendido pelo menos 400 mil celulares só no Natal. São números impressionantes. Nascida há pouco mais de seis meses, a empresa de telefonia celular que pertence à Telemar já terá, no início de 2003, 1,5 milhão de clientes ? um volume quase três vezes maior do que a meta traçada no plano de negócios. Sinal de que Falco já aconteceu em 2002? É verdade, mas 2003 promete ser o grande ano da Oi. ?Vamos buscar o nosso ponto de equilíbrio, que é de 3,5 milhões de clientes?, assegura. O caso da Oi é fenomenal. Nunca uma empresa atingiu uma base tão alta de consumidores em tão pouco tempo. E isso num mercado que, para muitos analistas, já parecia ocupado. O segredo? De cada dez clientes que aderem à Oi, 72% vêem das empresas concorrentes, seja da banda A ou da banda B. Menos de 30% são novos usuários. ?Mesmo em períodos em que o mercado não cresce tanto, a Oi tem avançado?, diz Falco. As empresa da banda A têm uma receita média mensal por cliente da ordem de R$ 40 por mês. No caso da banda B, o ganho médio é de R$ 36. A Oi tem conseguido R$ 37. Sua empresa, ao que tudo indica, poderá ulrapassar a fronteira do primeiro bilhão de faturamento já em 2003. Além disso, no ano que vem, todas as empresas estarão liberadas pela Agência Nacional de Telecomunicações para se fundir e buscar novos sócios. ?A Oi será um dos grandes players do mercado?, garante Falco.

 

7 – Guilherme Emrich
O mineiro Guilherme Emrich é um desconhecido nas rodas empresariais brasileiras, mas seu currículo causa inveja aos interessados em boas oportunidades no mundo empresarial. Dentro da comunidade acadêmica brasileira, em especial o setor de biotecnologia, Emrich é idolatrado e paparicado por suas qualidades. Emrich investe em tecnologia antes do assunto virar moda entre os capitalistas. Junto com outros pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais, ele montou o serviço de buscas Miner, vendido para o Universo On Line no final dos anos 90. Também teve sua participação o lançamento da Biobras, a primeira empresa nacional a fabricar insulina. Esse empreendimento deu tanto resultado que no final de 2001, a companhia foi vendida para a concorrente Novo Nordisk. Guilherme levou para casa US$ 22 milhões e ainda o direito de usar algumas patentes registradas em nome da Biobras. Com esse caixa e as patentes, ele montou uma nova companhia, a Bion, e se prepara para saltos mais ousados no mundo da biotecnologia. Paralelamente, Emrich tem um fundo de investimento de R$ 100 milhões em companhias emergentes em todo o País. Ele vem conversando muito com empresas emergentes em três Estados: São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco. ?Há muito o que se explorar no Brasil e 2003 será o ano mais interessante nessa busca por boas oportunidades?, afirma.

8 – José Ermírio Neto
A Votorantim dos próximos cinqüenta anos começará a ser construída em 2003. A terceira geração do maior grupo industrial do pais quer encontrar seu próprio rumo como seus pais fizeram. São oito primos que dividem o comando do grupo. O banqueiro José Ermírio de Moraes Neto, presidente do banco do grupo, tornou-se um personagem importante nesse novo cenário. ?Precisamos oxigenar o grupo em todas as suas atividades?, diz José Ermírio Neto. No final de 2002, ele recebeu em suas mãos um estudo sobre oportunidades de investimentos em todo o Brasil e que podem levar o Votorantim para novas fronteiras. Esses novos investimentos não têm, necessariamente, um setor definido. O que se procura são empreendimentos com crescimento anual de 10%. ?Queremos boas oportunidades, onde quer que elas estejam?, diz Ermírio de Moraes Neto. Dinheiro não é o problema. Com um faturamento de R$ 9 bilhões e um lucro de R$ 2 bilhões, o clã pretende gastar entre R$ 400 milhões a R$ 1,2 bilhão em cada projeto que se mostre relevante em 2003. Esse novo foco faz sentido diante da atual situação do grupo. A taxa de crescimento dos seus principais ativos, como cimento, não consegue ultrapassar 5% ao ano. A terceira geração quer ir apostar mais alto e 2003 será decisivo para essa iniciativa. Os Ermirio de Moraes sabem que juntos são mais fortes que separados.

9 – Rogério Oliveira
A maior empresa de tecnologia do país, a IBM, entra em 2003 com um novo presidente e um desejo. A companhia decidiu estreitar ainda mais os seus laços com o governo federal. O governo eletrônico será a meta perseguida durante todo o ano. Oliveira esta tão consciente dessa missão que vem tentando manter um contato com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A IBM quer apresentar ao presidente suas qualificações como a empresa de tecnologia mais qualificada do Brasil. ?Somos bons em muitos setores e acho que precisamos ressaltar essas qualidades?, afirma Oliveira. A IBM tem se preparado nos últimos meses para dois cenários em relação ao novo governo. Caso a nova administração necessite de projetos tecnológicos com softwares tradicionais, a IBM tem no bolso vários projetos para apresentar. Sendo a opção no sentido contrário, o mundo do software livre, a empresa também estará presente na disputa com o Linux. A companhia é uma das poucas no mundo com sua dimensão a fazer apostas no software livre visando atender a demandas de seus clientes empresariais e governamentais. A IBM não quer perder um único milímetro desse mercado governamental que por ano compra R$ 2 bilhões das empresas de tecnologia. ?Mesmo projetos de longo alcance social precisam ter soluções tecnológicas robustas nos seus bastidores?, diz Oliveira. E o PT parece pronto a ouvir a mensagem.

10 – Ana Maria Diniz
Por muitos anos, ela foi vista como a pessoa que, mais cedo ou mais tarde, assumiria o comando do Pão de Açúcar, maior rede varejista do País, com receitas superiores a R$ 10 bilhões. Isso aconteceria assim que seu pai, o todo-poderoso Abílio Diniz, se retirasse. Mas, em dezembro do ano passado, quando se anunciou o nome do executivo Augusto Marques da Cruz Filho como sucessor, houve quem visse um isolamento de Ana Diniz no clã. Na verdade, o que parecia um problema era a solução. Ana conquistou de vez a liberdade. Em 2003, pela primeira vez na carreira, ela poderá brilhar longe da sombra do pai. Os planos são ambiciosos. Lançará a consultoria batizada como MetaManagement. O nome é uma homenagem às teses de Fredy Kofman, um argentino que se tornou um dos mais festejados gurus da administração moderna. Numa trilogia de livros, ele desenvolveu esse conceito que prega uma conciliação entre a ética no relacionamento dos funcionários de uma organização e o êxito empresarial. Kofman será um sócio de Ana, que terá outro nome de peso, Peter Senge, como parceiro informal. Ana os conheceu recentemente num seminário em Harvard, nos Estados Unidos, e a sintonia foi perfeita. Agora, ela tem pressa. Ela pretende abrir seu escritório em São Paulo já em fevereiro, mas também estuda o lançamento de filiais na Argentina, no México e na Europa. Como consultora, tentará transferir ao mundo empresarial sua experiência na mais bem-sucedida operação de varejo da América Latina.