A escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia no leste da Europa justificou a busca global por ativos mais seguros nesta terça-feira, 19, como o dólar e os títulos dos Estados Unidos, o que fez a moeda norte-americana fechar a sessão em alta ante o real.

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O dólar à vista fechou o dia com avanço de 0,34%, cotado a 5,7679 reais. Em novembro, no entanto, a divisa acumula baixa de 0,24%. Veja cotações.

Às 17h03, o dólar para dezembro — o mais líquido atualmente no Brasil — subia 0,36%, aos 5,7765 reais.

O Ibovespa fechou em alta nesta terça-feira, sustentado pelo desempenho das ações do Itaú Unibanco e da Sabesp, em movimento ainda respaldado pela recuperação dos índices norte-americanos Nasdaq e S&P 500, embora a performance tenha sido limitada pelo recuo dos papéis da Petrobras.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 0,34%, a 128.197,25 pontos, tendo marcado 127.234,80 na mínima e 128.579,47 na máxima do dia, maior patamar intradiário desde 8 de novembro. O volume financeiro somou 19,95 bilhões de reais. Na quarta-feira, não haverá pregão local em razão do feriado da Consciência Negra.

O dólar no dia

No exterior, o ataque da Ucrânia ao território da Rússia com mísseis norte-americanos — o primeiro do atual conflito — elevou as tensões no leste europeu.

Já a Rússia emitiu um sinal de alerta aos Estados Unidos ao alterar suas regras para um ataque nuclear, apenas alguns dias depois que o governo do presidente Joe Biden supostamente permitiu que a Ucrânia dispare mísseis norte-americanos no território russo. A doutrina atualizada descreve as ameaças que fariam com que a Rússia, maior potência nuclear do mundo, usasse estas armas.

Em reação às notícias os investidores foram em busca de ativos de segurança, como títulos norte-americanos e o dólar, em detrimento das moedas de países emergentes como o real.

Após atingir a cotação mínima de 5,7453 reais (-0,05%) às 9h27, ainda na primeira meia hora de negócios, o dólar à vista marcou a máxima de 5,7987 reais (+0,88%) às 10h25.

“Este novo protocolo nuclear da Rússia mexeu com o mercado”, pontuou durante a tarde o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik. “E como é véspera de feriado, muitos agentes também se protegem (na moeda norte-americana), ainda mais porque ainda esperam pela divulgação do pacote fiscal do governo”, acrescentou.

O feriado do Dia da Consciência Negra manterá o mercado brasileiro de moedas fechado nesta quarta-feira, enquanto as operações ocorrem normalmente no exterior.

Pelo cálculo de alguns agentes, há mais chances de o pacote sair a partir de quinta-feira, pós-feriado, já que o encontro do G20 no Rio de Janeiro terminará nesta terça.

No mercado, a leitura é de que se o pacote de contenção de despesas for robusto haverá espaço para retirada de prêmios de risco na curva de juros futuros e na taxa de câmbio.

Pela manhã, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a defender a necessidade de um choque fiscal positivo para assegurar a redução dos prêmios de risco dos ativos brasileiros, que estariam elevados em razão das dúvidas do mercado sobre a capacidade do governo em equilibrar as contas públicas.

No fim da manhã, o BC vendeu todos os 15.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão para rolagem do vencimento de 2 de janeiro de 2025.

No fim da tarde, parte do ímpeto de alta do dólar ante outras divisas já havia abrandado. Às 17h12, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,03%, a 106,190.

O dia do Ibovespa

O Ibovespa, que começou o dia contaminado por um mau humor externo, resultado de preocupações com a escalada das tensões geopolíticas, especialmente o conflito entre Rússia e Ucrânia, conseguiu recuperar fôlego após cinco pregões quase estáveis.

Os índices S&P 500 e Nasdaq também reverteram perdas registradas mais cedo, à medida que os investidores avaliavam o alerta russo aos Estados Unidos com a mudança nas condições para um ataque nuclear, enquanto aguardavam os resultados trimestrais da gigante de chips Nvidia, na quarta-feira.

