11/06/2003 - 7:00
O engenheiro eletrônico André de Paula andava satisfeito com o desempenho do seu fundo de ações do Bank of America. Não tinha motivo para reclamações. A rentabilidade estava acima da média, 13% ao mês. Sentia-se seguro ao entregar o dinheiro para o gestor da aplicação. O funcionário estava sempre disposto a tirar dúvidas sobre os riscos e até a negociar taxas. De repente, a surpresa. O HSBC comprou os negócios do banco americano no Brasil. ?Na mudança perdi o vínculo com as pessoas e fiquei um pouco órfão?, diz.
Em meio a avalanche de vendas, fusões e reestruturações no quadro de funcionários do setor financeiro, a situação vivida por Paula já é quase uma rotina. O banco Fator, por exemplo, adquiriu o
portal de investimentos Investa, do Itaú, com 1, 7 mil clientes e
R$ 130 milhões para administrar. Trouxe, ainda, os 20 mil fregueses
da Patagon, ex-corretora do Lemon Bank. O Bradesco levou R$ 7 bilhões das aplicações do J. P. Morgan no Brasil. O ABN comprou o Sudameris. Essa dança produziu uma indagação: o que fazer quando o gestor vai embora?
Não há uma receita única. Existem cenários diferentes, e o ideal é estudá-los caso a caso. Quando o Fator arrematou a Patagon a estrutura foi mantida. ?Os clientes encontraram tudo igual, apenas o nome mudou?, diz Nicolás Lagomarsino, diretor do Fator. Porém, no caso do Investa, a situação foi outra. Como a compra foi restrita às aplicações, ela impôs a troca de guarda na administração dos investimentos. ?A mudança é o momento ideal para barganhar a redução das taxas ?, diz Alexandre Póvoa, diretor do banco Modal.
Guru. Para evitar problemas, o primeiro passo é saber se os funcionários serão mantidos. Caso a resposta seja negativa, o caminho é colher informações a respeito da equipe. Você terá acesso livre ou será apenas mais um ? Aceita as condições, é hora de certificar-se sobre seus investimentos. A composição da carteira e o controle de risco terão continuidade? ?Se a nova política não agrada, o melhor é resgatar o dinheiro ?, resume Póvoa.
A escolha, evidentemente, é do cliente. Ele precisa autorizar a transferência dos seus recursos, o que pouquíssimas vezes acontece nos EUA. Entre os americanos, a relação com os administradores é tão estreita que gestor e investidor andam juntos quase sempre. Um dos exemplos mais clássicos é o do guru da indústria de fundos Peter Lynch. Depois de trabalhar para os gigantes financeiros, ele montou a sua própria aplicação e construiu um patrimônio de US$ 15 bilhões com seu fiel rebanho. No Brasil, a bandeira do banco ainda fala mais alto, mas a situação começa a mudar. ?O talento do gestor tem pesado na hora da escolha?, diz José Tovar, diretor da Arx Capital. Há dois anos, quando lançou o primeiro fundo da empresa, a Arx reuniu R$ 100 milhões apenas com a adesão dos ex-clientes de Tovar e seu sócio, Carlos Eduardo Ramos. Como um ímã, a dupla carregou uma leva de investidores das instituições onde trabalhavam anteriormente, o J. P. Morgan e o Opportunity.