O Federal Reserve deve manter a taxa de juros inalterada ao fim de sua reunião na próxima semana, mas a história mais importante que se desenrolará será como o banco central dos Estados Unidos confrontará as primeiras medidas do presidente Donald Trump, que provavelmente moldarão a economia este ano.

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Trump já estava complicando o trabalho do Fed com promessas de restringir a imigração e aumentar as taxas de importação e, na quinta-feira, 23, disse a líderes empresariais globais durante o Fórum Econômico Mundia em Davos que pedirá que o banco central reduza os juros.

“Vou exigir que os juros caiam imediatamente e, da mesma forma, eles deveriam estar caindo em todo o mundo”, disse Trump no Fórum Econômico Mundial, em Davos, revisitando uma forma de pressão que ele aplicava regularmente ao Fed com pouco efeito aparente em seu primeiro mandato.

Nos primeiros dias de seu novo mandato, Trump endureceu as regras de imigração, com a expectativa de um aumento nas deportações, e ameaçou elevar tarifas de importação em 1º de fevereiro, a primeira do que se espera ser uma série de medidas que podem se concretizar de maneiras ainda desconhecidas.

Política torna decisão mais complexa

O desafio para o chair do Fed, Jerome Powell, e seus colegas será determinar o quanto permitir que a incerteza sobre o que está por vir influencie as decisões de política monetária e o quanto orientar sobre as perspectivas do Fed.

A orientação do Fed “é uma previsão, e hoje em dia qualquer previsão tem a ver com economia política. Isso é difícil de ser feito por uma agência independente”, disse Vincent Reinhart, ex-membro do Fed e atual economista-chefe do BNY Investments.

“Não se pode mudar a política monetária com base na suposição de que haverá tarifas ou legislação tributária até o final deste ano. Neste momento, há muitas partes em movimento.”

O que o Fed deve avaliar para definir juros

A velocidade e a direção das medidas de Trump nos próximos meses provavelmente influenciarão o que o Fed espera que seja a última fase de sua luta para conter a inflação, que atingiu o maior nível em 40 anos em 2022, mas agora está a cerca de meio ponto percentual de sua meta de 2%.

Depois de reduzir a taxa de juros em um ponto percentual no ano passado, o Fed se reúne na terça e na quarta-feira, e é provável que mantenha os juros na faixa atual de 4,25% a 4,50%.

Os dados desde a última reunião do Fed, em 17 e 18 de dezembro, mantiveram intacta a visão central entre as autoridades de que a inflação continuará se movendo de forma constante, ainda que lentamente, em direção a meta 2%, com uma taxa de desemprego baixa e a continuidade das contratações e do crescimento econômico.

As autoridades do Fed já acenaram para os possíveis efeitos das políticas comerciais e de imigração e outras políticas de Trump, com a reunião de dezembro prevendo um crescimento um pouco mais lento, maior desemprego e pouco progresso na inflação para o próximo ano.

A ata dessa reunião mostraram que “vários” membros passaram por um exercício semelhante, com uma projeção mediana atualizada deles mostrando menos progresso na inflação e um ritmo mais lento de cortes até 2025 – apenas meio ponto percentual em comparação com o ponto inteiro visto em setembro.

Inflação parece que vai melhorar

O último relatório de preços ao consumidor mostrou que a inflação aumentou ligeiramente em dezembro, mas foi impulsionada pela volatilidade dos preços de energia, algo que o Fed tenta levar em conta em sua análise das tendências subjacentes de preços.

O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, caiu ligeiramente. O mais importante para o Fed é que os preços ao consumidor e outros componentes do índice PCE sugerem que o núcleo subiu a uma taxa anual de quase 2% até dezembro e tem estado próximo da meta do Fed em uma base de três a seis meses.

Além disso, as autoridades do Fed acham que os dados devem se mostrar favoráveis este ano. Como a inflação foi inesperadamente alta no início de 2024, à medida que esses meses fortes caírem dos cálculos anuais, os chamados “efeitos de base” ajudarão a ancorar a inflação em um nível menor.

Ganhos de empregos se mantém

“Os riscos de queda no mercado de trabalho parecem ter diminuído”, disse o chair do Fed, Jerome Powell, após a reunião de dezembro. Embora o mercado de trabalho ainda esteja esfriando, ele disse que permanecia “sólido”, uma situação que o Fed esperava manter.

Desde então, os dados têm se mantido positivos, com a economia acrescentando cerca de 250.000 empregos em dezembro e a taxa de desemprego caindo para 4,1% – outro motivo pelo qual as autoridades se sentem confortáveis em interromper os cortes nos juros, pelo menos por enquanto.