O Federal Reserve (FED, o Banco Central dos Estados Unidos) deve promover um novo aumento de 0,75 ponto percentual nos juros dos Fed Funds (FF) para 3,875% ao ano na reunião de novembro, patamar já precificado por mercados globais. 

De acordo com Jaime Valdivia, economista-chefe da Galapagos Capital, a inflação nos EUA continua a ser um problema difícil de resolver. 

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Ele explica que a inflação é persistente em níveis muito altos, altamente disseminada e mostrando sinais claros de inércia. O núcleo da inflação permanece desconfortavelmente alto e os serviços ainda não atingiram um pico, enquanto os principais bens têm sido bastante voláteis. 

“Após o número do PCE mais recente, a inflação do terceiro trimestre de 2022 – medida pelo FED em suas projeções – ficou em 4,9%. Para chegar aos 4,55% projetados no quarto trimestre de 2022 para o Core PCE, seria necessária uma inflação média mensal do núcleo PCE de 16bp (0,16 ponto percentual) entre outubro e dezembro. Sem chance”, relata Valdivia, que acompanha esse mercado diretamente de Miami, na Flórida (EUA). 

O economista argumenta que as expectativas de inflação de curto prazo estão começando a moderar, mas ainda estão muito acima da meta. Para ele, o mercado de trabalho norte-americano ainda está muito apertado, e que as pressões salariais permanecem muito altas. 

“Acreditamos que o impacto de uma política mais rígida do FED será sentido eventualmente, o mercado imobiliário é um bom exemplo disso, mas a velocidade do progresso é decepcionantemente lenta em nossa opinião”, descreve. 

Sobre as demais reuniões do FOMC, o Comitê de Mercado Aberto, o economista acredita que o BC dos EUA manterá o atual ritmo de alta dos juros em dezembro, mas suavizar esse ritmo no início de 2023. 

Ao se inclinar para estender o ritmo de 0,75 ponto porcentual até dezembro, o presidente do FED Jerome Powell tornaria algumas das preocupações dos membros do conselho sobre estabilidade financeira e excesso mais relevantes, mas com o benefício de um progresso importante no processo de aperto monetário, já que a inflação e as expectativas permanecem muito rígidas. 

Valdivia argumenta que diminuir o ritmo para 0,50 ponto porcentual em dezembro faria sentido se os dados fossem mais benignos, mas arriscaria uma reação eufórica do mercado que relaxaria as condições financeiras, algo ainda contrário à intenção do FED. 

“Acreditamos que uma mudança de ritmo se materializará em algum momento, mas o timing e a comunicação terão que ser criteriosos”, afirma o economista. 

Ele ressalta que desaceleração do ritmo, potencialmente em dezembro, terá que ser acompanhada de uma forte afirmação de que, embora o ciclo possa ser mais lento, ele durará mais do que se imaginava, com uma taxa terminal mais alta. 

“O que faria sentido para nós em uma decisão de dezembro seria uma alta de 0,50 ponto porcentual, paralelamente à uma revisão para cima da taxa terminal para entre 5,25 e 5,5% ao ano e uma explicação clara de que o ciclo de aperto deve durar mais”, disse.  

A Galapagos Capital prevê um aumento de 0,75 ponto percentual em dezembro, pois a dinâmica inflacionária é bastante problemática. 

“Se as perspectivas da inflação melhorarem, seria fácil explicar um fim de ciclo mais rápido e encurtar o período necessário para se manter os juros em patamar elevado”, conclui o economista.