26/05/2025 - 17:15
Chanceler federal Friedrich Merz afirma que Berlim não vai mais impor aos ucranianos limites no emprego de armas alemãs de longo alcance contra o território russo. Moscou crítica medida.O chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz, disse nesta segunda-feira (26/05) que seu governo não vai mais impedir a Ucrânia utilize armas alemãs de longo alcance, como mísseis, contra alvo militares em território russo.
“Já não há limitações de alcance para as armas fornecidas à Ucrânia, nem pelos britânicos, nem pelos franceses, nem por nós, nem pelos americanos”, disse Merz, referindo-se a medidas que tinham sido tomadas por outros países em 2024, como os EUA, que autorizaram em novembro os ucranianos a utilizarem o Sistema de Mísseis Táticos do Exército, ou ATACMS, que têm um alcance de até 306 quilômetros, para ataques na Rússia.
“A Ucrânia pode agora defender-se, por exemplo, atacando posições militares na Rússia”, completou o conservador Merz.
No entanto, o chefe do governo alemão evitou apontar especificamente quais armas alemãs os ucranianos poderão utilizar contra alvos na Rússia. Merz também evitou responder se os alemães pretendem entregar mísseis de longo alcance Taurus à Ucrânia, uma demanda antiga de Kiev. O Taurus alemão, com um alcance de mais de 500 quilômetros, poderia permitir que Kiev atingisse centros logísticos russos bem atrás das linhas inimigas com alta precisão.
O antecessor de Merz na chancelaria federal, o social-democrata Olaf Scholz, recusou terminantemente em fornecer estes mísseis à Ucrânia, argumentando que a Rússia poderia interpretar isto como o envolvimento direto da Alemanha na guerra. Enquanto ainda estava na oposição, Merz chegou a afirmar que era favorável a fornecer os Taurus para os ucranianos.
Mas, depois da sua posse, o governo alemão passou a enfatizar que não daria mais detalhes sobre quais armas estavam sendo enviadas à Ucrânia, preferindo adotar uma postura de ambiguidade estratégica. Em uma entrevista à emissora pública WDR, Merz evitou falar se a Alemanha pretende agora enviar mísseis Taurus para Kiev.
De acordo com a imprensa alemã. nenhum míssil de cruzeiro Taurus foi efetivamente entregue. A arma de maior alcance entregue pela Alemanha até o momento é o lançador de mísseis Mars II, que tem um alcance de 84 quilômetros. Já o sistema Panzerhaubitze 2000 pode atingir alvos a uma distância de 56 quilômetros.
Nas mesmas falas, o chefe do governo alemão ainda denunciou o que chamou de ataque “sem escrúpulos” da Rússia a alvos civis, como cidades, jardins de infância, hospitais e lares de idosos.
“Um país que só consegue defender-se de um agressor no seu próprio território não se está se defendendo suficientemente”, comentou o chanceler federal.
O anúncio de Merz foi feito horas depois de a Rússia ter atacado o território ucraniano com 355 drones e nove mísseis de cruzeiro, que atingiram várias regiões, entre as quais Kiev, Kharkiv e Odessa.
Moscou fala em “decisão perigosa”
Após a divulgação das falas de Merz, a Rússia qualificou o anúncio como uma “decisão bastante perigosa”. “Se estas decisões foram efetivamente tomadas, são absolutamente contrárias às nossas aspirações de chegar a um acordo político (…). Trata-se, portanto, de uma decisão bastante perigosa”, afirmou o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov.
Horas após a divulgação da reação russa, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, minimizou as críticas feitas pelo Kremlin.
“O governo federal alemão sempre disse que ia apoiar a Ucrânia na área da defesa, na sua defesa contra o agressor que é a Rússia. Houve muitas possibilidades para fazer [o presidente russo, Vladimir] Putin regressar à mesa das negociações. Essas oportunidades foram sempre rejeitadas e o que dissemos também sempre é que isto não pode ficar sem consequências”, disse Waddephul.
Wadephul, assim como Merz, também evitou falar sobre os mísseis de longo alcance Taurus.
“Tal como o chanceler federal [Friederich Merz] já disse por diversas vezes, não vamos agora falar sobre sistemas de armas concretos para também manter uma certa ambiguidade, mas, portanto, vamos continuar a agir de forma responsável, mas também de forma eficaz. Isso foi assim no passado e será assim também no futuro”, frisou.
“Mas o certo é que continuaremos a apoiar a Ucrânia na sua defesa contra o agressor Putin e evitar que, de fato, Putin consiga continuar a sua guerra”.
jps (dpa, Lusa, ots)