De todos os macroindicadores econômicos (inflação, juro, crescimento), o mais desestabilizador é o desemprego. E ele vem caindo no Brasil. No trimestre móvel terminado em novembro, foi de 7,5% — a menor taxa trimestral desde o período encerrado em fevereiro de 2015, quando também bateu nos 7,5%. Em suma, desde os estragos do segundo governo Dilma Rousseff. O país levou oito anos para se acertar com a história. O índice medido pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua foi divulgado na sexta-feira (29 de dezembro) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação ao trimestre imediatamente anterior (junho-julho-agosto de 2023), caiu 0,3 ponto percentual (estava em 7,8%). No mesmo trimestre de 2022 (setembro-outubro-novembro), a taxa era de 8,1%. O número absoluto de desocupados ficou estável (8,2 milhões de pessoas), mas houve crescimento de 0,9% na população ocupada, que chegou ao recorde de 100,5 milhões de trabalhadores, maior número da série histórica iniciada em 2012. A força de trabalho (soma de ocupados e desocupados) está em 108,7 milhões. A população fora da força totalizou 66,5 milhões. Os indicadores negativos ainda são o número de desalentados (3,4 milhões) e de informais (39,4 milhões). O lado positivo, além da alta da ocupação em si, é que um mercado de trabalho aquecido faz com que o rendimento real suba. Houve alta de 2,3% sobre o trimestre anterior, e a média passou a R$ 3.034. A massa de rendimento real bateu em R$ 300 bilhões, outro recorde da série histórica do IBGE.

LEI DE DIRETRIZES ORCAMENTÁRIAS
Lula faz vetos a LDO. Congresso vai reagir

Na terça-feira (2), o presidente Lula sancionou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024 com 34 vetos. O principal era o dispositivo que estabelecia um cronograma rígido para liberação do dindim das chamadas Emendas do Relator. Em nenhuma quitanda do planeta existe essa rigidez orçamentária requerida pelos congressistas brasileiros. Foi mantido o trecho da lei que prevê meta de déficit fiscal zero para este ano. As contas da União serão consideradas cumpridas se o resultado variar 0,25% do PIB para mais ou para menos. Vitória de Fernando Haddad aqui — apesar de a presidente de seu partido, a deputada federal Gleisi Hoffmann, já ter mandado suas pedradas contra o ministro. Haddad disse em entrevista a O Globo, na terça-feira (2), que “não dá para celebrar bolsa, juros, câmbio, emprego, risco-país, PIB, essas coisas todas, e simultaneamente ter uma resolução que fala ‘está tudo errado, tem que mudar tudo’”, afirmou, referindo-se a um documento do PT feito há um mês em que a legenda fala que “o Brasil precisa se libertar, urgentemente, da ditadura do BC independente e do austericídio fiscal”. Gleisi não gostou e disse que é direito do partido fazer alertas. Roupa suja à parte, os vetos de Lula podem ser detonados no Congresso. O relator da LDO, deputado Danilo Fortes (União Brasil-CE), afirmou por meio de nota que recebeu com preocupação os vetos. Segundo ele, a derrubada de artigos afetam o objetivo da lei, “que é conferir um nível maior de previsibilidade e transparência”, e que tem “confiança de que será possível reverter os vetos para preservar os avanços institucionais, políticos, sociais e econômicos presentes na peça orçamentária”. Tudo o que ele diz parece significar exatamente o oposto. Mas Brasília finge que não.

ARGENTINA
Judiciário frustra reforma trabalhista de Milei

Erica Canepa

Não será fácil Javier Milei cumprir sua agenda libertária (ou liberal). Na quarta-feira (3), a Justiça Trabalhista da Argentina suspendeu parte do pacote econômico do presidente. Os juízes da Câmara Nacional do Trabalho decidiram emitir uma medida cautelar suspendendo temporariamente a implementação do decreto que trazia, entre outros pontos, o fim das chamadas ‘taxas solidárias’, uma arrecadação compulsória dos trabalhadores aos sindicatos. A proposta de Milei era fazer com que as empresas apresentassem aos trabalhadores a opção de contribuir ou não com os sindicatos. Com a decisão da Justiça, os salários voltam a ter o desconto do imposto sindical até que a Câmara de Apelações discuta a medida. A ação contra o decreto de Milei foi iniciada pela Central Geral dos Trabalhadores (CGT), o maior sindicato do país.

Melhor novembro desde 2016

Não fossem as exportações, nos salvando sempre ao performarem acima das importações, o estrago seria maior. Segundo o Banco Central (BC), o déficit nas contas externas em novembro foi de US$ 1,5 bilhão, levemente abaixo de novembro de 2022 (-US$ 1,7 bilhão). A positiva performance da balança comercial — a diferença entre vendas e compras com o exterior — em novembro de 2023 (+US$ 6,7 bi) ficou 42,5% acima do mesmo mês de 2022 (+US$ ºº4,7 bi). Evitou assim que o rombo ficasse maior. O déficit para o mês nessa linha (que inclui, além da balança comercial, pagamentos feitos por turistas fora do País, serviços adquiridos por brasileiros no exterior e remessas de juros, lucros e dividendos) foi o menor desde 2016.