Já foi a época em que “um dia de cão” significava algo chato ou sofrido, como no filme protagonizado pelo ator americano Al Pacino. Com as mordomias proporcionadas aos cães e gatos por seus donos endinheirados, está cada vez mais fácil ser um animal de estimação, principalmente nos Estados Unidos e no Brasil, os maiores mercados do mundo, com faturamento anual de R$ 108 bilhões e R$ 14,2 bilhões, respectivamente. As extravagâncias do mercado vão desde coleiras produzidas por grifes de alto padrão – como a italiana Gucci ou a britânica Burberry –, refeições preparadas por chefs de cozinha, até hospedagem em hotel de luxo, com diária que chega a R$ 400.

 

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Mercado em alta: a D Pet Hotels, rede de hospedagem de luxo para

cachorros, aposta no requinte e na exclusividade 

 

Donos do maior mercado pet do mundo, os americanos são também pioneiros em criar experiências de luxo para animais de estimação. Prova disso é o caso do hotel de luxo para cães D Pet, localizado no bairro Chelsea, em Nova York, que não economiza nos mimos para seus clientes de quatro patas, disponibilizando até motoristas particulares em veículos luxuosos, como Ferrari, Porsche e Rolls Royce, para recolher os animais em suas casas. Uma diária na suíte mais luxuosa do hotel não sai por menos de R$ 400 e inclui televisores de tela plana, spa, ginástica com personal trainer e cardápio preparado por um chef de cozinha com refeições que custam, em média, R$ 18.

 

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Delícia canina: a La Pet Cuisine comercializa refeições naturais para cães

como o prato de cordeiro com grão de bico

 

O empreendimento, com três andares e quase mil metros quadrados, é o terceiro da americana Alissa Cruz, que pretende abrir franquias em breve. “Abrimos o primeiro hotel D Pet em 2008, no início da crise econômica, e só obtivemos crescimento ano após ano”, afirma Alissa. Em números, o mercado brasileiro parece pequeno se comparado ao dos Estados Unidos, mas, ao que tudo indica, deve ganhar musculatura nos próximos anos. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), só em 2012, as vendas do setor tiveram um aumento de 16,4% em relação ao ano interior. Para Silvio Passarelli, diretor do MBA em Gestão do Luxo da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), não há crise econômica que coloque um freio no mercado pet. 

 

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Tão vip quanto o dono: hotéis e creches para animais de estimação

investem em academia com personal trainer e passeio de Ferrari

 

“O setor voltado para animais de estimação se assemelha mercadologicamente ao de moda infantil”, afirma. “As famílias cortam em último lugar os mimos para os filhos.” A empresária Raquel Yukie Hama, proprietária da creche para cães DogResort, em São Paulo, também credita o sucesso do mercado à maneira carinhosa com que as pessoas tratam seus cães, gatos e correlatos. “Antes as pessoas achavam um absurdo ‘creche para cachorro’”, diz Raquel, que fatura cerca de R$ 80 mil por mês com as mensalidades que superam R$ 600. “Agora as famílias estão repensando a história de ter filhos e, com mais dinheiro no bolso, investindo na qualidade de vida de seus bichinhos.” 

 

O dia a dia dos cães na creche começa às 7h da manhã e só acaba às 20h, com direito a natação, cromoterapia e algumas brincadeiras para deixar o animal mais sociável, além de adestrado, é claro. Com 140 cachorros hospedados por semana, a empresária já pensa em expandir o empreendimento. “Esse mercado só tende a crescer.” Tanto para Raquel quanto para Camila Dotta Machado, dona da loja de artigos de luxo para animais de estimação Simply Pet, em São Paulo, a concorrência ainda não é preocupante. “Ainda há poucas pessoas investindo nesse nicho”, afirma Camila. Com produtos que vão de casaquinhos de paetê e camas ortopédicas até serviços exclusivos, como vinoterapia (hidratação dos pelos feita à base de vinho), a butique é uma das únicas na capital paulista que apostam no segmento de luxo para animais. 

 

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Mordomia: esta cama não é para você, é para o seu cachorro. O hotel fica em Nova York

e custa R$ 400 por dia

 

“Quando abrimos as portas, há três anos, não queríamos ser apenas um pet shop de bairro”, diz Camila. “Tanto é que hoje tenho clientes de vários bairros e até de outras cidades que vêm procurar o cuidado e a exclusividade que não encontram em outros lugares.” A ideia é proporcionar aos cachorros e gatos dos abonados a mesma atenção que eles estão acostumados como consumidores do mercado de luxo. No espaço clínico do local, não há apenas veterinários clínicos gerais. A receita é esmerar-se em detalhes. Por isso, Camila contratou acupunturistas, nutrólogos, fisioterapeutas e até radiologistas. “Meus clientes não querem ter de levar seus animais nos laboratórios e enfrentar filas desagradáveis”, diz a empresária.

 

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Mimos sem fim: além de natação, a creche paulista DogResort também tem espaço

de cromoterapia por mensalidades de até R$ 600

 

A alimentação dos animais também vem recebendo uma atenção toda especial por parte de seus donos. Empresas brasileiras como a Ice Pet, que produz sorvetes para cães e gatos desenvolvidos por veterinários, e a La Pet Cuisine, que comercializa refeições naturais para cachorros, começam a se espalhar pelo País. “Os animais viraram membros da família e , por isso, queremos dar o melhor para eles, inclusive a alimentação”, afirma Juliana Bechara Belo, veterinária e dona do La Pet Cuisine. Os pratos com valor nutricional correspondentes a uma ração premium, como o cordeiro com grão de bico, são de dar água na boca até mesmo em um humano. Do jeito que o mercado pet vai, “um dia de cão”, daqui a pouco, vai passar a significar só coisas boas. 

 

 

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