A série de intoxicações por metanol em garrafas de destilados na última semana já começa a sufocar o setor de bares em São Paulo. Proprietários de estabelecimentos entrevistados pela IstoÉ Dinheiro reportaram quedas de até 60% no faturamento, com as casas mais esvaziadas e consumo menor do que o usual de drinks entre os poucos clientes presentes.

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“Tem muito menos pessoas, e o pessoal não quer tomar destilado nenhum. Só a cervejinha”, conta o proprietário do bar Amigos do Zé, José Rodrigues. O empresário afirma que seu faturamento passou de uma média de R$ 15 mil no final de semana para cerca de R$ 5 mil, uma queda de cerca de 60%. Clientes frequentes, acostumados a sempre beber drinks, desta vez pediram cerveja ou refrigerante.

Dona de outro estabelecimento na cidade, o Comandante Bar, Tata Jorge afirma que o público passou de uma média de 200 pessoas para menos de 40. O local precisou dispensar quatro atendentes normalmente acionados por diária para reforçar o serviço nos finais de semana.

“Estamos vivendo uma crise em nível nacional e, acredito que assim como eu, outros donos de bares, também estão sentindo”, afirma Tata Jorge.

A Associação de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel-SP) afirma que identificou um impacto no setor e formula um estudo sobre o assunto, ainda não concluído. Segundo seu presidente, Paulo Solmucci, os estabelecimentos tiveram uma queda de aproximadamente 25% do público nesta última semana.

Nos bares do grupo Hungry (Bar Jobim, Garota da Vila e Garota da Chácara), houve troca de pacotes open bar para festas com drinks por outros mais simples, com apenas cerveja e chope. “A nossa expectativa é uma migração do consumo de destilados para produtos como cerveja, chope, até mesmo vinho”, diz seu coproprietário, André Silveira.

No Bar Garota da Vila, consumo de destilados foi substituído por cerveja (Crédito:Divulgação)

As baladas também são afetadas. Dono de quatro estabelecimentos, Daniel Prado reporta mudanças no Kat Klub (que teve queda de 20% no público e de 80% na venda de destilados); no Augusta Hi-Fi e Theatro (cujo público recuou 30%) e no Cool Doce, único com movimento estável, apesar de uma troca de drinks por enlatados.

Bares e baladas mudam o menu

Os proprietários de bares e baladas ouvidos pela IstoÉ Dinheiro queixam-se de que a população ainda não sabe marcas e tipos de bebidas a evitar. “Percebemos falta de informação sobre quais bebidas foram adulteradas e podem representar riscos. Há várias opções, fora os enlatados, que são totalmente seguras”, afirma Prado.

Para tentar suprir essa desinformação, os próprios estabelecimentos estão produzindo cardápios alternativos para o momento de crise.

“Existem drinks que fogem totalmente do que está sendo investigado”, segue Prado, citando licores, saquês, vinhos e destilados artesanais. “Nossa missão agora é criar opções de drinks e divulgar essas informações, para que as pessoas percebam que ainda existem alternativas para sair e curtir com segurança.”

Outros estabelecimentos, como o Comandante Bar e o Amigos do Zé, suspenderam totalmente a venda de destilados por ora. “Não estou nem fazendo questão de vender drinks nesse momento. Porque se o cliente vem aqui e toma uma caipirinha, depois de tomar uma ruim em outro bar, passa mal, a gente está no meio”, conta José Rodrigues.

Para Tata Jorge, do Comandante Bar, o momento se assemelha à pandemia da covid-19. “A gente está fazendo tudo pelo cliente, e precisa que o cliente dê um voto de confiança e venha também passar isso com a gente. Se você não vem beber, vem comer alguma coisa, tomar um refrigerante, mas não larga a nossa mão nesse momento”, pede.

Para estimular as pessoas a saírem de casa, vários estabelecimentos passaram a compartilhar posts em suas redes sociais em que demonstram confiança em seus fornecedores. Outros, como os bares do grupo Hungry, passaram a disponibilizar suas notas fiscais para conferência dos clientes ou até de autoridades.

“Em vez da gente mandar essas notas fiscais para o nosso escritório, para o nosso financeiro, a gente está procurando reter elas nas lojas para ser mais fácil de apresentar”, diz André Silveira.

A crise do metanol

Até a segunda-feira (7), o Brasil contabilizava 17 casos confirmados de intoxicação por metanol e outros 200 em investigação. Cerca de 82,49% das notificações no país estão concentradas no estado de São Paulo. Em seguida, aparece o Paraná com dois casos confirmados e quatro em investigação.

Os últimos dados do governo do estado apontam que foram vistoriados 18 bares ou distribuidoras de bebidas, dos quais 11 foram interditados cautelarmente por conta de questões sanitárias. Também divulgou ter realizado 20 prisões nesta semana.