06/12/2025 - 11:00
Esta semana, a brasileira Luana Lopes Lara entrou para um grupo seleto. Aos 29 anos ela é a mais jovem bilionária do mundo a alcançar este posto por conta própria (selfmade), ou seja, sem ter herdado sua fortuna. A catarinense superou Lucy Guo, americana cofundadora da Scale AI, e a cantora Taylor Swift.
O negócio responsável por tornar a brasileira bilionária foi a Kalshi, uma plataforma de mercado de previsões. Com a publicidade da conquista, imediatamente diversas dúvidas começaram a surgir sobre o que se trata esse negócio.
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A plataforma funciona como uma mistura de site de apostas com bolsa de valores, onde os usuários negociam contratos de diversos tipos sobre o desfecho de situações reais. Resultados eleitorais, indicadores econômicos, clima ou cultura pop são alguns dos exemplos de negócios que são fechados pela plataforma da agora bilionária Luana.
O funcionamento é baseada na compra de ações de “Sim” ou “Não” para perguntas específicas; o preço flutua entre 1 centavo e 1 dólar conforme a probabilidade do evento ocorrer.
Aqui no Brasil, o tipo de operação feito por meio da Kalshi ainda é pouco conhecido e não possui regulamentação das autoridades brasileiras. Contudo, a plataforma da brasileira segue as regras estipuladas pela CFTC (Commodity Futures Trading Commission), a mesma autoridade de futuros e derivativos, o que a diferencia de plataformas de apostas.
A empresária, que se formou no MIT, fundou a startup juntamente com Tarek Mansour e, na última semana, ambos levantaram US$ 1 bilhão em uma rodada de investimentos, elevando o valuation da companhia para US$ 11 bilhões (cerca de R$ 58,6 bilhões no câmbio atual). Com essa disparada, os dois fundadores, donos de cerca de 12% cada um, viram o próprio patrimônio saltar para perto de US$ 1,3 bilhão cada.
Como funciona o mercado de previsões?
A pedido da IstoÉ Dinheiro, Arthur Farache, CEO da Hurst Capital, explicou como esse mercado funciona.
“Um mercado de previsão é um tipo de mercado no qual os participantes negociam contratos ligados ao resultado de eventos futuros, como inflação do mês, decisões sobre juros, eleições, indicadores econômicos, lançamentos de produtos ou até vencedores do Oscar”, explicou.
A negociação, na prática, funciona da seguinte forma:
Cada evento listado no mercado se transforma em um “contrato”. A mecânica básica desses contratos é binária:
- O contrato paga US$ 1 se o evento acontecer.
- O contrato paga US$ 0 se o evento não acontecer.
- No vencimento, os contratos são binários e valem US$ 0 e US$ 1.
Por exemplo, se o evento for “A inflação (CPI) de março ficará acima de 3,5%?”, o contrato terá dois preços: Sim e Não. Suponha que o preço do contrato Sim esteja em US$ 0,40. Isso significa que o mercado acredita que há 40% de chance da inflação passar de 3,5%.
Cenário A – Você acha que a inflação vai passar de 3,5%
Você compra o contrato por US$ 0,40.
Se estiver certo, recebe US$ 1.
Lucro = US$ 0,60 por contrato.
Cenário B – Você acha que NÃO vai passar
Você compra o contrato “Não” por US$ 0,60.
Se estiver certo, ganha US$ 1.
Lucro = US$ 0,40 por contrato.
Desta forma, os traders trazem informações do mundo real (dados, modelos, notícias) e isso torna o preço final uma previsão coletiva, como mostrado na literatura econômica. Quanto mais pessoas negociam, mais precisa é essa probabilidade.
Qual é a diferença para as plataforma de bet?
Farache destaca as diferenças entre o mercado de previsões e as plataformas de apostas tradicionais. A principal delas é que as odds, ou seja, a possibilidade dos eventos acontecerem e o quanto vai pagar, não é definida pela casa e sim por oferta e demanda. As características de cada um são:
Apostas tradicionais
- Focam em entretenimento;
- Não são reguladas como instrumentos financeiros;
- Probabilidades são definidas pela “casa”, não pelo mercado;
- O operador pode alterar odds por interesse próprio.
Mercados de previsão
- Regulados como mercados financeiros (nos EUA, pela CFTC);
- O preço surge da oferta e demanda, não de uma casa de apostas;
- Os contratos funcionam como ativos financeiros;
- Incentivam revelação de informação verdadeira, porque quem erra perde dinheiro, e quem acerta ganha
É possível usar como investimento?
Sim, mas com algumas ressalvas importantes. Como investimento, esse mercado funciona da seguinte maneira:
- Você monta posições baseadas em probabilidades.
- Pode montar uma carteira diversificada de eventos.
- Pode operar hedges (proteção).
- Pode usar modelos quantitativos para buscar retornos.
Há fundos quantitativos, traders independentes e economistas que operam no prediction markets como ativos financeiros, especialmente porque:
✔ São mercados eficientes em incorporar informações novas (os preços respondem rápido a dados, pesquisas e fatos do mundo real)
✔ Tendem a seguir um comportamento próximo de random walk, semelhante a mercados maduros.
✔ Podem gerar retornos ajustados ao risco quando o investidor tem informação melhor ou análise superior.
“No entanto, esse mercado é bem diferente de um investimento tradicional: os contratos são binários e valem US$ 0 ou US$ 1 no vencimento, não há dividendos. A liquidez ainda é baixa comparada a bolsa e há limite regulatório de posição”, encerrou o executivo.
