Criticada em toda a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) até o momento, a Selic, hoje a 13,75%, pode permanecer ainda na casa de dois dígitos, conforme avaliam especialistas da área econômica. O Comitê de Política Monetária (Copom) já deu início à reunião que vai definir a taxa básica de juros nesta terça-feira (2). A ‘super quarta’ promete manter os juros altos, mesmo após as esperadas regras fiscais anunciadas pelo governo. 

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Mudanças da Selic para ‘baixo’ são aguardadas apenas para o segundo semestre de 2023, de modo que o que se espera neste momento é a manutenção da taxa, conforme avalia Pedro Raffy Vartanian, professor doutor do Mestrado Profissional em Economia e Mercados da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

“A taxa Selic caindo para baixo de 10% ainda esse ano seria um feito dificílimo de acontecer. O mercado espera que haja uma redução na taxa, fala-se de expectativas a partir de setembro e que chegaria a 12%. Portanto, muito distante ainda de uma previsão de juros em um dígito”, explica Mauro Rochlin, professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas.

Efeitos do arcabouço 

Embora elogiado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o texto do arcabouço fiscal ainda não teve efeitos sobre a Selic, já que não mostra os meios para atingir seus resultados. 

“Sabemos que há uma relação importante entre a questão fiscal e a taxa de juros. É possível, em cenário de déficit fiscal elevado no futuro, que tenhamos pressão sobre a Selic no presente. Por outro lado, um cenário de melhoria na dívida pública teria efeito positivo, permitindo que os juros viessem a cair”, avalia Vartanian.

Anunciado no fim de março, após a última reunião do Copom, o texto do arcabouço fiscal ainda está em fase inicial, recentemente entregue ao Congresso Nacional. Seu efeito ainda é irrisório, segundo especialistas.

“Não é o simples fato ter apresentado um arcabouço fiscal ao Congresso que vai reduzir a taxa de juros; o texto ainda precisa ser votado e está passando sobre o escrutínio de técnicos e economistas. Inclusive, muitas falhas e necessidades de ajustes tem sendo percebidas. Nesse sentido, nós continuamos do ponto de vista fiscal, mais ou menos como estávamos antes; a única diferença que pelo menos o governo mostrou alguma preocupação em voltar a gerar superávit primário”, afirma Reginaldo Nogueira, economista e diretor sênior do Ibmec.

Pressão de Lula

Na viagem a Portugal, Lula voltou a criticar a taxa de juros brasileira. Campos Neto e equipe do Banco Central do Brasil tem sido alvo de cutucadas do presidente ao longo da terceira gestão presidencial.

“Nós temos um problema no Brasil que Portugal não sei se tem. É que a nossa taxa de juros é muito alta. No Brasil, a taxa Selic, que é referencial, está em 13,75%. Ninguém toma dinheiro emprestado a 13,75%, ninguém”, discursou o petista.

Para os especialistas, em se tratando de um Banco Central autônomo, as críticas ao patamar da taxa não exercem resultado sobre as decisões do Copom. 

“Os comentários do presidente Lula respeito a taxa de juros e os diversos ataques feitos ao BC, na prática, não têm capacidade de influenciar as decisões de condução de política monetária, que depende do acompanhamento dos indicadores de inflação e de atividade econômica, principalmente das expectativas de inflação”, reforça Nogueira.

Ele acrescenta que o meio político e a pressão sobre o Banco Central podem conseguir, no máximo, influenciar um aumento da Selic futuramente. “Gera uma preocupação a respeito do que será da autonomia legal do Banco nos próximos anos, ou que será da diretoria na medida que os mandatos forem vencendo e o presidente puderem indicar novas pessoas. O efeito de pressão se concentra em longo prazo e de forma negativa”, conclui o economista.

“As críticas que o presidente faz acabam funcionando como um bumerangue, se voltando contra o próprio governo. Isso porque é essa pressão pode erodir a credibilidade do BC, que faz com que o próprio banco acabe adotando uma política mais rigorosa ainda para buscar preservar sua sua credibilidade”, endossa Rochlin.