Após oscilar novamente acima dos R$ 5,80, o dólar perdeu força ante o real e fechou em baixa pelo segundo dia consecutivo, com o mercado calmo mesmo após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar tarifas de 25% para o aço e o alumínio — dois produtos exportados pelo Brasil para os EUA.

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O dólar à vista fechou em baixa de 0,31%, aos R$ 5,7682. Em 2025 a moeda norte-americana acumula queda de 6,65%. Veja cotações.

Às 17h04 na B3 o dólar para março — atualmente o mais líquido — cedia 0,44%, aos R$ 5,7860.

Já o Ibovespa fechou em alta nesta terça-feira, encostando nos 127 mil pontos no melhor momento, com Carrefour Brasil disparando após proposta do controlador para ser o único dono do varejista, enquanto TIM Brasil também teve desempenho robusto após resultado trimestral e divulgação de previsões.

A sessão ainda contou com dados mostrando que a inflação desacelerou no Brasil em janeiro, enquanto o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou que o banco central norte-americano não tem pressa para reduzir os juros. A nova política comercial dos Estados Unidos também continuou no radar.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 0,76%, a 126.521,66 pontos, tendo marcado 125.569,96 pontos na mínima e 126.886,27 pontos na máxima do dia. O volume financeiro somou 20,05 bilhões de reais.

O dólar no dia

Na noite de segunda-feira Trump assinou proclamações elevando a tarifa dos EUA sobre o aço e o alumínio para 25% a partir de 4 de março e eliminando isenções e acordos de cotas para os dois metais.

Em tese, a medida prejudica o Brasil, que exporta principalmente aço para os Estados Unidos. Em reação, o dólar ganhou força ante o real no início do dia — às 10h15 a moeda norte-americana à vista atingiu a cotação máxima de R$5,8083 (+0,39%).

Como em sessões anteriores, no entanto, o dólar perdeu força depois disso e migrou para o território negativo, em sintonia com o movimento da divisa norte-americana ante parte das demais moedas no exterior. Alguns agentes também aproveitaram as cotações acima de R$5,80 para vender moeda.

Uma das avaliações no mercado era a de que Trump, ao estabelecer quase um mês até o início da cobrança de tarifas, abriu margem para o Brasil e outros países afetados negociarem até lá.

Além disso, alguns profissionais avaliam que uma guerra comercial mais ampla pode até gerar oportunidades para o Brasil.

“Toda vez que Trump taxa a China, o dólar ganha valor frente ao resto do mundo, mas a China impõe outras sanções. E quando faz isso, os compradores chineses olham para outros países, como o nosso”, pontuou Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos. “A pauta de exportação (para a China) acaba sendo desviada para cá.”

A maior cautela antes de precificar no câmbio as tarifas de Trump abriu espaço para o dólar ceder à mínima de R$5,7577 (-0,49%) às 12h51. Depois disso, a moeda se manteve no território negativo, em sintonia com o avanço firme do Ibovespa e a queda das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros).

A baixa do dólar no Brasil também acompanhava o recuo da divisa ante seus pares fortes no exterior. Às 17h23, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,41%, a 107,920.

Pela manhã, com efeitos menores no mercado de câmbio, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,16% em janeiro, após alta de 0,52% em dezembro. Essa é a menor taxa para um mês de janeiro desde o início do Plano Real, em 1994, e refletiu principalmente uma queda pontual dos custos de energia.

Já o Banco Central vendeu, em sua operação diária, 15.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 5 de março de 2025.

O dia do Ibovespa

Pela manhã, o IBGE mostrou que o IPCA subiu 0,16% no primeiro mês do ano — em linha com as expectativas de analistas — após uma alta de 0,52% em dezembro, com a menor taxa para janeiro desde o início do Plano Real em 1994. Em 12 meses, o IPCA acumulou avanço de 4,56%.

De acordo com William Queiroz, sócio e advisor da Blue3 Investimentos, os dados corroboraram uma certa calmaria de curto prazo, mas a abertura dos números ainda mostra níveis de preços elevados. Ele também destacou o efeito no mês dos custos de energia elétrica, que foram ajudados pelo Bônus de Itaipu.

