JANEIRO
A tensa posse de Joseph Biden

O ano começou com uma das maiores ameaças à longa e sólida democracia americana. A eleição presidencial de 2020 havia sido conturbada pelas ameaças de Donald Trump. O republicano afirmou que não daria posse a seu sucessor, o democrata Joseph Biden, pois dizia que o pleito havia sido fraudado. O momento de maior tensão ocorreu no dia 6 de janeiro. Partidários do presidente foram convocados para demonstrações em Washington no dia em que o Congresso deveria ratificar a vitória democrata e foram conclamados pelo presidente a invadir o Capitólio e interromper a sessão. O tumulto causou cinco mortes. No dia 20, Biden tomou posse, sem Trump, que decolou da Casa Branca sem cumprimentar o sucessor.

FEVEREIRO
Pequenos lucram com a GameStop

JUSTIN SULLIVAN

As sardinhas devoraram os tubarões. Em geral, os grandes investidores dominam os mercados e os pequenos tentam seguir seus movimentos. Isso mudou em fevereiro. As ações da rede varejista americana GameStop, especializada em games, vinham sendo pressionadas para baixo por grandes fundos devido à situação financeira complicada da empresa. Por meio da plataforma de mídias sociais Reddit, uma multidão de pequenos investidores se organizou, comprou os papéis e provocou prejuízos bilionários aos investidores profissionais.

MARÇO
BC começa a elevar juros

Sergio Lima

Em 2020, banqueiros centrais ao redor do mundo baixaram juros. O Brasil não foi exceção: em agosto de 2020, a taxa referencial Selic recuou para inéditos 2% ao ano. Porém, no país da falta de ajuste fiscal, juros muito baixos representam inflação fora de controle. Por isso, em março deste ano, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (BC) teve de começar a apertar a política monetária. Na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) daquele mês, a Selic foi elevada para 2,75% ao ano. Houve novos aumentos nas sete reuniões seguintes, com a Selic encerrando 2021 a 9,25% ao ano. E as taxas ainda devem avançar para 11,50% no primeiro semestre de 2022 antes de começarem a recuar.

ABRIL
A pandemia em análise na CPI

Jefferson Rudy

O início do segundo trimestre foi agitado na área política, com repercussões sobre o mercado financeiro. Liderada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a oposição conseguiu articular uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a atuação do governo no combate à pandemia. Em 66 depoimentos realizados ao longo de quase seis meses, o quadro que emergiu foi de erros graves no combate à doença. As falhas deveram-se tanto a teorias falsas como a do “tratamento precoce” quanto a barbaridades logísticas, como a que deixou milhares de pessoas em Manaus sem oxigênio. Ao ser encerrada, a CPI pediu o indiciamento de Jair Bolsonaro e dos ministros da Saúde Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga.

MAIO
Alta histórica do minério de ferro

Marcelo Coelho

Havia uma regra não escrita entre os operadores do mercado internacional de commodities. Em nenhuma hipótese, nunca, o minério de ferro poderia custar mais de US$ 200 por tonelada. Essa regra não escrita foi apagada em 8 de maio, quando as cotações no porto chinês de Tianjin, que servem de parâmetro para o mercado mundial, chegaram a US$ 211 por tonelada, maior nível da história. O que justificou essa valorização foi a confluência de três fatos: a queda da oferta, devido à paralisação de minas na Austrália. O forte aumento da demanda, devido ao anúncio do governo chinês de retomada dos investimentos em infraestrutura. E a liquidez no mercado internacional, que sustentou altas em diversas commodities.

JUNHO
Ibovespa supera 130 mil pontos

Werther Santana

A valorização das commodities, em especial o minério de ferro, que movimentou os mercados internacionais durante o mês de maio foi percebida no mercado brasileiro com alguns dias de defasagem. No dia 7 de junho, o Ibovespa, principal índice da B3 e indicador mais importante do mercado acionário brasileiro, encerrou o pregão a 130.776 pontos, maior nível da história. A alta foi sustentada principalmente pelas ações de empresas de commodities, como a Vale, a Petrobras e as siderúrgicas, cujas cotações foram beneficiadas pelo aumento dos preços do aço nos mercados internacionais.

