02/11/2001 - 8:00
O empresário Pedro Bulcão conseguiu realizar o sonho de qualquer comerciante. ?Estamos no mercado há 20 anos e nossos clientes nunca voltaram para reclamar?, diverte-se o ex-publicitário. Seria um grande case de sucesso não fosse pelo setor em que ele atua: a morte. Bulcão é um dos proprietários da Sinaf, uma companhia carioca que criou um insólito ?seguro de morte? ? ou seja, um plano pago mês a mês por ?futuros mortos? que querem se precaver dos inadiáveis gastos com serviços funerários. A empresa providencia e organiza os enterros. ?Protegemos a família ao assumir a realização deste evento?, explica Bulcão. ?Damos assistência e garantimos que ninguém seja financeiramente prejudicado.?
O negócio do além movimenta hoje R$ 23 milhões por ano. Além da renda gerada pelo ?seguro de morte?, Bulcão enche os cofres administrando a funerária Casa Bom Pastor e o cemitério Jardim da Saudade, em Nova Iguaçu, município carioca. ?Somos um grupo do outro mundo?, brinca. Essa saúde de ferro foi conquistada pela companhia graças à adesão das classes C e D. Com um valor mínimo de R$ 5 mensais, a Sinaf garante um funeral simples, porém digno. O serviço só se tornou popular depois que Bulcão decidiu abusar do humor, mesmo que negro, para divulgar seu negócio. Outdoors, banners e peças publicitárias em ônibus e metrô abusam da graça. ?Fica frio que a gente cuida de tudo?; ?Como planejar a morte da sogra?; ?Sujeira é você ir pro céu e sua mulher pro SPC? e ?Cuidado! Sua próxima parada pode ser cardíaca? são só alguns dos lemas usados pela Sinaf em suas campanhas.
Seguro de vida. Nem todo mundo gosta, mas a forma pouco usual de fazer campanha levou o empreendimento de Bulcão às alturas. ?A abordagem é ousada, mas o tom de brincadeira facilitou o acesso de nossos vendedores à clientela?, garante. ?Como as pessoas temem falar de morte, fica mais fácil quando o tom é leve.? Em 1996, ele largou a carreira publicitária ? era diretor de arte de comerciais ? e assumiu o negócio familiar, fundado pelo pai. Na época, a empresa ia bem, mas crescia de forma vegetativa. ?Contávamos apenas com a propaganda boca-a-boca?, lembra. Depois de trazer o tom humorístico para a Sinaf, o número de clientes saltou de 90 mil segurados para 300 mil. ?Conquistamos uma média de 7 mil novos clientes por mês?, comemora Bulcão. Neste mês, a Sinaf promete renascer e literalmente passar desta para melhor. Este ano, o empresário comprou uma seguradora carioca, a Pessoal Companhia de Seguros. E passará a ofecere o cardápio completo. Vai estrear do outro lado, vendendo seguros de vida.