Ainda assim, o IPCA dentro do esperado no primeiro mês do ano e núcleos de inflação e números de serviços melhores que os projetados por alguns economistas ajudaram na queda das taxas dos DIs, em um dia marcado ainda por nova baixa do dólar ante o real, o que tende a beneficiar ações sensíveis a juros na B3.

No exterior, o analista de investimentos Gabriel Mollo, da Daycoval Corretora, chamou a atenção para a fala de Powell, particularmente a de que a economia norte-americana está forte e que ele não vê motivos de queda nos juros por ora.

“A economia está forte no geral e fez progressos significativos em direção às nossas metas nos últimos dois anos”, afirmou Powell, fez seu depoimento semestral ao comitê bancário do Senado. “Não precisamos ter pressa para ajustar nossa postura de política monetária.”

DESTAQUES

– CARREFOUR BRASIL ON disparou 10,08%, embalado pela proposta do controlador, o francês Carrefour, para comprar as ações da companhia detidas por acionistas minoritários e deslistar os papéis da bolsa paulista. Considerando uma das opções apresentadas aos acionistas que contempla o pagamento de R$7,70 em dinheiro por ação do varejista brasileiro, o grupo francês pagaria cerca de R$5,3 bilhões para ser o único dono do Carrefour Brasil.

– TIM BRASIL ON avançou 6,95%, após a empresa de telecomunicações reportar lucro líquido 17% maior no quarto trimestre na comparação com o mesmo período em 2023. A TIM também divulgou projeções para o período de 2025 a 2027, que incluem o pagamento de até R$4,1 bilhões aos acionistas este ano. E ainda anunciou acordo com o banco C6 para encerrar a parceria entre as duas companhias, bem como extinguir quatro processos arbitrais em aberto entre as duas empresas.

– HAPVIDA ON saltou 7,26%, tendo no radar relatório do Itaú BBA destacando que as ações são negociadas a múltiplos descontados nos níveis atuais. “Embora os ventos contrários macro e as incertezas regulatórias para 2025 justifiquem algum ceticismo, a empresa ainda apresenta um forte perfil de geração de caixa, com um rendimento FCFE de 10%, mesmo sob suposições conservadoras”, afirmaram em relatório, reiterando classificação de “outperform” para as ações.

– BTG PACTUAL UNIT subiu 2,44%, mais do que recuperando as perdas da véspera, quando fechou em baixa de 1,77%, mesmo após receita e lucro recordes no quarto trimestre e previsão de manutenção do crescimento do ROAE. O Goldman Sachs elevou o preço-avo das units de R$365 para R$37. No setor, ITAÚ UNIBANCO PN ganhou 1,05%, BRADESCO PN avançou 2,33%, SANTANDER BRASIL UNIT valorizou-se 0,38% e BANCO DO BRASIL ON avançou 0,86%

– VALE ON cedeu 0,43%, acompanhando os futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado em Dalian caiu 1,1%. No setor, CSN MINERAÇÃO ON perdeu 1,48% e CSN ON recuou 2,21%, enquanto GERDAU PN avançou 0,97% e USIMINAS PNA subiu 3,5%, com agentes analisando ainda os potenciais reflexos das tarifas dos EUA sobre o aço e alumínio após Trump oficializar a medida. CBA ON subiu 5,51%.

– VIVARA ON caiu 2,17%, após a rede de joalherias anunciar a saída do diretor de marketing, Leonardo Bichara, e que o cargo permanecerá temporariamente vago. Analistas do JPMorgan avaliaram que novas mudanças de gestão devem ampliar os ruídos de governança. Além disso, acrescentaram, mais uma vez um executivo deixa a companhia sem um substituto imediato em tempo integral, levantando mais questões sobre a capacidade da empresa de atrair e reter talentos.

– PETROBRAS PN encerrou estável, mesmo com o avanço dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent subiu 1,49%.

– BOMBRIL PN, que não está no Ibovespa, desabou 21,74%, para R$1,8 após a empresa de produtos de limpeza e higiene doméstica entrar com pedido de recuperação judicial. Em fato relevante ao mercado, a companhia popularmente conhecida por sua esponja de aço citou “contingências tributárias relevantes”, especialmente as relacionadas a autuações da Receita Federal por suposta falta de recolhimento de tributos no valor de cerca de R$2,3 bilhões.