“A sensibilidade começou com os bancos, e depois se arrastou principalmente para o setor cíclico… elas (ações) também acabaram tendo altas até que relevantes com essa melhora de humor”, disse o analista Alan Martins, da Nova Futura Investimentos.

O mercado encerrava a terça-feira ainda à espera do pacote de corte de gastos do governo federal, que deve dar mais ânimo ao mercado. Em evento da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a defender um choque fiscal positivo para assegurar a redução dos prêmios de risco dos ativos brasileiros.

Na visão do economista Alexsandro Nishimura, da Nomos, enquanto não houver a divulgação do pacote fiscal, o mercado deve seguir “sem força para maiores avanços, mas também ileso de perdas significativas”.

O dia também era marcado pelo encerramento da cúpula de líderes do G20, no Rio de Janeiro.

DESTAQUES

– ITAÚ UNIBANCO PN subiu 0,9%, entre os principais suportes positivos para o Ibovespa, após quatro pregões consecutivos de queda, enquanto BRADESCO PN e BANCO DO BRASIL ON fecharam com altas de 0,73% e 0,54%, respectivamente. Na contramão, SANTANDER BRASIL UNIT encerrou com variação negativa de 0,04%.

– SABESP ON ganhou 2,23%, também entre as maiores contribuições positivas sobre o índice, tendo como pano de fundo a contratação de financiamento de 1,06 bilhão de reais junto à International Finance Corporation (IFC), do Banco Mundial, para programas de infraestrutura de saneamento básico.

– PETROBRAS PN recuou 1,05%, após pregão volátil para o mercado internacional de petróleo, com o barril do Brent, usado como referência pela companhia, encerrando praticamente estável, em 73,31 dólares.

– VALE ON subiu 0,23%, na segunda sessão de alta, em mais um dia de avanço dos contratos futuros do minério de ferro na Ásia. O contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China encerrou as negociações da manhã com alta de 3,05%, a 776 iuanes (107,17 dólares) a tonelada.

– EMBRAER ON caiu 2,19%, com analistas do UBS BB cortando a recomendação das ações de “neutra” para “venda” e indicando que 2025 “pode desapontar investidores”, embora tenham elevado o preço-alvo do papel de 29 para 32 dólares.

– BRF ON avançou 3,74%, com analistas do Itaú BBA trazendo um quadro positivo para “players” de proteína, em relatório de 18 de novembro. A possibilidade de abertura de mercado da China para receber miúdos de bovinos e suínos do Brasil também apoiou os papéis da companhia, segundo o analista Régis Chinchila, da Terra Investimentos. O ministro da Agricultura brasileiro, Carlos Fávaro, disse na véspera que o governo tem uma “nova lista” de habilitações de frigoríficos para exportar à China, sem especificar um prazo para o anúncio. No setor, MARFRIG ON subiu 1,79% e MINERVA ON valorizou-se 0,54%.

– TAESA UNIT avançou 0,88%. A companhia elétrica anunciou na véspera que obteve junto ao Ibama todas as licenças de instalação de projeto de linha de transmissão Açailândia-Dom Eliseu II, entre o Maranhão e o Pará, permitindo o início das obras. O projeto envolve o investimento de 1,12 bilhão de reais e tem extensão de cerca de 280 quilômetros.

– OI ON, que não está no Ibovespa, despencou 16,17%, após a companhia em recuperação judicial informar que espera vender no próximo ano cerca de 500 dos mais de 7 mil imóveis que possui em seu portfólio. A Oi teve aprovada sua migração do regime de concessão para o de autorização na semana passada, o que, segundo a empresa, vai ajudar a acelerar a venda de ativos imobiliários.

– XP ON, que é negociada em Nova York, fechou em queda de 1,07%, antes da divulgação de balanço financeiro do terceiro trimestre, quando obteve lucro líquido de 1,19 bilhão de reais, crescimento de 9% sobre o resultado apurado no mesmo período de 2023. Até a véspera, o papel tinha perda de 35% no ano.