A aversão ao risco deve dar a tônica para o mercado americano nesta segunda-feira (15), refletindo atentado contra o ex-presidente dos EUA Donald Trump. Mas ainda é difícil de prever a intensidade, duração e os impactos dessa reação, diante da falta de precedentes. A avaliação é do economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio de Souza Leal.

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“Em condições normais, uma situação dessas deveria enfraquecer o dólar, porque foi um tiro no coração da sociedade americana. Mas a aversão ao risco pode fazer com que haja uma corrida para os ativos americanos, que são mais seguros”, ele diz. “Mas a aversão ao risco nos Estados Unidos nunca é boa para países emergentes.”

Para Leal, a primeira consequência óbvia do atentado é um grande aumento na chance de Trump se reeleger. O economista traça um paralelo entre o atentado contra o ex-presidente americano e o ataque contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi alvo de uma facada durante a campanha presidencial de 2018.

Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, aponta que há um natural receio com a política fiscal em um eventual governo Trump, por receios de que o republicano tente reeditar cortes vigorosos de impostos em um país cuja situação fiscal já é ruim. Além disso, há temores com sua postura mais hostil em temas comerciais e geopolíticos. “Eventualmente tais preocupações ficam exacerbadas nessa situação”, afirma.

“Mas não sei dizer exatamente se haverá alguma consequência prática desse ato na postura dele daqui para frente. Ao menos, é mais um evento que eleva a instabilidade e a incerteza de um processo eleitoral já complicado”, acrescenta o sócio da Tendências Consultoria.

Escalada

A segunda consequência, segundo Luis Otávio de Souza Leal, é que deve crescer o medo de novos episódios de violência durante as eleições americanas deste ano, diante da polarização nos Estados Unidos. Isso deve sinalizar ao mercado o risco de que o atentado seja apenas a “ponta do iceberg”, alerta Leal.

“Isso veio de onde não se esperava: você esperava que uma atitude violenta pudesse partir dos apoiadores de Trump, como ocorreu na invasão do Capitólio. Mas o atentado mostra que o outro lado – não os democratas, mas os anti-Trump – também estão dispostos a atitudes desesperadas”, afirma.