JULHO
Fundos imobiliários escapam do Leão

Divulgação

Os Fundos de Investimento Imobiliário (FII) foram, ao lado das ações, o investimento mais popular nos últimos anos. No encerramento de 2021, a B3 comemorava 4 milhões de participantes do mercado acionário e 1,5 milhão de investidores em FII. Essa multidão ficou preocupada durante algumas semanas no segundo trimestre. A proposta de reforma tributária em tramitação no Congresso propôs acabar com a principal vantagem desses fundos, que é a isenção fiscal dos rendimentos. Porém, o lobby do setor imobiliário prevaleceu e em julho ficou definido que o Leão permanecerá com as mandíbulas fechadas para esses rendimentos. Os ganhos de capital com a venda das cotas, porém, seguem tributados.

AGOSTO
Pouca chuva, muitos gastos com energia

Istock

Um inverno excepcionalmente seco, com o menor índice de chuvas desde 1931, exauriu boa parte dos reservatórios e obrigou as empresas de energia a recorrer à geração térmica em um momento de cotações do petróleo extremamente elevadas. O resultado não poderia ser outro: as contas de eletricidade atingiram patamares recordes. O impacto sobre os índices de inflação foi pesado e levou o IPCA, a inflação “oficial” para a casa dos dois dígitos, onde permaneceu até o fim do ano. Houve um leve alívio durante o quarto trimestre, mas as tarifas de energia devem demorar para baixar aos níveis anteriores ao estresse hídrico.

SETEMBRO
O calote da chinesa Evergrande

Noel Celis/AFP

Até setembro, poucos investidores fora da China haviam ouvido falar da segunda maior incorporadora chinesa, a Evergrande. Um mastodonte que empregava 200 mil pessoas, havia vendido imóveis para dezenas de milhões de compradores e que possuía de tudo, de estádios de futebol a engarrafadoras de água mineral. Tudo isso graças a uma dívida de US$ 305 bilhões, que começou a deixar de ser paga em setembro. A situação se arrastou até meados de dezembro, quando as agências de classificação de risco S&P e Fitch consideraram a empresa inadimplente. O que ocorrer em 2022 vai definir os rumos do setor imobiliário chinês, que cresceu absurdamente com base em crédito e agora terá de cortar ineficiências.

OUTUBRO
Federal Reserve endurece o jogo

Andrew Harnik

O movimento que começou no Brasil em março foi reproduzido em uma escala muito maior nos Estados Unidos. O Federal Reserve (Fed), o banco central americano, vinha injetando US$ 120 bilhões por mês na economia desde abril de 2020 apenas com a compra de títulos públicos. No total, o Fed injetou US$ 4,8 trilhões no sistema financeiro. Isso pressionou a inflação. Em novembro os preços ao consumidor em 12 meses tinham subido 6,8%, nível mais alto desde 1982. Isso fez Jerome Powell, presidente do Fed, anunciar o início da retirada dos estímulos. A decisão também deixou claro que os juros americanos iriam começar a subir em breve, algo confirmado pelo próprio Fed na última reunião de 2021.

NOVEMBRO
Cotação recorde do Bitcoin

O ano foi agitado para os investidores em criptomoedas. Durante o primeiro semestre, as cotações caíram com decisões do governo chinês de proibir a mineração e as transações com essas moedas e também pelas tentativas de autoridades de outros países de regulamentar esse mercado. Porém, a forte liquidez e o surgimento de novidades como os Non Fungible Tokens (NFT) sustentaram preços recordes para os criptoativos. Em novembro, o bitcoin chegou a seu máximo histórico, com as cotações atingindo o nível de US$ 67,5 mil. Os preços recuaram nas últimas semanas do ano, mas a perspectiva para 2022 é promissora. A crescente interligação entre os criptoativos e a economia tradicional abre espaço para o setor.

DEZEMBRO
IPO do Nubank muda regras do mercado

Richard Drew

Apesar de realizada em Wall Street, a abertura de capital (Initial Public Offering, IPO) do Nubank foi um divisor de águas no mercado de capitais brasileiro. A fintech sem agências (e sem lucro) estreou na Bolsa de Nova York valendo US$ 41,5 bilhões, mais do que o Itaú Unibanco, até então a instituição financeira mais valiosa do mercado. O que seduziu os investidores, especialmente americanos, foram os 48 milhões de clientes e a perspectiva de vender a estratégia de alta tecnologia, agilidade e custos baixos para muitos outros mercados. Além do Brasil, a empresa criada por David Vélez, Cristina Junqueira e Edward Wible promete disputar clientes na América Latina e na Índia.