Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) – A primeira semana de 2023 termina com um tom mais positivo do que começou no mercado financeiro brasileiro, com declarações e decisões conflitantes da equipe do novo governo, que minaram o sentimento de investidores já melindrados por questões como a perspectiva fiscal do país.

O dólar caiu 2,17%, a 5,2364 reais, no terceiro dia seguido de queda, enquanto o Ibovespa teve o terceiro avanço, com alta de 1,23%, a 108.963,70 pontos. As taxas dos contratos de DI também voltaram a mostrar alívio.

A recuperação assegurou uma queda semanal de 0,79% do dólar, embora na bolsa o desempenho teve declínio de 0,7%.

Citando a ausência de novidades relevantes no Brasil nos últimos dias, Dan Kawa, diretor de investimentos na gestora na TAG Investimentos, chamou a atenção para os preços e valuations baixos e uma posição técnica saudável.

Mesmo enxergando um pano de fundo que avalia ser bastante negativo, ele afirmou que preços e posição técnica irão oferecer “espasmos de recuperação cíclica dos ativos locais, em um ambiente de muita volatilidade e sem grandes tendências locais, mas com viés de baixa”.

Dólar fecha 1ª semana do novo governo em baixa após tom conciliador de Lula e dados dos EUA

Como pano de fundo dessa melhora, o mercado teve declarações apaziguadoras da equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após repercussão negativa a falas sobre revisão de reformas e decisões desencontradas entre membros do governo.

Um dos episódios que trouxe desconforto foi a prorrogação da isenção de impostos sobre combustíveis, contrariando sinalização do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dias antes. E o ministro da Previdência, Carlos Lupi, teve que voltar atrás, após ter defendido revisão da reforma do setor aprovada em 2019.

Além de ministros anunciando propostas e sendo desmentidos, as propostas com viés mais intervencionista e estatizante também preocuparam agentes financeiros.

A Ibiuna Investimentos, que tem entre os sócios ex-diretores do Banco Central, manteve um viés de baixo envolvimento com ativos brasileiros no momento, citando fundamentos fiscais frágeis, como endividamento elevado, baixo crescimento potencial e altos juros reais.

“Novo governo, velhas ideias. Tudo o que vimos na área econômica durante o período de transição aponta para uma diretriz similar ao implementado pelo governo do PT no período 2011-2015 com resultados amplamente conhecidos”, afirmou a Ibiuna em carta a clientes, com perspectivas para janeiro.

No meio da semana, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, garantiu que o governo não avalia revisão de reformas como a da Previdência, o que foi endossado o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Em paralelo, adotando um tom mais conciliatório, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, empossada na quinta-feira, afirmou que atuará em conjunto com os colegas da equipe econômica, deixando divergências para depois. Também reforçou que não irá descuidar dos gastos públicos.

As ações da Petrobras, que também sofreram no começo da semana com incertezas ligadas à estratégia da empresa sob Lula, tiveram um respiro com declarações do senador Jean Paul Prates, indicado para presidi-la, de que a empresa não irá desvincular preços de combustíveis dos valores internacionais.

Nesta sexta-feira, na primeira reunião ministerial, Lula disse que é possível crescimento econômico com responsabilidade. E também o compromisso de unificar o país e que o governo depende do Congresso.

A recuperação dos ativos ainda encontrou na última sessão da semana um apoio adicional do exterior, com dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos, incluindo arrefecimento de salários e a moderação no crescimento do emprego, em dezembro, acalmando receio sobre o ciclo de alta dos juros pelo Federal Reserve.

Novas medidas para o mercado imobiliário na China corroboraram a continuidade na recuperação dos ativos locais.

A perspectiva, contudo, é de que a volatilidade elevada no curto prazo, diante de incertezas sobre o arcabouço fiscal do novo governo, com análises pessimistas com as diretrizes mais intervencionistas sinalizadas até agora pela nova administração.

“O novo arcabouço fiscal é uma das peças importantes para diminuir algumas incertezas. Enquanto houver sinais antagônicos nesse tema, o mercado vai incorporar isso no preço e a volatilidade continuará alta”, afirmou Fernando Donnay, sócio e gestor de carteiras da G5 Partners.