Facebook, ou como se chamava a big tech de Mark Zuckerberg até 2021, decidiu mudar de nome para Meta no fim daquele ano. Junto à repaginação da marca, veio um anúncio ousado de uma aposta em um novo espectro de tecnologias, o metaverso, investimento que custou US$ 36 bilhões até outubro do ano passado. O hype se instaurou e a McKinsey em relatório avaliou o potencial desse mercado em até US$ 5 trilhões até 2030. Para a Meta, até aqui foi mais um tiro no pé, que deu um passo para trás no projeto em abril deste ano e afirmou publicamente não estar mais apresentando-o para investidores. O faturamento caiu 1% no ano passado, de US$ 117 bilhões para US$ 116 bilhões na comparação com o ano anterior. Apesar disso, a promessa trouxe bons resultados para o valor de mercado, que bateu US$ 700 bilhões na quarta-feira (14), com alta de 62% no valor das ações ano a ano.

Neste mês, o Metaverso ganhou mais um respiro com o anúncio duplo de Meta e Apple de novos produtos para o segmento.

Zuckerberg apresentou a versão mais atualizada de seus óculos de realidade virtual, com enfoque em jogos. “A melhor maneira de ter experiências de realidade mista e virtual”, disse o CEO da Meta em anúncio no seu Instagram. “O nosso headset mais poderoso até agora.”

Foi pouco perto da refinada divulgação da Apple, que seguiu caminho diferente, apostando na realidade aumentada e aplicações para consumidores finais, como home office, filmes, vídeo chamadas e outras atividades cotidianas. “A engenharia de amanhã, hoje”, como afirmou Tim Cook, CEO da Apple, durante a exibição do novo produto de US$ 3,5 mil.

Mistérios de um segmento cheio de expectativas

Os dois anúncios deixaram dúvidas: o porquê de a Meta voltar agora para o jogo e o motivo pelo qual a Apple escolheu este momento para entrar na competição.

A primeira é respondida com o conceito do ciclo de hype da tecnologia, estabelecido pela Gartner, referência mundial de consultoria em tecnologia.

Se baseia em uma etapa inicial, onde um potencial avanço tecnológico dá o pontapé; um pico de expectativas infladas, com histórias de sucesso e dezenas de fracassos; uma etapa de desilusão, que apresenta a diminuição do interesse à medida que experimentos e implementações falham; um esclarecimento de como a tecnologia pode beneficiar a empresa começa a se cristalizar e ser compreendida; e por fim um platô de produtividade, no qual a adoção do público geral decola.

O mesmo aconteceu com o Google em 2013 com o Google Glass (óculos de realidade aumentada) e parece se repetir com o metaverso da Meta.

O hype inicial acabou, mas a Apple acaba de reacender a chama, com novas possibilidades e aplicações mostradas em seu anúncio.

Fernando Moulin, da Sponsorb, especialista em negócios: “Acredito que, num futuro não tão distante, teremos diariamente experiências multirrealidade” (Crédito:Divulgação)

ESTRATÉGIA

Para Fernando Moulin, sócio da Sponsorb, professor e especialista em negócios, transformação digital e experiência do cliente, não há nada de novo sob o sol a respeito do processo de maturação da ideia inicial desse universo virtual.

“A Meta apostou em um conceito muito amplo de Metaverso para um mercado que ainda não estava maduro.”
Fernando Moulin, sócio da Sponsorb

“Mesmo assim, acredito que, num futuro não tão distante, viveremos um mundo onde teremos diariamente experiências multirrealidade.”

Já sobre a decisão em se aventurar só agora no mercado, Moulin diz que, historicamente, é difícil ver a Apple ser a primeira a lançar um produto. “Antes de levar qualquer produto ao público, ela [a Apple] prioriza um momento de observação do mercado, das tendências e de amadurecimento da tecnologia.”

Além disso, a investida no mundo da realidade virtual não é de agora, começou em 2015, quando adquiriu a empresa alemã Metaio e posteriormente a canadense VRVana, em 2017.

A distância entre a primeira aquisição, há oito anos, e o lançamento do Vision Pro, na semana passada, não deixa dúvidas sobre a estratégia cautelosa de maturação da tecnologia adotada pela companhia.

Apostando na realidade aumentada, o produto não obstrui a visão do usuário e propõe aplicações mais tangíveis à realidade do consumidor final. A promessa é de um dispositivo que consiga mesclar o mundo digital com o físico, mantendo a presencialidade dos usuários no mundo real.

Após a transmissão, na terça-feira (6), as ações da empresa registraram alta de 39% ano a ano na quarta-feira (14), atingindo US$ 183,95. O valor de mercado chegou a US$ 2,89 trilhões, mantendo de longe a posição de empresa e marca mais valiosa do mundo.

Segundo Felipe Coimbra, CEO da Nexus Tecnologia, os óculos ainda são grandes e, devido ao preço de US$ 3,5 mil, por enquanto não terão uso massivo. Mas contêm bons acertos para uma primeira entrada nesse segmento.

“Conforme os óculos vão ficando menores, mais confortáveis e o custo é barateado, o produto deve cair nas graças do público.”

Com esse novo respiro, o Metaverso parece estar mais próximo do que nunca da realidade e sem dúvidas veremos, num futuro próximo, um mundo mais mesclado entre o virtual e o físico.