Uma reunião extraordinária de chanceleres do Mercosul debate nesta quarta-feira, em Buenos Aires, a delicada situação regional criada pela crise interna na Venezuela e a iniciativa de avançar em um acordo comercial com a União Europeia.

A anfitriã, a argentina Susana Malcorra, anunciou que Buenos Aires assumirá a presidência pró-tempore do grupo em 1º de janeiro. A Venezuela não pode cumprir essa função, que lhe pertencia durante o segundo semestre desse ano, por estar suspensa do bloco por não se adequar a parâmetros técnicos e políticos que devem ser seguidos.

A causa da medida contra Caracas tem cunho político e nasce da tensão com o governo venezuelano de Nicolás Maduro.

“Estamos a caminho da chancelaria argentina para a reunião de chanceleres do MERCOSUL! Grande povo argentino, eu os saúdo!”, escreveu a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, no Twitter, que impôs assistência à reunião a qual não foi convocada.

Pouco depois, Rodríguez disse ter entrado “pela janela” na reunião do Mercosul.

“Esses presidentes (do bloco) insistem em que a Venezuela não deve participar. Bem, vamos entrar pela janela, porque viemos aqui para defender os direitos da Venezuela e defender e fazer valer os direitos do Mercosul”, afirmou em uma breve coletiva de imprensa em frente ao Palácio San Martin, sede do ministério das Relações Exteriores da Argentina.

Momentos depois, espalhou-se no Twitter uma foto da chanceler dentro do salão de reuniões do palácio, acompanhada por um aliado, o chanceler boliviano David Choquehuanca.

A oposição a Maduro defende que o governo deve aceitar o início de um julgamento político, em um contexto de graves problemas econômicos que atingem a população, enquanto o governo chavista considera tais movimentos como uma “tentativa de golpe de Estado”.

O Mercosul deu uma virada ideológica de 180 graus com os presidentes conservadores Michel Temer no Brasil e Mauricio Macri na Argentina.

Já se passaram os tempos em que os acordos levavam em consideração as afinidades latino americanas entre o venezuelano Hugo Chávez, o brasileiro Lula da Silva, o argentino Néstor Kirchner e o uruguaio José Mujica.

Agora são outros tempos. Brasil e Argentina dizem estar esperando que a Venezuela cumpra “o mais rápido possível” os compromissos do Mercosul para reintegrar-se plenamente ao bloco.

Dando outro enfoque, o governo uruguaio de Tabaré Vázquez reafirmou na terça-feira (13) seu apoio à continuidade da Venezuela no Mercosul com voz e sem voto, após uma conversa na segunda-feira (12) com Nicolás Maduro.

A suspensão imposta a Caracas foi aplicada por não haver incorporado à sua legislação uma série de medidas comerciais e políticas, incluindo o respeito aos direitos humanos.

Neste contexto, a chanceler venezuelana afirmou que o afastamento do seu país era “uma conspiração. Eles alegam uma suposta violação da Venezuela, que não é verdade. Com boa fé a Venezuela incorporou 95% do acervo normativo do Mercosul às suas leis”.

O sensível caso venezuelano domina as conversas dessa quarta-feira no aristocrático palácio San Martín, de estilo francês. Ali se encontrará Malcorra com seus parceiros do Brasil, José Serra; do Paraguai, Eladio Loizaga, e do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa.

Oficialmente se denomina XI Reunião Extraordinária do Conselho do Mercado Comum. Ela antecede outro encontro que será realizado na quinta-feira em Montevidéu.

A prioridade da presidência argentina do bloco será em avançar na negociação de um acordo de livre comércio com a União Europeia, sem incluir a Venezuela. Caracas “sempre foi alheia a essas negociações”, declarou a chanceler.

A criação da união alfandegária do Mercosul no começo da década de 90 prouziu um impulso formidável às economias dos quatro países fundadores.

O comércio se multiplicou. A Argentina e o Brasil passaram a ser os maiores sócios com grandes negócios bilaterais. Porém as crises internas em ambas nações fizeram o grupo entrar na zona nublada em que se encontra.

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