O mercado de cerveja sem álcool vem ganhando cada vez mais importância no Brasil. Alvo de muito preconceito nos anos 1990 e começo dos 2000, o consumo da bebida aumentou e ganhou muita força nos últimos anos. De acordo com dados do Euromonitor, o país passou de 140 milhões de litros vendidos em 2019 para 702 milhões de litros em 2024 e ficou atrás apenas da Alemanha no consumo da bebida. Em 2025, a previsão de consumo é de 786 milhões de litros.

Com um público mais jovem querendo opções mais saudáveis e o mercado de bem-estar em ascensão, as três maiores cervejarias do país já estão aumentando as opções de cerveja sem álcool em seu portfólio. A geração Z, de acordo com a MindMiners, está bebendo cada vez menos. Cerca de 45% dos nascidos entre 1997 e 2012 consomem bebida alcóolica, número até 20 pontos percentuais abaixo de gerações anteriores.

Já o mercado de cervejas tradicionais cresce a um ritmo muito mais lento, ainda que seja exponencialmente maior. Enquanto o consumo das variedades sem álcool foi multiplicado por 5,6 vezes entre 2019 e 2025, o de cerveja tradicional passou de 12,6 bilhões de litros para 14,9 bilhões, ou seja, 18,1% de crescimento no período.

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A Ambev conta com três marcas de cerveja sem álcool nas prateleiras: Corona, Brahma e Budweiser. A maior companhia do mercado no país afirmou à reportagem que a categoria de cerveja sem álcool cresceu 20% em vendas no terceiro trimestre de 2025. 

“Os resultados refletem os esforços e investimentos da cia nos últimos anos para tornar sua produção mais tecnológica e inovadora. Hoje, a cerveja zero álcool, por exemplo, se aproxima muito mais da versão regular do que há 10 anos. Nosso portfólio e novas ocasiões de consumo mostram que a cerveja é a bebida mais versátil para moderar sem abrir mão do sabor e da diversão”, disse Gustavo Castro, Diretor de Estratégia e Insights da Ambev.

Estudo do Ministério da Agricultura e Pecuária, Anuário da Cerveja, revela que em 2024 sextuplicou no país a produção de cervejas sem álcool em relação ao ano anterior, além do aumento expressivo no volume de vendas das bebidas de menor teor alcoólico, menos calorias e atributos funcionais, acompanhando tendência de consumo mais consciente e equilibrado.

Heineken lidera mercado

Foto: Divulgação

Apesar de não abrir número de produção e de vendas, a Heineken afirma que lidera o mercado de cerveja zero álcool no país. Lançada em 2020, a Heineken 0.0 é a que tem maior penetração nos lares e a mais vendida no Brasil, tanto nos bares como em volume, de acordo com estudo da Nielsen IQ.

“O processo de produção é o mesmo da versão tradicional, com o álcool sendo retirado na última etapa, por isso, o sabor é semelhante ao da regular”, contou Bruna Rosato, gerente de marketing de Heineken 0.0 no Brasil 

“Reconhecemos o Brasil como um mercado de grande potencial para cervejas sem álcool, considerando a boa aceitação e crescimento constante da participação em volume das cervejas da companhia nesse segmento. É um mercado estratégico pensando no longo prazo, principalmente pelo maior entendimento da moderação no consumo de álcool”, afirmou Rosato. 

O grupo holandês também conta com a Sol sem álcool.

O outro gigante do setor, o Grupo Petrópolis, afirmou à reportagem que as vendas da versão zero álcool da Itaipava aumentaram 27% desde 2022. “Apesar de menor quando comparado à versão com álcool, o movimento de consumo de cervejas sem álcool é uma tendência que o Grupo Petrópolis observa com potencial de crescimento forte nos próximos anos”, afirmou a companhia em nota, reforçando que as cervejas sem álcool representam 1% de toda a produção de cerveja no Brasil 

Setor em dados

  • 45% dos nascidos entre 1997 e 2012 consomem bebida alcóolica, número até 20 pontos percentuais abaixo dos mais velho;
  • O país passou de 140 milhões de litros de cerveja sem álcool vendidos em 2019 para 702 milhões de litros em 2024 e ficou atrás apenas da Alemanha no consumo da bebida;
  • Em 2024 sextuplicou no país a produção de cervejas zero em relação ao ano anterior, de acordo com o Ministério da Agricultura;
  • O mercado de cerveja com álcool teve um crescimento médio de 1% nos últimos três anos, enquanto que o de cervejas sem álcool na casa dos 13%, segundo a Nielsen;
  • Segundo a Euromonitor, a categoria sem álcool vai apresentar uma taxa de crescimento anual de 9% até 2029 e superar a marca de 1,1 bilhão de litros.

Cerveja sem álcool para crescer

Além dos novos hábitos de consumo, a aposta no mercado sem álcool acontece em um momento de estagnação do mercado cervejeiro. De acordo com os número divulgados pela Ambev sobre o terceiro trimestre de 2025, o volume total vendido pela companhia sofreu uma queda de 7,9% no Brasil, sendo 6,6% de recuo em cerveja e 8,6% em bebidas não alcoólicas. 

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Mesmo assim, a Ambev teve alta na receita por hectolitro de 6% por conta da aposta na cerveja sem álcool, premium e super premium. A analista da Levante Inside Corp Caroline Sanchez aponta que essa deve ser uma aposta cada vez mais recorrente, pois o mercado de cerveja se encontra consolidado no país. 

“Acredito esse segmento vai continuar crescendo, porque é uma frente de crescimento real, onde o volume das categorias tradicionais tá um pouco mais travado, um pouco mais limitado. Isso permite uma diferenciação de marca, de valor agregado. Os segmentos premium e saudável tem margens melhores. Esse mercado sem álcool está longe de estar saturado e há um espaço importante a ser explorado no Brasil”, apontou. 

Pequenas buscam o seu espaço

O crescimento do mercado das cervejas artesanais também não deixou a opção zero álcool de fora. Atualmente é possível encontrar diversas opções de cervejas sem álcool de estilos diferentes, como Session IPA ou Stout. Uma das companhias que aposta nesse crescimento é a Etapp. Com uma estratégia ligada ao mundo da corrida de rua, a startup de São Paulo deve atingir 1 milhão de latas produzidas em 2025 e crescer três dígitos pelos próximos três anos. 

“Nosso foco é ampliar a distribuição, fortalecer o canal digital e seguir próximos do esporte, que é o coração da marca. Queremos mostrar que é possível fazer uma cerveja artesanal, saborosa e com propósito”, explicou Eduardo Andrade, cofundador da empresa.