SÃO PAULO (Reuters) – O mercado financeiro melhorou suas projeções para o resultado primário e a dívida bruta do governo em 2023 e 2024, mostrou relatório Prisma Fiscal para fevereiro divulgado nesta terça-feira pelo Ministério da Fazenda.

De acordo com o documento, que capta projeções de agentes de mercado para as contas públicas, a mediana das expectativas para o resultado primário do governo central em 2023 ficou em déficit de 109,64 bilhões de reais, ante saldo negativo de 125,99 bilhões de reais projetado no mês anterior.

+ Campos Neto nega ter proposto aumento da meta de inflação e defende aproximação com Lula

Essa mudança foi resultado de revisão para cima nas estimativas de receita para o período –a 1,91 trilhão de reais, contra 1,89 trilhão de reais em janeiro– e da redução na projeção de despesas –a 2,01 trilhões de reais, de 2,02 trilhões de reais antes.

A melhora das projeções para os números fiscais se deu após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ter apresentado em janeiro um plano de ajuste de até 242,7 bilhões de reais nas contas de 2023, o que faria o resultado primário potencialmente reverter o déficit previsto atualmente e fechar o ano no azul. No entanto, o próprio ministro apontou a possibilidade de haver frustração em parte das iniciativas, o que mantém a perspectiva nublada.

Economistas do mercado financeiro seguem sinalizando preocupações com a responsabilidade do novo governo na conduta das contas públicas, uma vez que a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é vista pelos investidores como mais desenvolvimentista e a equipe econômica não apresentou ainda sua proposta para um novo arcabouço fiscal.

Ainda assim, para 2024 também houve melhora nos prognósticos dos economistas para o resultado primário, a rombo de 96,15 bilhões de reais, contra déficit de 118,58 bilhões estimado em janeiro. As receitas líquidas para o período foram projetadas em 2,03 trilhões de reais no mais recente Prisma, contra 2,00 trilhões antes. A previsão para os gastos do ano que vem, por sua vez, subiu moderadamente, a 2,13 trilhões de reais, ante 2,12 trilhões.

Os analistas consultados pela pasta reduziram a previsão para a dívida bruta do governo geral em 2023 para 78,30% do Produto Interno Bruto (PIB), ante 79,10% na pesquisa de janeiro. Para 2024, a estimativa está em 80,71%, contra 82,40% na pesquisa anterior.

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central avaliou que a revisão do arcabouço fiscal do país diminui a visibilidade sobre as contas públicas e impacta as expectativas de inflação, embora tenha ponderado que a execução do pacote de medidas apresentado pela Fazenda deveria atenuar o risco.

Esse alerta por parte da autarquia, por sua vez, ajudou a desencadear uma série de ataques de Lula e aliados ao BC, com o petista criticando o patamar elevado da taxa Selic e a independência da autoridade monetária. A recente tensão institucional, somada aos temores fiscais pré-existentes, tem pressionado os ativos brasileiros.

 

(Por Luana Maria Benedito; Edição de Camila Moreira e Isabel Versiani)