11/02/2022 - 13:20
Dependendo do humor, Jeff Weiser resolve um dia trabalhar em um café parisiense, outro em uma caverna misteriosa ou do espaço, com vista para a Terra, graças a um capacete de realidade virtual, como milhares de outras pessoas no chamado metaverso.
Esse universo paralelo, acessível através de óculos de realidade aumentada ou virtual (AR ou VR), é ficção científica para a grande maioria da humanidade. Mas o metaverso já existe diariamente para alguns, além de jogadores e entusiastas de tecnologia.
+ Metaverso: disputa da Nike com marketplace dos EUA poderá definir caminhos para registros de NFTs
Como Jeff, o fundador de uma startup de tradução, que trabalha de 25 a 35 horas por semana com um headset Oculus em sua casa em Cincinnati, Ohio.
Para isso, ele utiliza o “Immersed”, um aplicativo de realidade virtual que permite exibir várias telas (computadores, telefones, etc.) no ambiente de sua escolha. “Ficamos mais focados”, explica ele, aludindo às distrações sempre presentes em casa.
“E em termos de ergonomia, é perfeito. As telas estão na altura certa e posso estendê-las facilmente, se necessário”, ressaltou.
Ele aperta o teclado sem vê-lo e fala, aparentemente, no vazio. Mas em seu mundo virtual, ele interage com os avatares de seus colegas (alguns moram na Irlanda e na Argentina) e, às vezes, com estranhos, em modo “público”.
A pandemia impulsionou as tecnologias de teletrabalho, removendo barreiras geográficas, e impulsionando o trabalho em equipes remotas. A Accenture, por exemplo, comprou 60.000 headsets VR para capacitação remota.
Para as startups que atuam nesse nicho, o Santo Graal é replicar a facilidade de interação que existe em um escritório real.
– “Remanência” –
Na plataforma Teamflow, isso se traduz em uma área de trabalho virtual na tela, em formato de tabuleiro de jogo, onde os funcionários movimentam o “peão” que os representa.
Dessa forma, podem “se aproximar” de um colega e, se essa pessoa estiver com o microfone conectado, podem se ouvir imediatamente, sem precisar fazer um telefonema ou escrever uma mensagem.
Mas não há VR, porque “os capacetes não estão prontos no momento”, disse Florent Crivello, fundador deste software. Ele garante que “constrói o metaverso do trabalho”, aplicando o princípio da “remanência”.
“É uma característica essencial do metaverso. Significa que o mundo tem uma existência separada da sua presença no mundo”, explicou.
Por exemplo, os usuários do Teamflow que “escrevem” em um “quadro branco” em uma sala o encontram lá, idêntico, quando retornam no dia seguinte.
Cerca de 1.000 pessoas usam este aplicativo diariamente.
A Immersed, por sua vez, afirma ter dezenas de milhares de seguidores, após um período difícil no final de 2019, quando a empresa praticamente desapareceu.
“Tínhamos chegado ao fundo do poço. Eu disse aos meus sete funcionários, em meio às lágrimas, que eles precisavam encontrar trabalho em outro lugar”, diz Renji Bijoy, seu fundador. “Todo mundo decidiu ficar e codificar de graça”, conta com entusiasmo.
– Deficiência –
Mas as restrições sanitárias reviveram o interesse dos investidores nessa forma de teletrabalho.
E o aplicativo de realidade virtual decolou, como outros, graças ao impulso dado pela Meta (sucessora do Facebook), a gigante das redes sociais que também possui o headset Oculus e recentemente decidiu focar no mundo do metaverso.
“Estamos tentando construir um mundo onde qualquer pessoa possa colocar um par de óculos e sentir que está se teletransportando para seu escritório virtual”, resume Renji Bijoy.
Que falta? Melhorias técnicas, é claro, mas acima de tudo avatares “fotorrealistas” que nos representem como somos graças ao uso de câmeras e sensores, em vez das imagens atuais dos desenhos animados.
“Não estamos tão longe”, diz o chefe.
“Não vai demorar cinco anos, vai ser muito mais rápido”, garante.
Enquanto isso, alguns pioneiros preferem permanecer anônimos, para que esse modo de vida não seja mal interpretado.
Como este designer gráfico de Nova York, que trabalhava seis horas por dia usando seu headset Quest 2 (Oculus), equipado com tiras de melhor qualidade para deixá-lo mais confortável.
Durante a pandemia, “minha produtividade dobrou”, diz. Ele chegou ao ponto de esquecer de fazer suas pausas.
“Exames de rotina mostraram que eu tinha deficiência de vitamina D, certamente exacerbada pelo meu tempo em RV”, conta.
Hoje ele hesita em retomar a modalidade: “Não acho saudável substituir a realidade pela realidade virtual”, diz com firmeza.