Os casos de adulteração de bebidas alcoólicas por metanol tem preocupado não só consumidores como também bares e distribuidores. Para tentar tranquilizar a clientela, diversos bares de São Paulo começaram a compartilhar postagens em suas redes sociais defendendo a qualidade dos produtos comercializados e divulgando até mesmo o nome dos seus fornecedores.

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A corrida dos donos de bares para tranquilizar os clientes busca garantir o movimento no próximo final de semana. Como as notícias sobre intoxicação de metanol começaram a circular no domingo, ainda não houve impacto econômico nos estabelecimentos. Mas todo o setor manifesta preocupação com o abalo do escândalo na venda de bebidas com metanol, sobretudo quem fabrica ou comercializa destilados.

“Ficou todo mundo alertado, né? Aí nós juntamos para fazer a postagem e falar de onde vem o nosso produto”, afirma José Berinjela, dono do Bar do Berinjela. “Isso aí dá uma confiabilidade boa, né?”

Fornecedores e distribuidores de bebidas também iniciaram contatos com seus clientes para defender sua idoneidade e que os clientes “fiquem tranquilos” como ocorreu com o proprietário do Julinho Clube. “Quem me mandou o flyer foi a própria empresa”, conta Julinho Camargo, que decidiu compartilhar a imagem para assegurar aos clientes a credibilidade do estabelecimento e de quem enche os estoques.

Segundo a Abrasel-SP (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo), o movimento é espontâneo e partiu dos próprios proprietários. A IstoÉ Dinheiro contabilizou diversas publicações do tipo por estabelecimentos da capital e região metropolitana.

Postagens de bares buscam tranquilizar clientes em meio a uma série de intoxicações por metanol em bebidas destiladas (Crédito:Reprodução)

A Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo já contabilizou sete casos de intoxicação por metanol até as 18h de terça-feira (30). Outros 15 casos seguem em investigação. Foi confirmado um óbito na capital e outros três seguem em análise, assim como outra morte em São Bernardo do Campo.

As garantias dos fornecedores

Os empresários ouvidos pela IstoÉ Dinheiro defendem a qualidade e credibilidade de seus fornecedores pelo tempo em que trabalham com eles, vários com parcerias de mais de uma década. Mas os mais novos no mercado correram também para conferir as garantias neste momento crítico.

“A gente já pegava só com fornecedor credenciado. Quando eu vi a gravidade da situação nas notícias, eu decidi já pedir para eles os laudos que tinham de vigilância sanitária, de tudo”, afirma um dos sócios do Sirigoela Bar, Tiago Crispim. 

Os comerciantes no entanto relatam que oportunidades suspeitas são frequentes. “Já aconteceu do cara oferecer para mim bebida na porta. Falar: ‘Ah, tô com uma caixa aqui, barato para caramba’ Aí da onde vem isso, sabe? Às vezes é até real, mas é roubado, né?”, afirma Marco Badin, dono do Hangar 110. “O que tem que ser claro para as empresas que trabalham nesse segmento é que tem que comprar com consciência.”

José Berinjela relata episódios semelhantes. “Mas se você vê uma bebida muito mais barata, isso já deixa você alertado”, diz.

Segundo a Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD), a diferença de preço de um produto ilegal é em média, 35% mais barato do que o original, podendo chegar a até 48%.

Fiscalização e reclamações

A parcela de destilados ilegais vendidos no país corresponde a 28% do mercado total, segundo dados da Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD). O impacto de impostos não pagos no Brasil com a venda chega a R$ 28 bilhões.

Tanto a ABBD como a Abrasel-SP mencionaram a necessidade de uma fiscalização eficiente ao comentar as recentes intoxicações por metanol. A ABBD menciona outras causas para a força do mercado ilegal, como “sofisticação do crime organizado e a proliferação de canais de venda informais e digitais”, além de considerar que os impostos sobre sua produção tornam os produtos ilegais muito competitivos.

A queixa sobre vigilância e supervisionamento também foi reportada pelos proprietários ouvidos pela IstoÉ Dinheiro.

“Devia ter fiscalização dos bares, para ver se todos estão adequados. Sirigoela tem mais de dois anos de casa e sinceramente nunca recebeu uma visita”, conta Crispim.

Em nota, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) divulgou que recomendou “aos órgãos de defesa do consumidor, especialmente os Procons estaduais e municipais, a intensificar ações de prevenção, fiscalização e orientação junto ao mercado de bebidas alcoólicas, com foco inicial no estado de São Paulo e regiões limítrofes”.

Como certificar seus fornecedores?

Em meio à crise, a Abrasel-SP divulgou nota em que recomenda aos bares e restaurantes buscarem apenas grandes fornecedores, “o que reduz significativamente o risco de receber produtos falsificados”. Também orientou que seja feito o descarte correto das garrafas, para que elas não possam ser reaproveitadas em falsificações.

A ABBD orientou a buscar fornecedores “de confiança”, e publicou dicas sobre como identificar uma bebida falsa ou adulterada:

– Desconfie de ofertas com preço muito abaixo do normal;

— Verifique se há alterações no rótulo do produto;

– Observe se o volume da garrafa está muito baixo ou muito alto;

– Veja se o lacre de segurança está intacto;

– Observe e compare a coloração do líquido;

– Certifique-se de que há as advertências obrigatórias sobre o consumo excessivo de álcool.