Quase metade dos imóveis do clã Bolsonaro foi adquirida com dinheiro em espécie nas últimas três décadas. De acordo com levantamento do portal de notícias UOL, irmãos e filhos do presidente negociaram 107 imóveis desde 1990.

A reportagem do UOL indica que desde que Jair Bolsonaro chegou à política, na década de 90, o patrimônio se multiplicou em seus diferentes núcleos familiares. Até 1999, a família adquiriu 12 imóveis. Entre vendas e novas aquisições, neste ano, o clã segue proprietário de 56 dos 107 imóveis transacionados nas últimas décadas.

+Morre ex-líder da União Soviética Mikhail Gorbachev, dizem agências

Ao menos 51 dos imóveis foram comprados total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo. As compras “em moeda corrente nacional” somam R$ 13,5 milhões, segundo o portal de notícias.

O imóvel mais caro dessa lista pertence ao Cunhado do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), José Orestes Fonseca comprou em dinheiro uma casa em terreno com quase 20 mil metros quadrados no interior de São Paulo, no valor de R$ 2,67 milhões. A compra do imóvel em Cajati foi feita em dinheiro e ocorreu em 2018.

No passado, o terreno abrigava a casa de visitantes da Bunge Fertilizantes, empresa pioneira na exploração de minério de fosfato. Luxuoso, o imóvel recebia executivos da multinacional. Antes de ser comprada pelo cunhado do presidente, a área era responsabilidade da Vale.

Além de uma série de reformas na construção original, os novos moradores construíram uma segunda casa. Nela, há quadras esportivas, área de lazer e um clube de tiro particular. Criado em 2020 por Orestes, em sociedade com os dois filhos, o clube ainda não consta entre os registrados pelo Exército.

De acordo com o portal UOL, José Orestes não foi localizado para falar sobre a compra. Segundo um dos filhos dele, citado pela reportagem, a família não iria se manifestaria. O presidente Bolsonaro também não respondeu aos questionamentos do portal de notícias.

Rachadinha

Pelo menos as compras de 25 dos imóveis ocorreram de forma a suscitar investigações do Ministério Público do Rio e do Distrito Federal, de acordo com a apuração do site. Esse grupo é composto por aquisições e vendas dos filhos e das ex-mulheres do presidente – não necessariamente com dinheiro vivo.

Entre essas, o inquérito das rachadinhas (desvio de salário de assessores) do senador Flávio Bolsonaro. Em maio, o Tribunal de Justiça do Rio aceitou o pedido do Ministério Público e rejeitou a denúncia por peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro oferecida contra ele.

No entanto, com a decisão, o MP diz que poderá recomeçar as investigações sobre o caso, com a coleta de novas provas, com base no primeiro relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Esse documento apontou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta no nome de um ex-assessor de Flávio, Fabrício Queiroz, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. A movimentação atípica que deu origem à investigação sobre as rachadinhas foi revelada pelo Estadão.

Como também mostrou o Estadão, em março do ano passado, transações com imóveis foram alvos privilegiados do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) nas investigações envolvendo o parlamentar. Promotores suspeitavam que o filho Zero Um do presidente usava transações imobiliárias para lavar dinheiro ilegal repassado pelos funcionários “fantasmas”.